Fhop Blog

Sobre o autor

Roger Stein

Diante de uma leitura rápida as parábolas parecem simples e de fácil interpretação — mas esta é apenas a primeira impressão e não é totalmente a verdade. Para pastores, mesmo sendo experientes, traduzi-las em sermões é uma grande dificuldade. Já para os estudiosos, ao se dedicarem sobre o tema da interpretação das parábolas, percebem que se encontram no meio de um grande desafio.

Pregar uma parábola é o sonho de pregador novato, mas, com frequência, o pesadelo do pregador experiente. Thomas O. Long

Tipos de interpretação

Duas linhas principais de interpretação surgiram já no fim do século 19: alegorização de cada detalhe de uma parábola e a interpretação da parábola à luz de uma única ideia central. As parábolas de Jesus apresentam uma ideia central para cada personagem principal da história.

A palavra parábola é “parabole” (em grego) – e significa dizer “colocar de lado”. Portanto, nas escrituras, uma parábola compara ou contrasta uma realidade natural com uma verdade espiritual. É assim quando lemos os evangelhos e vemos Jesus dizendo coisas como: “O Reino dos céus é semelhante…” (Mateus 13:24) ou “Com que se parece o Reino de Deus? Com que o compararei?” (Lucas 13:18).

Temos a impressão de ter sido Jesus quem criou as parábolas, mas não, por mais que em grande parte dos seus discursos ele tenha utilizado de parábolas, elas já existiam no Antigo Testamento. Os rabinos já usavam este método de ensino, mas suas parábolas só se assemelham às de Jesus no formato. Os religiosos usavam parábolas para explicar a Lei, os versículos das Escrituras ou uma doutrina, ou seja, para falar de questões que haviam sido estabelecidas, enquanto Cristo utilizava as parábolas para ensinar novas verdades.

Mas por que Jesus fez uso de parábolas?

Uma explicação popular, ainda que equivocada, é que Jesus as usou para que seus seguidores compreendessem as verdades espirituais de forma mais fácil. Porém, afirmar isto não está correto.

E sabemos disso, pois as escrituras nos revelam que os próprios discípulos não entendiam nem mesmo a parábola que fundamentava as demais. Após contar-lhes a parábola do semeador em Marcos 4:2-9, seus discípulos chegaram até ele e, no versículo 10, pediram a interpretação: “Quando ele ficou sozinho, os Doze e os outros que estavam ao seu redor lhe fizeram perguntas acerca das parábolas”. Eles simplesmente não compreendiam o que Jesus lhes falava.

Mas qual o propósito das parábolas, se nem mesmo seus discípulos entendiam?

Haviam duas reações principais das pessoas diante das parábolas de Jesus: a primeira era a rejeição, as pessoas se voltavam contra o ensinamento (Marcos 12:12); “Então começaram a procurar um meio de prendê-lo, pois perceberam que era contra eles que ele havia contado aquela parábola”. A segunda reação era a transformação: as pessoas aprendiam o ensinamento, passando a enxergar que poderiam mudar de vida e seguir Jesus.

Em Marcos 4:12, Jesus diz: “aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.” Possivelmente, isso é acerca das pessoas que demonstraram incredulidade e endureceram o coração perante os ensinamentos. Dessa forma, não conseguem extrair a lição das parábolas, mesmo que as escutem.

As parábolas contadas por Jesus possuem características marcantes: elas mencionavam elementos do cotidiano, como natureza e costumes populares. Jesus também recorria ao suspense, provocando os ouvintes a pensarem nas atitudes dos personagens com antecedência ao relato. Conflitos eram recorrentes em suas narrativas. Assim como uma soma de personagens principais na mesma história, como a parábola do filho pródigo. Algumas parábolas apresentavam alguma vantagem no início, porém, na sequência Jesus demonstrava que existia uma inversão de valores. O mais importante das parábolas de Jesus sempre surgia no final; utilizando-se de perguntas retóricas que usava para confrontar os ouvintes fazendo-os pensar sobre o assunto, seu discurso é direto e sua conclusão é enfática.

Jesus costumeiramente usava de hipérbole

Hipérbole: as histórias que parecem ser situações comuns no início, mas que se revelam algo surpreendente e fora do comum no final. E fazia isto com exagero: como por exemplo, a soma astronômica de dinheiro usada na parábola dos dez mil talentos (Mateus 18:24). Há uma característica muito importante a ser considerada na interpretação das parábolas: elas não possuem muitos detalhes, por isso precisamos manter o princípio de nunca questionar o que a parábola não responde para nos mantermos livres de interpretações erradas. Para tanto, busque sempre pensar no que Jesus quis dizer, não no que as pessoas querem ouvir.

Seguir alguns critérios podem aumentar sua compreensão e auxiliar sua interpretação de forma coerente:
– A primeira delas é buscar a verdade. Não permita que preconceitos interfiram na sua avaliação e comprometam seu resultado;
– Estude o contexto histórico da parábola, considerando a vida social, religiosa, política e geográfica; não deixe de fora a cultura, afinal as parábolas são histórias a respeito de pessoas que viveram em determinado tempo e lugar; analise o texto original (exegese) e não somente qualquer versão traduzida;
– Leve em conta a estrutura literária e gramatical do texto; e nunca perca de vista o foco central que Jesus quis ensinar naquela narrativa.

Por fim, te encorajo a estudar acerca das parábolas de Jesus, pois não existe forma mais estimulante de conhecer a sua teologia sobre o reino dos céus do que examinando sua coleção de parábolas. Cada parábola apresenta um aspecto desse reino. Por vezes Jesus fala do reino como uma realidade presente (parábola do grão de mostarda) e outras como uma realidade futura (a parábola da rede). Algumas parábolas apontam para a pessoa e a obra do rei Jesus (parábola dos lavradores maus); outras expressam a atitude cristã dos súditos do seu reino (bom samaritano; do tesouro e da pérola). Suas histórias expressam verdades acerca do reino dos céus. E muito do seu tempo foi gasto na pregação do evangelho do reino. E, definitivamente, em Sua pessoa e obra, o reino dos céus se manifestou entre os homens.