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O que há por trás das Parábolas Bíblicas

parábolas

“Abrirei minha boca em parábolas; proporei enigmas da antiguidade” (Sl 78:2)
De acordo com os evangelhos cerca de um terço do ensino de Jesus foi por meio de parábolas. Mesmo elas sendo famosas, até hoje, na linguagem popular, são usadas expressões como “bom samaritano” e “filho pródigo”, poucas pessoas sabem porque Jesus contava parábolas.
“Jesus falou todas essas coisas às multidões por meio de parábolas, e nada lhes falava sem parábolas; para que se cumprisse o que havia sido falado pelo profeta: Abrirei a minha boca em parábolas; publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo” (Mt 13:34-35).

Por que Jesus contava parábolas?

Primeiro, é preciso notar que Jesus contava parábolas a fim de cumprir o que fora escrito a respeito dele. Ele veio para cumprir toda a Escritura. Jesus foi obediente até mesmo em relação àquilo que as escrituras apontavam que ele faria. Segundo, as parábolas sinalizavam que os mistérios do reino dos céus não eram dados a qualquer um. Porém, não era a complexidade das parábolas que dificultava as multidões a entenderem os mistérios do reino. O que as impedia era a incredulidade em seus corações que ficava evidente ao ouvirem essas histórias. Jesus fala sobre isso:
“Por isso eu lhes falo [às multidões] por meio de parábolas; porque, vendo, não veem; ouvindo, não ouvem nem entendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, e nunca entendereis; vendo, vereis, e jamais percebereis. Porque o coração deste povo se tornou insensível, e com os ouvidos ouviram de má vontade, e fecharam os olhos para que não vejam, nem ouçam com os ouvidos, nem entendam com o coração, nem se convertam, e eu os cure” (Mt 13:13- 15).
A boa notícia é que Jesus não para por aí e diz:
“Mas bem-aventurados os vossos olhos [dos discípulos], porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem” (Mt 13:16).

Pedindo sabedoria ao Senhor

Jesus tem outra abordagem ao se dirigir aos seus discípulos. Ele diz que abriria os olhos e os ouvidos de seus seguidores para entenderem a mensagem e os mistérios do reino. Esse é o ponto de diferença entre os discípulos e a multidão. Isto é, a multidão ouve as parábolas de Jesus, se fascinam com sua sabedoria, seus sinais e milagres, mas continuam sem entender. Já os discípulos de Cristo ouvem e entendem. Entendem não por que são mais sábios e inteligentes (os primeiros discípulos eram indoutos e pessoas bem simples), mas porque eles se achegavam ao Mestre para que seus olhos e ouvidos fossem abertos.
“E não lhes ensinava [às multidões] sem usar parábolas, mas explicava tudo a seus discípulos em particular” (Mc 4:34).
A melhor forma de começarmos a entender as parábolas, os mistérios do reino, e toda a Palavra de Deus é nos achegando a Cristo com uma oração: “Abre meus olhos, meus ouvidos e cure meu coração para receber tua palavra.” É a dependência dEle que é a porta de entrada para entender sua palavra.

Como entender o significado das parábolas?

Diante disso, como podemos interpretar hoje as parábolas que Jesus contou há tantos anos atrás? Eis algumas sugestões:
– Seja humilde diante de Deus. As parábolas são a Palavra de Deus, portanto se achegue a elas com oração, temor e dependência do Espírito Santo;
– Seja humilde diante do povo de Deus. A igreja é o povo de Deus espalhado por todas as nações em todas as eras. Antes de nós, muitos cristãos mais piedosos (e também mais inteligentes) estudaram as parábolas. Eles cometeram acertos e erros que ao decorrer dos séculos foram se aperfeiçoando na maneira de interpretação. É completa
arrogância nossa, achar que podemos, por nós mesmos, chegar a entender tudo. O cristianismo é uma fé coletiva e não individualista;
– Preste atenção nas explicações do próprio Jesus. Em muitas parábolas o próprio Jesus traz a interpretação e a explicação aos seus discípulos;
– Não hesite em consultar comentários bíblicos. A não ser que você seja algum erudito em grego e hebraico, pode ser uma boa ideia consultar boas bibliografias elaboradas por cristãos que dedicaram alguns anos de suas vidas estudando esses textos;
– Gaste tempo nas aplicações coloque-as em prática.
A Bíblia deve ser entendida para ser obedecida. Lembre-se que na própria parábola do semeador (Mt 13) a boa semente está relacionada com aquele que ouve e as põe em prática.

A função da música no ensino da Igreja

Aquilo que a Igreja crê, muitas vezes, pode ser percebido através das suas canções. É interessante analisar aquilo que é cantado para perceber qual o seu entendimento a respeito de quem Deus é,  e de quem ela é diante Dele e a posição que ela ocupa no Reino. Uma igreja saudável conhece e crê na verdade das Escrituras. E assim, faz sentido que uma igreja saudável cante as Escrituras e transpareça sua esperança em forma de
canções.
Nada substitui a pregação expositiva da Palavra e não devemos diminuir a sua importância. Ainda assim é interessante notar a capacidade que a música tem de permanecer na nossa mente e por muito mais tempo do que as palavras de um sermão, por exemplo.
Quando percebemos essa realidade começamos a entender a importância de não apenas pregar. Mas cantar corretamente a respeito das verdades eternas das Escrituras, já que a música nos é dada também como uma ferramenta para doutrina do povo de Deus.

O aspecto escatológico das parábolas

Enquanto entendemos o tempo em que vivemos, somos lembrados de que a Igreja que espera pelo retorno de Jesus será preparada como uma Noiva e junto com o Espírito clamará pelo Seu retorno.
Com esse entendimento podemos notar o aspecto escatológico das parábolas contadas por Jesus. E então compreender a importância de interpretar corretamente aquilo que Ele desejava ensinar. A maioria das parábolas de Jesus foram contadas aos judeus, utilizando elementos do cotidiano e da cultura judaica nas histórias. Esse recurso não era algo novo ou exclusivo de Jesus, os próprios rabinos também utilizavam parábolas para o ensino.
Esse recurso utilizado pelos rabinos é conhecido como mashal. Seu registro pode ser encontrado na mishná, uma das principais obras que registra de forma escrita a tradição oral da interpretação.
As parábolas de Jesus utilizam a perspectiva e os conhecimentos culturais daqueles que ouviam para o ensino de uma mensagem mais profunda, que deve ser interpretada por quem as ouve. Então, ainda que para nossa perspectiva atual possa parecer algo místico, com muitos significados enigmáticos, a realidade é que apenas é necessário levar em consideração o contexto e o povo a quem essas parábolas foram contadas.
Ao contar a parábola das dez virgens ou das bodas, por exemplo, Ele se utiliza de elementos cotidianos da cultura do casamento para aqueles que lhe ouviam e aponta para si mesmo como o Noivo, como o Redentor escatológico por quem eles aguardavam.
Jesus fala a respeito do Reino e, através dessas pequenas narrativas fictícias, faz um convite à interpretação embora muitas vezes ao final da narrativa Ele esclareça a lição da parábola. De diferentes formas Ele retoma o cumprimento da Promessa aguardada pelos judeus e aponta para Si mesmo como a Esperança pela qual povo de Deus ansiava.

E quanto a nós, hoje?

É fascinante podermos hoje olhar para o conjunto de parábolas e perceber como o próprio Cristo anunciou o Seu reino entre os homens e ensinou sobre aquilo que devemos aguardar. Que belo quadro escatológico é pintado pelo Salvador. Ainda antes de Sua obra redentora na cruz, revelando a verdade eterna e o cumprimento das profecias em Si mesmo.
Entretanto, parece que esse quadro foi enxergado por quem O ouvia, (conforme Mc. 4:12 e Mt. 13:10-15) cumprindo-se neles a profecia de Is. 6:9-10. Mesmo os discípulos frequentemente precisavam que o Mestre lhes ajudasse a compreender.
Através das parábolas, o próprio Rei ensina sobre os valores do Seu Reino, e instrui a respeito de como aguardar pelo Seu Reino. Isso é o que vemos, por exemplo, através da parábola das Dez Virgens, dos talentos e da parábola das Bodas. Jesus fala sobre o Reino como uma realidade presente, já inaugurada com a Sua encarnação. Mas ainda como uma realidade futura, que entendemos que será consumada e estabelecida no Seu retorno, e
pela qual devemos aguardar preparados e vigilantes.

As parábolas ensinam sobre Esperança

Cantamos as parábolas porque elas instruem sobre a Esperança que sustenta os nossos corações.  A chegada do Noivo, o retorno do Rei, a Grande Colheita do Semeador. O encontro no regresso à casa do Pai, o encontro com o Bom Pastor, o julgamento diante do Justo Juiz, a sentença paga pelo nosso Resgatador e Libertador. Essas e tantas outras narrativas revelavam aos judeus a já presente realidade daquilo que seus pais aguardavam. E hoje elas apontam para a nossa esperança, incendeiam o nosso coração em amor por Aquele que prometeu e é fiel para consumar a promessa.
É um privilégio poder ler e buscar compreender a teologia do próprio Cristo a respeito do Reino através das parábolas. Maior privilégio ainda é poder ter essas verdades enraizadas em nossos corações através de canções que gravam, em melodia, a riqueza do conhecimento de Deus.

No mundo moderno o uso da linguagem tem sido expressado de forma cada vez mais criativa. Pode-se entender que linguagem é um fenômeno humano e, por conseguinte, está intrinsecamente relacionada com práticas sociais. Mesmo em uma era de complexa informação o ser humano permanece usando a linguagem verbal como forma principal de se expressar, ora de forma direta, ou de maneira indireta.

Observando o texto sagrado podemos perceber o uso de parábolas tanto no Velho como no Novo Testamento. É uma forma literária que devemos ter cuidado na sua interpretação como narrativa histórica, ou na excessiva espiritualização de cada elemento determinado pela parábola. 

As parábolas escatológicas

Existem diversos tipos de parábolas nos evangelhos. Neste momento o foco está sobre as parábolas escatológicas ou parábolas preparatórias. Destas, temos 7 nos evangelhos.  Antes da análise das mesmas é preciso ser traçado um esboço mínimo da expectativa de Jesus ao comunicar seu método didático-pedagógico peculiar. As narrativas feitas por Jesus, utilizando as parábolas escatológicas, têm como “background pessoal” a certeza de um Juízo sobre os seus contemporâneos, sua morte, sua ressurreição e posteriormente a vinda do Filho do Homem em glória para trazer a salvação e o Juízo Final. 

No capítulo 16 de Mateus, Jesus fala que seria necessário sua morte e sua ressurreição. Em Mateus capítulo 20, Ele prediz novamente a sua morte e sua ressurreição. E a partir disso, pressupõe-se o entendimento de que Jesus tinha a sapiência de todo o plano Divino e dos estágios anteriores e vindouros. Essa informação é importante, pois seria necessário seu conhecimento para que as parábolas escatológicas ou preparatórias tivessem êxito em seu propósito.

Dito isso, a leitura das parábolas de modo algum podem ser interpretadas como mito, lenda ou fábula. Também não é apropriado identificá-las como histórias reais, ainda que apresentem aspectos cotidianos terrenos da vida do ouvinte. A parábola é o meio de transmitir uma mensagem, mas não é, geralmente, a mensagem em si. 

 A Parábola da vinda do filho do homem 

O registro desta parábola aparece nos 3 evangelhos: Mateus 24:32-44, Marcos 13:28-37 e Lucas 21:29-36. O texto é exposto dentro de um contexto escatológico, no qual, de forma didática, Jesus sinaliza aos discípulos os sinais do fim dos tempos e da sua vinda.

Jesus tinha acabado de ter um embate teológico com os escribas e fariseus no templo.  Ele havia denunciado a negligência deles no cumprimento da lei e como eles influenciavam o povo de forma negativa levando os mesmos a pecarem contra o Eterno. Além de não reconhecerem Jesus como o Messias, atitude que era fruto de uma religiosidade vazia. Após o embate, Jesus e seus discípulos se retiraram do Templo.

Então, Jesus aproveita para ensinar os seus que a corrupção religiosa era tão grande em Israel que até o templo, que naquele momento recebia a admiração dos discípulos, iria sucumbir.  Isso gerou questionamento entre eles com a afirmação do mestre – este é um recurso, como um gatilho, que Jesus usa para chamar a atenção dos seus discípulos para falar sobre o futuro.

Para onde vocês estão olhando?

Depois de ter dito aos seus discípulos que a estrutura suntuosa do templo iria ruir, e de ter aguçado a curiosidade dos seus seguidores, Jesus começa sua narrativa escatológica que está contida em Mateus 24:3. 

E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? Mateus 24:3

Ali ele chama a atenção dos seus discípulos sobre a necessidade de não se permitirem serem enganados. Ora, se o mestre diz que existe a necessidade de estarem atentos para não serem enganados, é porque o engano era algo possível.  Prova é que, mesmo depois de um embate teológico com os mestres da lei registrado em Mateus 25, os discípulos ainda mantinham um olhar romântico acerca do sistema litúrgico da época. E, apesar de serem testemunhas oculares da mensagem do Cristo, ainda tinham o entendimento obscurecido. 

Princípio das dores

No decorrer de Mateus 24:5-7, Jesus vai pontuando acontecimentos que precederiam a vinda do Filho do Homem: falsos messias, guerras e rumores de guerra, fome, pandemias e terremotos. No verso 8, do mesmo capítulo, o Mestre dá uma pausa no relato dos acontecimentos e foca em informar seus discípulos que quando estes episódios narrados, neste mesmo capítulo, ocorrerem simultaneamente em escala global, então seria o início das dores.

A narrativa segue e aparece a informação de que os cristãos seriam perseguidos, presos, torturados, mortos e odiados em todas as nações – importante registrar que isso ainda é uma realidade em algumas nações… Jesus então sinaliza que neste período de perseguição global e apostasia aconteceria juntamente com traição e ódio.

Dando continuidade ao seu discurso ele sinaliza que se levantarão influenciadores que enganarão a muitos, o amor também será escasso e a maldade abundante: uma narrativa perturbadora que é apascentada pela promessa de que aquele que for fiel até o fim será salvo (Mateus 24:9-13).

Um funil de catástrofes 

Mateus 24 é um funil de acontecimentos catastróficos que devem ser entendidos de maneira progressiva e gradativa: à medida que se aproxima a vinda do Messias as dores aumentam em intensidade e em quantidade. Isolar o relato e tentar encaixá-lo em acontecimentos no mundo acarretam em interpretações erradas. Assim como falso discernimento da realidade escatológica, pode levar a histeria coletiva, descrédito ao texto escatológico e produção de material que não está alinhado com o verdadeiro significado proposto pelo autor bíblico.

Como Jesus resolve a problemática da interpretação errada?

Jesus propõe a parábola da figueira para ensinar os discípulos a identificar os fatos descritos de Mateus 24:5-32, evitando assim falhas de percepção dos eventos vindouros. 

O povo hebreu já havia vivenciado, em certa medida, alguns acontecimentos narrados por Jesus. Falsos salvadores, guerra, fome, crises econômicas e etc – por isso, a necessidade de uma técnica didática mais apropriada. 

A parábola da figueira precede mais outras 3 parábolas escatológicas presentes nos capítulos 24 a 25 de Mateus. Um destaque em Mateus 24:32 é o “Aprendei”. O próprio autor da parábola indica que é possível saber pontuar no tempo o início dos fatos precedentes à vinda do Filho do Homem. Os textos sagrados, de Gênesis a Apocalipse, não trazem a informação de tempo – “cronos”, dia e hora – porém eles revelam acontecimentos prévios, dando ao cristão diligente, a possibilidade da espera segura à era do advento final.

Figueira: uma árvore ou Israel 

Como já foi dito, a parábola usa de elementos comuns, conhecidos pelo público, para melhor assimilação da mensagem. Dentro do contexto de Mateus 24 identificar a figueira como uma árvore literal, de farta abundância em Israel, é mais coerente na hermenêutica do que aplicar simbologias fundamentadas em conjecturas pessoais na passagem. Aqui, a figueira é usada como exemplo para pontuar uma mudança de estação. Ajudando assim os discípulos a discernirem que os eventos relatados são como a troca das folhas da figueira. Os eventos predizem a troca de era, são o prelúdio do Dia do Senhor. 

Existe a interpretação de que a figueira é uma ilustração de Israel e do judaísmo. Elas usam dos acontecimentos de 1947, onde Israel volta a ser uma nação novamente, para explicar o brotar e o renovo das folhas da figueira. Em conexão a isso, surgiram diferentes interpretações de que a “geração” que foi testemunha do ressurgimento do Estado de Israel, seria a geração que testemunharia do advento final de Cristo. Neste sentido, alguns exegetas fundamentaram suas observações com cálculos matemáticos para confirmarem suas interpretações. Um destes cálculos define uma geração com o tempo de quarenta anos e marcaram a vinda de Jesus para o ano de 1988. Como Jesus não veio nessa data, reformularam o cálculo alegando que uma geração deve ter 70 anos. O ano de 1948 somando a 70 anos é igual a 2018, e hoje em 2020 percebemos que o cálculo não deu certo de novo.

Menos é mais

O objetivo de Jesus, no uso da parábola da figueira, era facilitar o entendimento e não complicar. Entender o contexto e o público para a qual esta parábola foi direcionada é o segredo para a compreensão da mesma. Em Mateus 24:36, Jesus é enfático em dizer que o dia e hora do retorno do Filho do Homem não serão possíveis de saber antecipadamente. Direcionando o entendimento dos discípulos mais uma vez aos eventos e não a segredos subliminares da parábola. 

“Por isso vigiai, pois não sabeis em que dia o vosso Senhor vem”, isso ainda é válido para os cristãos nos dias de hoje. O compêndio bíblico nos dá informação suficiente para estarmos prontos para o dia do Senhor. Aquele que será pego desprevenido é o mesmo que não guardou a palavra do Senhor em seu coração. Quando o texto bíblico adverte que o Dia do Senhor será como a chegada de um ladrão à meia noite, tem como alvo aqueles que não se atentam para as parábolas, como a de Mateus 24. A simplicidade da literalidade do texto vale mais do que a elaborada interpretação escatológica fundamentada em mística e conjectura.

Uma figueira nos dias de hoje

O Senhor voltará para uma noiva acordada, que reconhecerá sua voz. Que observará nos eventos contemporâneos o perfume do seu amado, que fica mais forte à medida que ele se aproxima. Karl Barth, renomado teólogo suíço, dizia que o cristão deve carregar em uma das mãos a Bíblia e na outra o jornal. Para que, com sabedoria e sem medo, possa olhar para o hoje confiante de que haverá um amanhã. A parábola da figueira não tem como intuito amedrontar, mas trazer a certeza de que, no final, tudo irá dar certo.

Além disso, a parábola não deve estar sinalizando os tempos somente no texto bíblico. Mas, deve estar plantada no coração da noiva de Cristo, apontando, no hoje, o que o Eterno está preparando para o amanhã. 

As parábolas bíblicas já são bem familiares para os cristãos e nem precisa ser um há muito tempo para se deparar com elas principalmente ao ler os evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas. Pois ali é possível encontrar várias parábolas ensinadas por Jesus sobre diferentes temas, objetos e personagens.

Mas seria uma parábola somente uma metáfora para facilitar a compreensão das mentes humildes sobre verdades eternas?

Ao decorrer dos séculos estudiosos foram conceituando as parábolas como um melhor método de ensino do que o próprio sermão, trazendo a ideia de que a forma padrão de exposição das verdades bíblicas deveria ser sempre narrativa, ou seja, sempre uma história contada, afinal foi o que Jesus fez. Porém, o lugar de ensino, exposição e exortação é através de uma pregação bíblica, logo um não anula o outro.

É natural entre os estudiosos da bíblia a dificuldade de se definir uma parábola dentro de um gênero literário específico ou apresentar uma definição que se aplique a todas elas em suas variações.

Dificuldade presente para apresentar uma definição e exemplo de reducionismo

A primeiro momento pensamos nas parábolas como histórias. Vejamos um comentário bem interessante de distinção que John MacArthur faz entre uma parábola e uma história em seu livro sobre as parábolas de Jesus:

“..existe uma diferença clara e significativa entre parábola (uma história criada por Jesus para ilustrar um preceito, uma proposição ou um princípio) e história (uma crônica de eventos que de fato aconteceram). A parábola ajuda a explicar uma verdade; a história nos fornece um relato factual daquilo que aconteceu. Apesar de a história ser contada em forma narrativa, ela não é ficção ilustrativa, mas realidade.”

Partindo desse ponto sabemos que dificilmente ao ler uma definição de parábola ela acabará por ser verdade para todos os casos. Por esse motivo é recomendável que cada parábola seja abordada de modo singular e não em comparação com todas as demais existentes.

Muitas pessoas veem as parábolas como simples histórias terrenas com significados celestiais, apesar de existir um pouco de verdade sobre essa afirmação, ela não é suficiente para definir todas as parábolas, já que muitas são muito mais que ilustrações, e embora algumas tratem de escatologia, não estão falando apenas da vida futura mas sim sobre a vida nessa era. Essa redução que se faz de uma parábola bíblica a uma simples história é definida como um reducionismo.

Diversas definições ineficazes

Infelizmente quase todas as definições de parábola se mostram ineficazes, pois quase toda definição que se mostra ampla para abranger todas as parábolas, acaba por se mostrar imprecisa. Algumas conhecidas são, “A parábola é uma criação literária na forma de narrativa desenvolvida para retratar uma espécie de caráter por advertência ou exemplo, ou para encarnar um princípio do governo de Deus para com este mundo e com os homens”.

Sim, as parábolas falam de Deus e da humanidade, mas nem todas elas são narrativas. “No nível mais básico, a parábola é uma metáfora ou imagem tirada da natureza ou da vida comum que prende o ouvinte pelo seu caráter vivo ou esquisito, que deixa a mente com um nível suficiente de dúvida acerca da sua aplicação precisa a ponto de lhe lançar pensamentos ativos”.

Uma parábola é muito maior que uma metáfora ou imagem. E apesar de para alguns textos ela ser útil, para outros ela se mostrará inútil. Outra definição de parábola é “a conjunção de uma forma narrativa com um processo metafórico”. Como já foi escrito antes essa definição pode se mostrar útil para alguns textos, mas para outros não, devido a abrangência de variedades e aplicações que são abordados por Jesus em cada contexto que ele ensina através de parábolas.

Fatores contra

Uma parábola não é simplesmente uma analogia. É uma metáfora prolongada com uma lição espiritual específica contida na analogia. Mas, apresentar uma definição técnica que se aplique a todas as parábolas de Jesus é notoriamente difícil. Um dos fatores que dificultam a definição é a variedades de parábolas.

Em Mateus 15:15, por exemplo, Pedro pede que Jesus explique “esta parábola” presente no versículo 11 “O que torna o homem impuro não é o que entra pela boca, mas o que sai dela; é isso que o torna impuro”, mas na verdade o que está presente nesse versículo é simplesmente um par de proposições simples, algo como um provérbio, mesmo assim trata-se de uma parábola. Além do problema por causa das várias parábolas ocorre também o problema decorrente da tradução.

Em Lucas 4:23, por exemplo. “Jesus lhes disse: “É claro que vocês me aceitaram este provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo!’ Faze aqui em tua terra o que ouvimos que fizeste em Cafarnaum”. No texto grego a palavra que é usada para se referir a provérbio é parabolē, palavra que é traduzida normalmente como parábola. Ao ver isso fica aparente que a ideia bíblica de parábola é mais abrangente que as definições sugeridas pelos comentaristas, e essa é a razão pela qual é difícil chegar a um número exato de parábolas.

Etimologia da palavra Parábola

A palavra grega traduzida como “parábola” nos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) é parabolē e é usada cinquenta vezes em 48 versículos do Novo Testamento. Duas vezes, a palavra é usada em Hebreus para indicar uma fala figurativa: “[O primeiro tabernáculo] é uma ilustração [parabolē] para os nossos dias” (9:9) e “Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar [Isaque]; e, figuradamente [parabolē], recebeu Isaque de volta dentre os mortos” (11:19). Todas as outras 48 ocorrências do termo no Novo Testamento se encontram nos Evangelhos sinóticos, nos quais a palavra é traduzida sempre como “parábola” ou “parábolas”, sempre se referindo às histórias de Jesus.

A palavra deriva das raízes gregas: para (“ao lado”) e ballō (“lançar”). Literalmente, significa “colocar ao lado”, sugerindo uma comparação entre duas coisas que são semelhantes em algum aspecto. A derivação da palavra parábola, portanto, se refere à analogia entre algum lugar comum da realidade e uma verdade espiritual profunda.
  

O objetivo das Parábolas

As parábolas são como lentes que ao ver através delas nos é possível enxergar a verdade para assim conseguirmos corrigir aquilo que outrora não era possível. O objetivo imediato de uma parábola é ser algo bastante atraente para assim chamar a atenção do leitor, seu objetivo final é despertar uma compreensão mais aprofundada sobre ela e assim estimular o leitor a uma mudança de ação. As parábolas bíblicas revelam o caráter de Deus e a sua maneira de agir. Revelam também como a sua criação deve agir.

As parábolas não simples histórias informativas. Elas capturam a atenção do leitor, provocam a reflexão e geram a mudança, elas buscam voltar as pessoas para atitudes dignas do evangelho e exigidas no Reino de Deus. Elas não ensinam passividade, mas nos instigam a fazer algo, buscam uma resposta radical das pessoas para serem imitadores de Cristo. 

Conclusão

Portando, uma parábola não é simplesmente uma analogia. Uma parábola é uma figura de linguagem ilustrativa com fins de comparação e tem como fim ensinar uma lição espiritual. Ela pode ser grande ou pequena. Podem ocorrer diversos tipos de figuras de linguagem, metáforas, provérbios, entre outros. Mas ele sempre faz uma comparação de algo comum a realidade a alguma verdade espiritual mais profunda.

A parábola pode estender a comparação e a transformar em uma história mais longa. Ou em uma metáfora mais complexa, e o significado (sempre alguma verdade espiritual) não é necessariamente óbvio. A maioria das parábolas de Jesus exigia algum tipo de explicação.