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Sobre o autor

Gabriella Conde

Um convite a fraqueza

Não sei como você chegou nesse texto, confesso que o título não é nada atrativo. Afinal, quem convida alguém a fraqueza? E quem em sã consciência aceitaria? É um convite radical direcionado a corações apaixonados. Vamos falar sobre o jejum e um dos efeitos dele sobre nós: fraqueza

Se você já aceitou o desafio de fazer um jejum alguma vez na vida, você já deve saber que o jejum é como uma prensa, ele extrai de nós o que temos para ser extraído. É desconfortável e por vezes agoniante. 

Desejos não concedidos são barulhentos

Um dos chamados intrínsecos no chamado ao jejum é o convite a abraçar fraqueza voluntária.  Quando intencionalmente nos abstemos de prazer, conforto ou necessidades humanas básicas, como a comida ou entretenimento, podemos ver saindo de nós várias respostas. Literalmente não deixamos de alimentar e fortalecer quem normalmente tem a voz de comando na nossa vida e isso tem um efeito colateral.

Somos seres nascidos e criados para prazer. Somos formados por desejos. Não percebemos muito isso até que esses desejos não sejam supridos. Quando suas vontades são negadas eles como crianças birrentas, fazem escândalo querendo serem obedecidos a qualquer custo.

Mike Bickle fala que “Uma das primeiras coisas que descobriremos quando nos entregarmos ao jejum e à oração, e ao silenciar a carne é que nosso clamor interno é mais escandaloso do que imaginávamos. Nada revela o quanto nossos desejos e anseios são barulhentos até eles terem seus apelos negados.” (As Recompensas do Jejum, pg. 75)

Esse barulho nos denúncia: não somos tão fortes ou espirituais como achávamos, somos fracos e necessitados de misericórdia urgente. Por incrível que pareça na constituição do reino de Deus isso é uma coisa positiva e boa para nós. 

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. – Mateus 5:3,4

Por que eu abraçaria a fraqueza? 

Essa resposta é simples: porque Jesus abraçou a fraqueza! Vamos lembrar das palavras de instrução de Paulo em Filipenses 2:

Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz.  Filipenses 2:5-8

O jejum é um dos métodos pedagógicos de Deus para doutrinar nosso corpo, mente e coração a escolher e buscar o que realmente importa, o que realmente é necessário. É como bradar ao Senhor, mesmo em dor e agonia da nossa carne: “- Deus, você é a coisa mais importante, posso viver sem comida, sem prazeres, sem conforto, mas não posso viver sem você!”. E pregar para a própria alma: “- Oh minh’alma, deleite-se no Senhor, todo seu anseio é pelo seu Criador. Você será suprida, Ele é suficiente”.

Catalizador de santificação 

A exposição a fraqueza do jejum vai nos deixar mais conscientes de como ainda somos carnais, idólatras, egocêntricos e egoístas. Nosso único escape nesse cenário é correr para Deus, que por outro lado está abastecido de graça abundante e pronta para ser liberada em nossa direção. Graça essa que vem com favor para viver de maneira digna do chamado e pulsantes no primeiro e maior mandamento: amar ao Senhor com todo coração, alma, força e entendimento. A consciência pode ser encaminhada ao arrependimento e logo a transformação.

Alinha os afetos – “teu amor é melhor que o vinho”

O jejum vai fazer a carne perder forças, ser desmascarada e morrer. Ao mesmo tempo que seu homem interior será fortalecido e abastecido com a verdadeira comida, seus afetos e desejos serão reconduzidos e reeducados. Ou seja, o prazer em Deus aumenta. 

Chegaremos cada vez mais à percepção de que “o seu amor é melhor que o vinho” (Cantares 1:2). Essa declaração não diz só que Deus é melhor que o pecado, mas que ele também é melhor que os prazeres lícitos. Nossos amores serão realinhados a viver a premissa que Deus é melhor que a mentira, inveja, imoralidade e drogas. Mas também aprenderá que Deus é melhor que comida gostosa, um bom casamento, amor dos filhos, sucesso no emprego, ministério ungido. 

A dinâmica do reino é confusa e de cabeça para baixo para nós, porém é completamente o tipo de vida que fomos criados para ser e funcionar, ainda que o pecado nos puxe ao contrário. Minha oração por nós é que o anseio pela intimidade e conexão com Deus nos faça como Maria de Betânia, João Batista, Daniel e Paulo que escolheram a sua coisa mais importante que organiza nossas prioridades e anseios. Abraçando a fraqueza foram fortes em Deus.

Lembro de quando era criança assistir procissões de páscoa da igreja católica que tinha perto da casa da minha avó, ficávamos na esquina por onde a aglomeração passaria, ansiosa de ver detalhes e símbolos que não via diariamente. Minha vó acendia velas, ficava com o terço nas mãos e enquanto a multidão passava ficava ajoelhada em reverência. Eu amava assistir,  porque sempre aconteciam encenações da crucificação. Mas lembro também de ver pessoas pagando promessas, até mesmo se autoflagelando. Aquela imagem na minha cabeça, por mais estranha que parecesse, parecia ter algo haver com a encenação do homem crucificado. 

O CAMINHO DE ARREPENDIMENTO

Visto que a páscoa está se aproximando um desconfortável sentimento sobe ao nosso coração, é o que a imagem da cruz desperta em nós, a vaga e inconveniente consciência de que somos pecadores. Houve um período da igreja em que um dos motivos da quaresma era ser período de penitência, muitas vezes usada como um forma de pagar pelos seus pecados cometidos, ou provar que realmente estavam arrependidas. 

Então, por que em 2022 estamos falando semanas inteiras sobre Quaresma? Por que observar nossa condição de pecadores se a obra de Jesus já foi feita? Como fazer isso de maneira correta? O que isso acrescenta no meu cristianismo?

UMA CONSCIÊNCIA FRUTIFERA SOBRE O PECADO 

A Quaresma carrega um chamado à consciência do pecado, sim, mas não dessa maneira como alguns entenderam a penitência. Um pressuposto e um objetivo devem estar destacados em nossa mentalidade:

O pressuposto é:  Não há nada que possamos fazer que possa acrescentar algo na obra da cruz, Jesus é o sacrifício perfeito. Não precisamos da cruz e de mais um sacrifício para Deus nos perdoar. Jesus é suficiente!

O objetivo: O chamado à consciência do pecado serve para causar o contraste, contrição, espanto e resulte em adoração e esperança

COMO LIDAMOS COM O NOSSO PECADO

Existem dois pólos complicados que caímos quando falamos sobre nosso pecado e tentamos lidar com ele. Primeiro, quando vemos e temos consciência do pecado, mas achamos que precisamos fazer algo para receber perdão.  Ou, quando acreditamos que precisamos acrescentar algo do nosso lado a obra da cruz para ela ser completa. Normalmente nessa situação pensar sobre o pecado causa muita culpa e sensação de rejeição de Deus. Nos afastamos por achar que somos o pior dos pecadores e Deus não nos tolera mais. É uma abordagem vazia de entendimento sobre a graça. Muitas vezes tendendo a um legalismo, sendo rígido com a performance, mas o coração não é transformado, como os fariseus. 

 O segundo pólo, é lidar com graça autoaplicada. Ou seja, sei que sou pecador e  Deus vai me perdoar, então os meus pecados não são confrontados. Eles são apenas acolhidos e tratados com brandura. Dietrich Bonhoeffer chamaria de graça barata, que é esvaziada de valor correto a Cristo e igualmente vazia de poder de santificação. Não serve para nada. É um “cristianismo” que conheço meu pecado e recebo a graça, no entanto, acredito que isso me dá licença para continuar em pecado.

Todavia, o  evangelho vem com o prumo perfeito para nos alinhar. Existe um paradoxo que o cristão sincero vai encontrar: somos piores do que imaginamos, porém mais amados do que podemos pensar. 

CONTRASTE, CONTRIÇÃO,  ADORAÇÃO E ESPERANÇA

Contraste, contrição, adoração e esperança – esse é o caminho glorioso de preparação para a Páscoa. Vamos seguir um caminho das bem-aventuranças que o Senhor deu aos discípulos no Sermão do Monte.

“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.” Mateus 5:3-6

Contraste 

É perceber o seu pecado. Mateus 5 chama de felizes os que sabem que nada têm e feliz os que conhecem sua condição. Quando falamos de observar nossa condição, o objetivo não é exaltar o pecado e o mau, mas apontar para o Deus Santo e o que Ele fez para nos salvar. Imagine você lado a lado com Deus, que tipo de sensação e pensamento isso te desperta? 

Tomar consciência sobre nosso pecado precisa ser algo feito usando o caráter de Deus como lente. Não é frutífero comparar meu pecado com o do meu irmão. Mas quando fazemos essa comparação em relação ao caráter de Deus mostrado nas Escrituras ficamos chocados. É disso que se trata a pobreza do Espírito – consciência da nossa condição diante de Deus. Quanto mais lúcido estivermos sobre Deus, mais sujo e repulsivo o pecado se tornará para nós.

O pastor puritano Thomas Watson disse, “Enquanto o pecado não for amargo, Cristo não será doce.”

Contrição 

Estando consciente da nossa condição somos levados ao lamento e ao quebrantamento. A natureza e nós gememos (Rm 8:22-23), porque ainda não somos o que haveremos de ser. Choramos como Paulo em Romanos 7:24 “miserável homem que sou, quem me livrará?”. Assim a  santificação não chegou ao fim, até lá, temos em nós caminhos que ofendem a santidade de Deus. E isso é digno de lamento. Porém, lembre-se: a recompensa aos que choram é consolação.

É nesse estágio o momento para o arrependimento, que a páscoa convida. Essa é a hora de chamarmos pecado de pecado, darmos seus respectivos nomes a eles, confessarmos e nos humilharmos diante de Deus. Cabe aqui fazer uma diferenciação, arrependimento e lamento não é autocomiseração. Por vezes, estacionamos no lugar de comiseração e vitimismo, chorando um choro infrutífero. Uma imagem que tipifica bem isso é o “lamber a ferida” em vez de tratá-la. 

Apenas o arrependimento nos coloca cara a cara com a possibilidade de redenção, ele nos coloca prontos a usufruir da graça que vai nos limpar e santificar. Essa graça é poderosa para atacar e consumir o nosso pecado.

Faço uma pausa da leitura agora para te encorajar a algo. Especialmente nessa preparação para a páscoa que tal convidar o Espírito Santo para sondar o seu coração e ver se não há pecados bem acomodados e carentes de confronto. Traga a luz, por mais assustador que seja para você, Cristo tem a resposta eficaz. O arrependimento vai nos fazer cair na graça redentora de Cristo. 

Adoração e Esperança 

Portanto, ao nos arrependermos o nosso coração será movido por doce adoração, agora de um lugar de humildade – sabendo exatamente quem somos. A alegria da salvação saltará no coração que acabou de receber perdão. 

Na trilha do arrependimento encontramos a capacidade de promover adoração genuína. Humildade é caminhar no conhecimento de quem você é, nem abaixo e nem acima. Estar diante de Deus nos coloca no nosso lugar, o coração humilde adora, e os humildes habitarão com Deus. (Mt 5:4) 

Por último, um despertar pode e deve acontecer, tirando os olhos de nós mesmos para olhar  à nossa volta e vermos que as coisas não estão bem sem Jesus. O mundo precisa de um salvador. Fome e sede de justiça, anseio que Cristo faça com que as coisas se tornem o que deveriam ser. Esse é também um clamor pelo retorno de Jesus a terra, quando ele voltar “o imperfeito será vestido de perfeição” (1Co 13:10). 

PÁSCOA

Assim, o domingo de páscoa vai nos trazer “à memória aquilo que nos dá esperança”: ressurreição. Esse é o fim da história. É a fome e sede por justiça sendo saciada (Mt 5:6). E essa é a nossa esperança. Então, quando lembrarmos do nosso pecado, lamentarmos e nos arrependermos temos uma esperança forte que ainda não somos o que haveremos de ser um dia, do outro lado da ressurreição o desejo eterno do Pai será cumprido: seremos a imagem de Cristo.

Em resumo deixo as palavras de Paulo em Tito 2:11-14

Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras.

 

O que vem a sua mente quando você lê a palavra adoração no título desse texto? Músicas cristãs, um momento da liturgia do culto, práticas de vida cristã, enfim, inúmeras coisas remetem à adoração. Mas hoje quero ressaltar um aspecto da adoração, que talvez pouco lembramos. O seu papel em nossa santificação. Grave esse princípio: você se torna semelhante ao que adora.

O QUE É SANTIFICAÇÃO?

Deixe-me tirar algumas linhas para definirmos a santificação. A vida cristã se inicia na salvação – somos convencidos da necessidade de uma salvador e temos os olhos abertos para a verdade que Cristo é quem pode nos salvar. Logo em seguida somos justificados, esse é o momento que a obra da cruz paga o escrito de dívida que tínhamos com Deus e somos aceitos por Ele  na perspectiva do que nos tornaremos. A santificação é o meio do processo da jornada cristã, a maior parte do que conhecemos, enquanto estamos nessa terra e nesse corpo lutamos com a incompletude da obra. Mas sabemos que ela será completa quando finalmente formos glorificados (Fl 1:6).

De maneira rápida a santificação é o processo de nos tornarmos o que fomos criados para ser – segundo o apóstolo Paulo em Romanos: Deus […] os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho[…]” (Rm 8:29). Se pudesse definir santificação em uma frase seria: Santificação é o nosso processo de nos tornamos semelhantes a Jesus. 

A INIMIGA DA ADORAÇÃO

Na história do povo de Israel é possível ver uma advertência masiva de Deus ao seu povo a respeito da idolatria. Os ídolos insistiam em se colocar entre Deus e o seu povo e o Senhor  repudiava isso. Não é sábio olharmos para essas histórias e exortações autoconfiantes acreditando que a tendência idólatra da humanidade ficou para trás. Pelo contrário, a maldade e iniquidade só pioraram e vale pensar sobre nossa capacidade atualizada de produzir ídolos. 

O grande e primeiro mandamento carrega uma ordem que o precede: 

“‘Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.’ Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças.” (Dt 6:4,5)

Nosso passo em direção a Deus é também rejeitar os ídolos do coração e da cultura. Não há adoração e amor a Deus com um coração e afetos desintegrados. Certamente Ele não divide sua glória e seu trono. Exclusividade – esse é o seu desejo sobre o coração do homem. 

O DEUS CIUMENTO

A Bíblia o chama de Deus zeloso e ciumento – em algumas traduções (Ex 20.5, 34.14; Dt 4.24, 5.9). Mas o ciúme de Deus é diferente do ciúme do homem. Deus é ciumento sem ser possessivo, egoísta ou abusivo. Vamos diferenciá-los. O ciúme do homem é egoísta, ele pede exclusividade para seu próprio benefício, não priorizando o bem do outro. Em contrapartida, o ciúme de Deus é amor puro, ele define a exclusividade como padrão porque é nosso bem maior pertencer a Ele. Primordialmente somos desenhados para essa vida com o Criador, ou seja, seu ciúme se dedica a nos levar para nosso lugar original: Ele mesmo.

“Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes?” Tiago 4:5

“[…]pois o Senhor, o seu Deus, que está no meio de vocês, é Deus zeloso.” Deuteronômio 6:15

POR QUE DEUS ODEIA A IDOLATRIA?

 Por que Deus odeia tanto a idolatria? (Dt7:25) Com certeza, não é por algum motivo egoico. Ele não está com o ego ferido por não ser o centro das atenções. Primeiramente: Ele é o que é, isso basta. Ele é o Deus verdadeiro, nunca criado, eterno em todas as direções do tempo. Ele deve ser adorado porque Ele É o que É. 

Porém, um segundo motivo é o clímax desse texto: quando o homem adora outras coisas que não são  o Deus verdadeiro ele se torna semelhante a aberração, que é um deus criado pelo próprio homem. Nos tornamos iguais aquilo que adoramos. 

“Os ídolos deles, de prata e ouro, são feitos por mãos humanas. Têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não podem ver; ouvidos, mas não podem ouvir, nariz, mas não podem sentir cheiro; têm mãos, mas nada podem apalpar, pés, mas não podem andar; nem emitem som algum com a garganta.  Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles confiam.”  Salmos 115:4-8

A IDOLATRIA É DISFUNCIONAL

Um dos motivos que fazem da idolatria um pecado tão repugnante aos olhos do Deus verdadeiro, é que afasta a sua criação do molde original para qual foi criada. Por exemplo, de maneira visual imagine uma luva, qual a sua função? Sua forma foi feita para quê? Para ser usadas nas mãos, certo? Agora imagine que alguém tenta usar as luvas nos pés como meia, ou na cabeça como gorro. Algumas tensões acontecerão, o encaixe não será ideal e a estrutura será forçada até mesmo causar danos.

Assim somos nós na idolatria. Ela é agressiva e disfuncional ao nosso formato original. Nossa estrutura sofre a tensão, pode machucar e não faz sentido. Tal como uma luva criada para se conformar a forma de uma mão, nós somos  criados para Deus. E não encontraremos sentido e pertencimento longe dele. 

POR FIM

É por causa desse princípio que a adoração coopera com a santificação. Adoramos o que contemplamos e nos tornamos o que adoramos. Quer ser mais parecido com Jesus? Contemple-o. A contemplação gera a resposta apropriada: adoração. A adoração é responder a tudo o que Deus é com tudo o que somos.

Existe uma história por trás do Natal que responde a pergunta: Por que Jesus teve que vir?

Essa deveria ser a base da nossa fé em Cristo, mas confesso que muitas vezes demorei a pensar na resposta. É uma longa e profunda história, então vamos dividir em partes. 

A narrativa Bíblica inteira caminhou para o dia em que um menino nasceu em Belém. Mas por que ele era esperado? Por que Jesus teve que tomar forma de homem? O que trouxe o criador para dentro da sua criação?

A grande história de Deus tem basicamente quatro partes: criação – queda – redenção – consumação. Isso você precisa ter vivo na sua mente. Todos esses trechos da grande história são cercados pela verdade de que: “Deus amou o mundo de tal maneira…”

  1. DEUS CRIOU

Primeiramente, a Trindade em transbordante amor e plenitude cria o mundo, pelo poder de sua palavra, todas as coisas no céu, na terra e debaixo da terra vieram a existir. No sexto dia de criação eles decidem:

– “Façamos o homem, à nossa imagem e semelhança”. E assim o homem e a mulher foram feitos (Gn 1:26-27). 

Assim, sua missão era cultivar e guardar aquele jardim que foram colocados. A criação estava sob seu domínio e lhes foram ordenados que sujeitassem a terra e a povoassem. Uma única ordem negativa lhes foi dada: -”comam de tudo o que  a terra dá, menos de uma, a árvore que está no centro do jardim.” O comer desse fruto proibido os daria o conhecimento do bem e do mal.  

     2. O HOMEM CAIU

Porém, posteriormente, no capítulo 3 de Gênesis um novo capítulo da História se inicia. A única coisa que o homem e  mulher não poderiam fazer, isto eles fizeram: comeram do fruto da árvore que estava no centro do jardim. Caíram na tentação de querer ser como Deus; na prepotência de desejaram serem senhores da sua própria história. 

Então, ali o pecado entrou no mundo e com o pecado a morte. A imagem de Deus no homem foi deformada, adulterada e agora uma outra natureza lutava para ser atendida dentro deles. A história de toda a humanidade foi redirecionada naquele dia. Eis agora o nosso grande problema: “todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus”.

O grande problema da humanidade

Primeiramente, para entendermos a seriedade da vinda de Jesus precisamos estar conscientes do estrago que o pecado causou. O Deus Criador, criou o universo em um design perfeito e inclinado ao lugar certo: Ele mesmo. O homem foi criado com anseios que encontravam resposta plena unicamente em Deus, como a chave certa para abrir uma fechadura. Mas o pecado tirou o cosmo inteiro do seu eixo. Os anseios continuaram os mesmo, mas outra coisa fora de Deus começou a ser cogitada. 

Qual o problema do mundo? O pecado. 

Por que? Por causa dele, Deus não é adorado como deveria, a criação feita para sua glória não exerce essa função e pior ainda, adora outras coisas criadas. Se Deus não é o centro tudo está desalinhado

O que isso causa? A autodestruição da humanidade pela própria humanidade e desperta ira de Deus. 

     3. DEUS DESEJOU A REDENÇÃO QUE CARECEMOS

O pecado não é o fim da história

Todavia, por mais trágico que seja a história até aqui,  o pecado não foi o fim da história. No mesmo capítulo de Gênesis, onde a queda é relatada, uma promessa é revelada: 

“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar.” (Gn 3:15)

Aqui a esperança brilha. Esse versículo é considerado um de proto-Evangelho, porque é a primeira declaração da intenção redentora de Deus após a queda. A semente de Eva (um descendente, um filho), iria pisar e derrotar a serpente que o haviam persuadido a pecar, esse descendente seria ferido, mas não derrotado. 

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” – João 3:16

Essa é uma promessa Messiânica! Desde Gênesis 3 o Natal é aguardado. O nascimento de Jesus é uma promessa de redenção cósmica. Naquele bebezinho em um estábulo de Belém, era o Filho de Deus e nele repousava a missão de tomar para Deus o que lhe era por direito. Ele era capaz de resgatar toda a criação, preencher o abismo que separava o homem de Deus, absorver o juízo de Deus num madeiro para perdão dos pecados e por fim restaurar a criação à comunhão perdida no Éden. 

  1. NO SEGUNDO ADÃO ESTÁ A CONSUMAÇÃO DA REDENÇÃO

Certamente, era necessário redimir a história. Isso significa fazer todas as coisas convergirem na Divindade outra vez, assim como elas foram criadas para ser (Efésios 1:10). E todas as gerações após Adão e Eva aguardavam a semente; só o próprio Deus poderia absorver toda a ira de Deus contra o pecado do mundo nele mesmo. 

De maneira crucial, o Apóstolo Paulo chama Jesus de segundo Adão (1 Co 15:45-49). O primeiro Adão (isso inclui toda a humanidade) caiu, pecou, se rebelou e não deu a Deus a glória que lhe era devida. O segundo Adão veio em missão de redenção, para apontar para o mundo o Pai, a sua origem, existência e alvo final. Ele veio para mostrar o que deveríamos ser e o que ainda seremos. 

Por isso, ele precisava vir como homem para mostrar ao homem como ser homem. Mas também precisava ser Deus, porque só Deus poderia gerar uma redenção nessa proporção de uma vez por todas. 

POR FIM

Por fim, a vinda de Jesus a Terra se resume em – Redenção – e nesse contexto essa palavra é sinônimo de fazer novas todas as coisas, acabar com governo do pecado, restaurar a imagem de Cristo em nós e derrotar a morte. Ou seja, fazer com que todo o cosmo volte a operar como foi criado para operar e assim Deus seja plenamente glorificado em tudo. O Natal é o nascimento da nossa redenção

Assim, vale ressaltar também que a vinda de Jesus tem como desfecho final a sua segunda vinda. E o natal também nos lembra que a obra de redenção inaugurada naquela manjedoura em Belém terá um fim glorioso na nova Jerusalém. A semente prometida esmagará a serpente e colocará todos os seus inimigos debaixo dos seus pés, e o último deles é a morte.

+++ leia mais sobre o Natal 

Perdoar não é tarefa fácil para seres caídos. Eu sinceramente entendo sua dor e indignação ao se sentir injustiçado. Mas vamos um pouco mais profundo no coração humano no tema do perdão? Quero sinceramente que com a ajuda do espírito santo você chegue a se perguntar: por que não perdoar? Que pareça o caminho mais óbvio ainda não seja o mais fácil. Minha oração e desejo é que você receba e sinta o amor e o perdão de Deus, pois quem muito é perdoado muito ama. 

Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama“.  Lucas 7:47

O QUE É O HOMEM? – AMADO & PECADOR

Primeiro, vamos começar nos definindo. O salmista faz uma pergunta que nos cabe: Senhor, que é o homem para que te importes com ele, ou o filho do homem para que por ele te interesse? Salmos 144:3. Quem somos nós? O que Deus vê quando nos vê?

Quando se trata de definição do homem duas coisas paradoxais se destacam das escrituras. Logo em Gênesis vemos a cúpula da trindade reunida criando o homem: “Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. (Gn 1:26). O homem é em primeiro lugar a imagem e semelhança de Deus. É uma verdade imutável e que não podemos não destacar. Seu amor e desejo pela criação foi tanto que Ele colocou seus próprios atributos comunicáveis no homem. 

A imensidão disso é que  em João Jesus fala que da mesma forma que Deus Pai ama Deus Filho, Ele nos ama. Consegue mensurar isso? Deus ama o ser humano com o mesmo amor que ama Deus. O homem foi criado para sua glória, para representar Deus a criação. Fomo feitos de modo especial e admirável, como diz o salmista. Essa é uma verdade irrefutável sobre nós: somos profundamente amados!

Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. João 15:9

“Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste. João 17:23

PORÉM

Porém, já em Gênesis 3 o homem ganha uma nova marca, certamente você conhece a história: Eva e Adão caem na conversa da serpente, desobedecem a Deus e como Paulo bem destaca, “o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram;” (Rm 5:12). O pecado não retirou a imagem e semelhança de Deus do homem, mas a deformou, redirecionou os afetos e buscas do coração para algo que não era Deus. 

Essa é a nova condição do ser humano: caído, pecador. Se por um instante você for franco sobre seu próprio coração reconhecerá, como Paulo que “nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo.” (Rm 7:18)

A PERCEPÇÃO ERRADA BLOQUEIA O PERDÃO

A falta de nos percebermos, ou seja, de reconhecer a nossa condição de pecadores, injustos e maus, nos distancia de oferecermos perdão a quem nos fez mal.

Lembro-me que certa vez relutava com uma questão de perdão, e em uma conversa pastoral eu insistia em dizer que já havia perdoado uma pessoa, mas o pastor percebia como no fundo minhas palavras e afirmações me denunciavam. Foi aí que ele me perguntou: – Você acredita que a outra pessoa tem mais culpa do que você na situação? Você se sente melhor [moralmente] do que ela? – Ele queria saber se na minha mente a dívida dela era maior que a minha.

Eu não poderia fugir da resposta automática do meu coração ali, eu estava convicta que a outra pessoa tinha mais “culpa no cartório” do que eu. Meu erro foi esse: achar que na minha condição de criatura pós-queda haveria a possibilidade de ser melhor ou mais santa que a pessoa que eu precisava perdoar. 

“Todos se desviaram, igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer.” Salmos 14:3

NÃO HÁ UM JUSTO SEQUER

Diante de Deus todos pecamos e carecemos da glória de Deus. Não existe um justo sequer, somos todos – igualmente – dignos de juízo e castigo severo, mas recebemos do único que poderia nos condenar, graça e misericórdia. Misericórdia de não receber o que merecemos – castigo, juizo e morte. E Graça de recebermos o que não merecemos – amor, perdão e salvação. É constrangedor e humilhante. Porque isso me diz que no pior cenário não recebemos o que realmente merecemos receber, lembra que a cruz de cristo e tudo que acompanhou seu sofrimento era nosso E no melhor cenário que podemos viver estamos usufruindo do que não erámos dignos de receber, é puramente graça do Senhor..

Talvez na situação prática você foi mais prejudicado, mais ferido, mais afetado do que o lado que você precisa perdoar. Mas a verdade sobre todos nós é que isso não nos justifica. Em moral e santidade diante do Senhor não somos melhores que o agressor, abusador, traidor, ladrão, infiel, acusador. Todos carregamos em nós o mesmo potencial de pecado e maldade, acredite! 

ORAÇÃO POR ARREPENDIMENTO

Sugiro que antes de tentar  fazer uma oração liberando perdão para seu opositor, coloque seu próprio coração em arrependimento. Confesse ao Senhor o orgulho e prepotência de acreditar que possa ser melhor que alguém, reconheça a maldade de guerreia em seu coração e até mesmo as más intenções e desejos provocados pela raiva que resiste em perdoar. 

Deixe humildemente que o Senhor te dê perdão, porque quem muito é perdoado, muito ama e quem pouco é perdoado, pouco ama.  A nossa capacidade de perdoar será proporcional à percepção do tanto de perdão que nos foi oferecido. Quem muito é perdoado consegue oferecer perdão, Então, tenha em mente que você é pior do que imagina, porém mais amado do que pode imaginar, mas perdoado do que merecia ser. Olhe para a cruz e perceba: o que nos define é o Senhor em sua Graça. 

Portanto, assim como vocês receberam a Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele. Colossenses 2:6

O apóstolo Paulo, escritor da carta aos colossenses, teve como motivação ao escrevê-la o combate a heresias e ensinos comprometedores que estavam surgindo no meio daquela igreja. Ele começa a carta doutrinando seus ouvintes acerca da pessoa de Cristo. 

Lembre-se: os colossenses eram gentios, mergulhados em uma cultura politeista que abraçava vários deuses e sofriam a pressão de várias filosofias pagãs e falsas. Além de lidarem com a pressão dos judeus para abraçarem seus costumes da Torah com requisitos para a fé cristã.  

Então, Paulo, gasta um tempo falando que tipo de personagem Jesus realmente é e o distingue do padrão atual de deus. Ele prega a divindade de Cristo como a expressão exata do ser de Deus, e aquele que vem antes de todas as coisas. Era importante deixar claro a preexistência de Cristo, sua superioridade sobre tudo e a sua divindade. 

Quando a mentalidade de uma comunidade está comprometida com algum ensino falso é inevitável que seu estilo de vida reflita essa incoerência. Depois que o apóstolo aponta e corrige os erros de mentalidade ele traz clareza sobre como viver após a correção do seu entendimento. Ele faz isso no capítulo 3 e 4, que veremos alguns pontos hoje. 

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Romanos 12:2

Vivam como se a redenção estivesse completa

Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus.  Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória. Colossenses 3:1-4

Paulo está chamando essa igreja, e podemos receber este convite, para viver como se a redenção estivesse completa. “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado,”Cl 1:13. Não é um convite a alienação, mas a enxergar que toda a realidade é de Cristo (Cl 2:17). Olhar para alto é viver segundo o padrão de Deus, segundo a constituição do reino para o qual fomos resgatados. 

A salvação e redenção com Jesus é tão radical quanto a cruz! Ele deu como morto nosso antigo estilo de existir e inaugurou uma nova criação em nós. Agora essa criação cresce e se aperfeiçoa segundo o padrão e vontade original do seu criador. Nessa nova criação “Cristo é tudo e está em todos.”(Cl 3:11).

O que deve morrer?

O apóstolo segue seu ensino sendo incisivo, note a repetição e ênfase que ele dá sobre o tema de morte da natureza caída e da nova criação em Cristo. Ele lista uma série de coisas que deveriam morrer no meio dessa igreja: 

“Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria.

[…] Mas agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar. Não mintam uns aos outros […]” Cl 3:5-9

A morte e o nascer de novo  como saída

A mensagem aos colossenses é enfática, só há um caminho para viver o cristianismo: morte. Assim como seu fundador inaugura a fé cristã com a cruz, os seus seguidores devem estar cientes que também devem experimentar a morte. É o eco do convite de Jesus que disse: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa, a encontrará.” Mt 16:24,25´. 

É confirmado por Paulo que o caminho para se livrar desse mal que é o pecado cravado em nossa natureza é fazê-la morrer. Perceba que não é consertável, ou que dá pra fazer uns remendos, mas é necessário descartar a velha vida sem Cristo. O que nos resta então? Ele também deixa claro: é o revestir-se da nova criação. A vida do novo nascimento deve ser um relance e sombra do que viveremos na eternidade.

O prenúncio da eternidade

Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Colossenses 3:12-14

Primeiramente é apresentado qual o padrão dessa nova criação: compaixão, bondade, mansidão entre outras coisas. Mas todas se resumem no final do versículo 14:  revestir-se do amor, o elo perfeito e a ação perfeita para o nascido de novo.

Posteriormente Paulo faz afirmação que aponta explicitamente o estilo de vida do qual fomos projetados para operar originalmente. O plano de Deus desde o Éden é o que ele fala no versículo 23: “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai.” Colossenses 3:17

Ele é o padrão, se sabemos quem Jesus é devemos viver como se estivéssemos na pele dele. Vivendo como ele viveu e existindo para sua glória. Esse é nosso maior chamado. 

O convite inevitável 

Talvez assim como aqueles cristãos você tem lidado com mentiras sobre o caráter de Deus e com um comportamento incoerente com a fé cristã. Ou talvez seja um cristão sincero mas que tem lutado com pecados que persistem em estar junto de ti, problemas de relacionamento, falta de perdão, fofoca, murmuração, imoralidade ou idolatria. A solução e o conselho de Paulo ainda serve muito bem a nós hoje: viva como se estivesse morto para você mesmo e vivo para a criatura formada por Cristo.

“[…]vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador.” Colossenses 3:9,10

 

Há tanto para falar e aprender ao olharmos a vida de Davi. O homem segundo o coração de Deus consegue causar tanta identificação em nós, mesmo com todos os anos de distância que nos separam dele. O pastor menino, tão cuidadoso com suas ovelhas, o irmão mais novo e mais valente do seu clã, o guerreiro ovacionado pelo povo, o rei amado. Ele foi tão humano, porém, sua humanidade transbordou em suas fraquezas. Deve ser por causa disso ele nos ensina sobre aprender a ser perdoado por Deus.

Imagina que Deus escolhesse escrever um livro sobre a sua vida, e o colocasse ao alcance de milhares e milhares de pessoas e gerações. Todas as suas glórias e vitórias expostas e fazendo de você alguém admirável diante dos olhos de várias pessoas. Entretanto, imagine também que esse mesmo livro seria igualmente uma vitrine das suas fraquezas, seus pecados seriam expostos e algumas vezes as intenções mais obscuras do seu coração estariam lá registradas.

Isso foi exatamente o que Deus fez com Davi. Ele colocou a vida de Davi como um espetáculo público. Assim, soberanamente permitiu que a vida do rei de Israel fosse assistida por várias gerações. E graças a Deus por isso, podemos extrair lições preciosas com sua jornada.

O HOMEM SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

O título mais famoso ao falarmos de Davi foi o elogio que saiu da boca de Deus dirigido a ele: o homem segundo o coração de Deus. Um título bem controverso quando olhamos para os eventos da sua vida. Já conheci pessoas que realmente se ofenderam com esse título dado a Davi. Aliás, como assim um adultero, homicida, mentiroso, pai passivo a um abuso sexual pode ser chamado de homem segundo o coração de Deus? Você já pensou sobre isso?

Dentre as tentativas de justificar esse título controverso com certeza o que se destaca é o tipo de relacionamento que Davi tinha com o Senhor. Ele é incomum e distinto na forma como se relacionava com Deus no contexto da era da Lei e não dá graça. Salmos expõe o coração de Davi em orações profundas diante de Deus. Ele era humanamente fraco e vulnerável ao pecado que lhe batia a porta, mas seu coração estava entrelaçado mesmo que muitas vezes de forma fraca a um amor pelo seu Deus.

Se você tem um relacionamento íntimo com alguém sabe como funciona. É ter outra pessoa que conhece detalhes da sua personalidade que seria vergonhoso um desconhecido conhecer. Você fala e faz coisas que não faria na presença de outros. Em outras palavras alguém intimo é alguém que não cabe a performance, o requinte ou as máscaras. É apenas a realidade exposta como ela é. Essa é a sensação que tenho quando olho para o relacionamento de Davi com Deus, eles se entendiam com o olhar.

DAVI SABIA SER PERDOADO E CONTINUAVA VOLTANDO PARA O SENHOR

A vida de Davi nos mostra a habilidade que ele tinha de continuar voltando para o Senhor. Mesmo quando haviam deslizes e quedas ele era rápido em correr para Deus em arrependimento e confissão. E essa é a lição que  queria chegar nesse texto: Davi sabia ser perdoado. Ele reconhecia o conceito de viver pela graça mesmo que não fosse a mensagem da sua época. Todavia, Deus já era gracioso e se movia benignamente com corações que tinham fé Nele.

OS EMPECILHOS DO PERDÃO

Diferente de Adão que pecou e se entregou a vergonha, Davi não corria de Deus, ele corria para Deus. Quando nos deparamos com nosso pecado e fraqueza Satanás realmente deseja que nos sintamos tão envergonhados e sujos que não consigamos nos voltar para Deus novamente. A vergonha e a autocomiseração são ferramentas eficazes para separar o homem da nova vida após o arrependimento.

Ademais, quando a culpa ganha a guerra, o coração que se sujou permanece sujo e ainda corre o risco de sujar-se mais ainda. Quem se vê como impuro e não consegue receber o perdão, tende a perder mais tempo longe de Deus.

A ALEGRIA DO CÉU É O PECADOR ARREPENDIDO

Você já pediu perdão a Deus por algum pecado e levou um tempo para orar normalmente ou se sentir merecedor da atenção e benção de Deus outra vez?

Muitas vezes achei que quando caia eu voltava para o final da fila e teria que percorrer todo caminho penoso de novo, como castigo, tendo que assim reconquistar a confiança de Deus. Como se Deus fosse como o homem. Não, definitivamente Deus não precisa de um tempo para conseguir liberar perdão. O Cordeiro que nos justificou foi morto desde a fundação do mundo (Apc 13:8).

É crucial na caminhada cristã entender que Deus prefere o coração arrependido. Ele não pode ser surpreendido e nem ser frustrado. Lembre-se: “[…] haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” (Lc 15:7)

Mais paradoxal que o elogio de Deus à Davi é a graça, que nos vê como ainda seremos, dispensando nosso esforço em nos transformar e requerendo apenas fé suficiente para nos voltarmos para Ele.

Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas. 1 João 3:20

RECEBA O PERDÃO

Assim, como Davi fazia não esconda de Deus seu pecado ou sua fraqueza, pelo contrário, converse com Deus sobre isso. Ele é de fato o único que pode ajudar você. Dê ouvidos a Palavra e não as suas sensações de culpa e vergonha.

Corra para o Senhor e creia no perdão Dele derramado antecipadamente no Calvário. Após o arrependimento deixe que o amor do perdão te constranja pela consciência que mesmo indigno após pecado, o amor Dele não sofre desgaste.

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. 1 João 1:9

Mude os olhos com os quais você olha para o Senhor, ele é como o pai do filho pródigo que corre em direção ao filho perdido que volta para casa. Ele não está cansado e irritado se você o procura. Ele faz festa com o coração que deseja se concertar com Ele.

Estamos chegando ao fim do Maio Laranja, porém esse assunto não se esgota em importância e em conteúdo. Depois de um mês orando e agindo em prol da defesa das nossas crianças é inevitável ignorarmos um fato: E quando já houve o abuso? O que será do coração que já foi dilacerado pelo trauma? A guerra foi perdida para essa vítima? Quero te levar a crer que se Deus insere o coração quebrado no Seu roteiro, a esperança é a palavra final.

 

QUEM UM DIA FOI A CRIANÇA VÍTIMA

Quero hoje falar com você que um dia foi a criança abusada e violada, ou com você que lida com a impotência de acompanhar um pequenino que sofre tamanha dor. Como psicóloga já trabalhei e acompanhei casos de crianças e adolescentes com diversas histórias que causam indignação e dor de compaixão. É inegável que há muita injustiça e maldade envolvidos em todo processo e tratamento, mas de fato Deus nos “criou de modo especial e admirável”, além de ter nos feito como alvos de sua preciosa bondade e misericórdia, que superam toda capacidade do mau.

 

UM TRAUMA, UMA MARCA IRREPARÁVEL

De fato, um trauma pode ser visto com uma rachadura, uma marca irreparável. Imagine um vaso de porcelana que cai e quebra. Posso recolher os pedaços e colocá-los uns nos outros mais uma vez, ele volta a ser um vaso, porém, não como antes. Assim pode ser visto o trauma. Porém, mesmo depois do trauma ainda pode haver funcionalidade e beleza. O vaso reconstruído ainda é um vaso. 

Você já reparou que na profecia messiânica em Isaías 61 é falado a respeito de Jesus que ele transforma as cinzas em uma bela coroa? Como o resto de pó de algo que foi completamente queimado pode servir de beleza?

O que quero dizer com isso é também o que não quero que saia da sua mente enquanto ler esse texto: O abuso sexual não é o fim da história!

 

IMPACTOS DA VIOLÊNCIA

Psicologicamente listamos que as consequências da violência sexual atingem o nível físico, comportamental, psicológico/emocional, além do social considerando o impacto desta nas pessoas envolta da vítima. 

Dentre alguns impactos do abuso estão: disfunções alimentares (perca ou excesso de apetite), alteração no sono, passividade, agressividade, isolamento, dificuldade para se relacionar, retração, comportamento sexual adiantado para a idade, masturbação precoce frequente e descontrolada, consumo de álcool e drogas, condutas suicidas, insegurança, sentimento de culpa, baixa autoestima, sentimento de traição, tristeza constante, vergonha, ansiedade, rejeição ao próprio corpo (sentir-se suja), depressão, desconfiança, e outros.

Certamente é importante saber e reconhecer esses sintomas até mesmo para conhecer a raiz deles e estar consciente de como cada vítima foi afetada. Todavia, o alvo da nossa conversa aqui hoje não são as consequências, mas a esperança.

 

POR QUE O ABUSO NÃO É O FIM DA HISTÓRIA?

Certamente, alguns dos impactos quando alguém se torna a vítima estarão diante dos seus olhos por anos. Então, como lidar com isso e enxergar possibilidade de redenção nessa história?

 

  • COMO DEUS CRIOU O HOMEM

Uma das habilidades que Deus colocou sobre o homem que me fascinam, é a nossa capacidade de adaptação e resiliência. Mesmo depois de episódios traumáticos ou submetidos a situações extremas, somos capazes de nos adaptarmos para conseguir viver da melhor forma possível com aquele item novo. 

A resiliência é a capacidade de superar, de conseguir voltar a funcionar. O homem não precisa ser cristão para ser resiliente e adaptado, é uma característica humana. Ele de fato nos criou de forma especial e admirável (SL 139:14). 

Não ser resiliente significaria que o mesmo nível de dor que a vítima sentiu no dia do abuso ela sentiria anos depois na mesma intensidade. Consegue perceber como seria insustentável? Mas não é assim que acontece, a tendência dos mecanismos psíquicos é encaminhar o indivíduo para a diluição dessa dor de maneira que o indivíduo consiga viver com ela em um nível menor.

Essa habilidade pode ser desenvolvida, treinada e melhorada principalmente com ajuda de uma boa rede de apoio familiar e profissional. Nesse ponto, terapia e acompanhamento psicológico em qualquer momento da vida são extremamente importantes. Vejo aqui, a graça comum do Senhor em usar nossa própria estrutura humana e a ciência para abrir uma porta de esperança.

 

  • QUANDO O HOMEM ENTRA NA HISTÓRIA DE DEUS.

Nesse momento só posso falar com quem reconheceu Jesus como seu Salvador. Isso significa crer que sua mão está estendida para derramar bondade, crer que sua soberania nos faz bem ainda que coisas ruins aconteçam na nossa história. 

Quando a nossa pequena história se cruza e se une no fluxo da história de Deus a possibilidade mais linda que nos é apresentada é a Redenção. A redenção nada mais é do que pela obra de Cristo todas as coisas convergirem na sua vontade, ou seja, o homem caminhar na jornada de retorno ao plano original para o qual foi criado. Se você me entende, estou falando que quando somos redimidos mergulhamos na jornada de nos parecermos com Jesus, Ele como o representante de uma humanidade perfeita, o segundo Adão, como a Bíblia o chama.  

Nesse processo tudo o que o pecado causou vai sendo durante toda nossa vida desconstruído e limpo para se tornar cada vez mais puro, bom e belo outra vez. Atente que não há promessas para essa era de algo instantâneo em todas as situações. Mas há promessas que Cristo vai sendo formado em nós (Gl 4:19), há promessa que ele em nós é a esperança da glória (Cl 1:27) e há promessa que quando ele voltar a Terra mais uma vez enxugará dos olhos toda a lágrima (Ap 21:4).

 

A TRANSIÇÃO DE VÍTIMA PARA REDIMIDO

O que Deus faz com o coração do homem que deixa sua história nas mãos Dele é mudar a categoria e quebrar o estereótipo. De uma história de trauma Ele faz um história de redenção.

Ele faz com que o clímax e o protagonista da história não seja o momento da violência, mas a jornada onde ele lhe dá  “[…] uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Em lugar da vergonha que sofreu, porção dupla, e ao invés da humilhação, se regozija em sua herança; pois herdará porção dupla em sua terra, e terá alegria eterna. ‘Porque eu, o Senhor, amo a justiça e odeio o roubo e toda maldade. Em minha fidelidade os recompensarei e com eles farei aliança eterna’.” (Isaías 61:3, 7,8)

 

E ASSIM, A ESPERANÇA TEM A PALAVRA FINAL SOBRE A HISTÓRIA.

Espero que se você um dia foi uma criança vítima da violência sexual após ler esse texto você consiga se ver como um alvo da bondade e amor de Pai que te persegue para derramar esperança e cantar sobre você um canção de redenção. Que ao olhar para sua história você coloque como personagem e momento principal Jesus e obra da Cruz, transformando uma história de pecado e dor em uma história de graça, redenção e esperança.

Deus decepcionado, eu frustrado. O que a mensagem da graça de Deus nos ensina?

Nosso coração foi doutrinado a acreditar que Deus está frustrado e decepcionado conosco. É fácil crer que dificilmente “Ele se agradaria de nós, pois Ele é muito irritável e exigente”.

Durante toda a vida crescemos ouvindo e construindo uma imagem de Deus – grande parte dela distorcida. Inúmeras vezes ouvimos dos nossos pais: “não faz isso que Deus castiga”, “Papai do céu vai ficar triste com você”, e várias outras frases com estas. Depois de crescermos essas vozes amadurecem, mas a mensagem é a mesma.

Se torna inevitável, diante desse pensamento, nós mesmos não ficarmos frustrados com nossa vida cristã. É tudo uma questão de expectativa e realidade. Se a realidade fica aquém da expectativa, nasce a frustração.

Insistimos em acreditar que Deus tem grandes expectativa sobre nossa performance. Porém ao nos deparamos com nossa realidade, cheia de fraqueza e envolvida por uma natureza caída o que sobra dessa equação é apenas frustração. Mas os pensamentos de Deus não são como os nossos (Is 55:8).

É BOM DEMAIS PARA SER VERDADE?

Preciso dizer que a mensagem da graça é umas das coisas mais lindas, confrontantes e humilhantes que devemos aprender e entender como cristãos. A mensagem da Graça é uma daquelas notícias que pensaríamos:

É bom demais para ser verdade, Mas é verdade, graças a Jesus Cristo!

Podemos então nos vangloriar de ter feito algo para sermos aceitos por Deus? Não, pois nossa absolvição não vem pela obediência à lei, mas pela fé. Portanto, somos declarados justos por meio da fé, e não pela obediência à lei. (Rms 3:2728)

O salário daquele que trabalha não é um presente, mas um direito. Contudo, ninguém é considerado justo com base em seu trabalho, mas sim por meio de sua fé em Deus, que declara justos os pecadores. (Rm 4:4,5)

 Esses versículos são autoexplicativos: A Graça dispensa nosso esforço para sermos salvos e para agradar. Ela nos aceita como um favor que nunca vamos conseguir pagar. A Graça pagou nossa dívida e mesmo se tentássemos pagar com juros de uma vida inteira seria insuficiente. Além disso, a redenção que não nos custou nada, custou tudo pra Jesus e não há nada que possamos fazer, senão crer e recebê-la.

O CORAÇÃO DA GRAÇA

Portanto, uma vez que pela fé fomos declarados justos, temos paz com Deus por causa daquilo que Jesus Cristo, nosso Senhor, fez por nós. Foi por meio da fé que Cristo nos concedeu esta graça que agora desfrutamos com segurança e alegria, pois temos a esperança de participar da glória de Deus. Rm 5:1-2

O coração de Deus é o coração da Graça. E conhecer a verdade sobre o coração que se deleitou em Davi, Abraão, Moisés e tantos outros homens imperfeitos, mas estimados, na Bíblia é indispensável para nossa jornada. Hebreus 11 – a galeria dos heróis da fé – traz inúmeros homens do quais não aprovaríamos seus currículos, mas Deus os exaltou. Com isso posso ter certeza de que a aprovação deles tem mais a ver com o coração que despende Graça do que com o receptor dela.

 

O QUE A GRAÇA NÃO É?

É assustador pensar que uma mensagem assim pode desviar corações do alvo correto. A mensagem (mal-entendida) que a Graça fez tudo que foi necessário já levou e tem levado pessoas a se entregarem aos seus próprios desejos. Isso é o que Dietrich Bonhoeffer chamou de “graça barata”. Então cabe deixar claro aqui o que a Graça não é.

A mensagem da graça não é a nossa licença para pecar sem castigo. Ela não é a proclamação de nossa independência, o passaporte para a redenção dispensando a cruz e o caminho largo. Muito menos não é pecado sem arrependimento e não iguala Deus ao nosso status e esvazia o temor à Santidade. A graça também não é produtora de obras mortas e não divide a glória. Por fim, ela não é nossa tentativa e esforço de nos achegarmos a Deus por nosso caminho.

Pois bem, uma vez que a graça nos libertou da lei, quer dizer que podemos continuar pecando? Claro que não! Vocês não sabem que se tornam escravos daquilo a que escolhem obedecer? Podem ser escravos do pecado, que conduz à morte, ou podem escolher obedecer a Deus, que conduz à vida de justiça.
Romanos 6:15,16

A MENSAGEM DA  GRAÇA 

A Graça que estamos falando aqui é o entendimento que nos dará ferramentas e meios de viver a vida cristã, a vida no seu projeto original.

A Graça pela qual Cristo morreu nos dá justificação e poder para obediência e para o relacionamento. Ela nos dá poder para sermos parecidos com Jesus. Além disso, não infla nosso ego e nos humilha ao nosso lugar de dependentes da obra da cruz. Ademais ela produz em nós a resposta adequada contra o pecado, é o poder que nos levará até o fim; no dia de Cristo. Ela é o que nos apresenta redenção para todas as áreas, completa, poderosa e graciosa.

A INTENÇÃO DA LEI É O CORAÇÃO DA GRAÇA

A lei não foi feita para ser obedecida como lista de regras. O propósito dela era revelar o coração do Criador. A intenção da lei é a mesma da graça: nos conduzir de volta a Deus. A lei nos mostra um Deus que quer nosso coração, nossas afeições e nossa vida. O Designer da vida ainda tem o projeto original bem estabelecido e ele é envolvido de amor e vida em abundância.

No final das contas Deus se deleita naqueles que sabem que são fracos, mas continuam voltando para ele, mesmo na sua fraqueza. Deus recebe os humildes que não se esquivam do relacionamento, aceitam o perdão e a graça e vivem por meio Dele.

O VERDADEIRO HERÓI

O verdadeiro herói dos heróis da fé e de tantos outros que vieram depois, glória da nossa salvação, redenção e santificação é toda de Cristo. O segredo de todos os grandes homens que nos ensinam na Bíblia está no coração da Graça que justifica aquele que crê que o amor cobre multidão de pecados. Naquele que mesmo envergonhado pelo seu pecado sabe que sua condição de pecador não o desqualifica da posição de amado por Deus.

Tudo isso é bom demais para ser verdade, mas é a verdade! Por isso foi chamada de boas-novas do evangelho. É a história que o Senhor escolheu escrever para a humanidade. Ás vezes, Ele vai deixar parecer que fizemos algo que mereceu o sorriso de Deus, mas tudo sempre será “Dele, por Ele e para Ele” (Rm 11:36), tanto o querer quanto o realizar vem dele (Fp 2:13), e tudo é obra de sua Graça.

 

Atos dos apóstolos é cheio de histórias de grandes feitos, milagres, pregações que atraíram multidões e pessoas que viraram o mundo de cabeça para baixo (At 17:6). Talvez você seja uma pessoa com grande anseio de fazer a diferença, transformar o mundo ou mesmo inspirar sua pequena zona de influência. E pensar sobre essas histórias te enchem de desejo por imitar esses que viraram o mundo de cabeça para baixo. Mas antes de nos tornarmos como aqueles homens, precisamos saber o porquê, qual o âmago de toda a questão.

AQUELES QUE OFENDERAM O MUNDO

“Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui, ” (Atos 17:6)

Imagina o cenário: Paulo e Silas chegam em Tessalônica, e o fato de por três sábados lhe apresentarem na cidade as escrituras, trouxe alvoroço, transtorno, confusão e divisão. A mensagem que ofendia a mente dos judeus e dos gentios, era: JESUS É O CRISTO! (Atos 17:1-3)

Eles estavam virando o mundo de cabeça para baixo, na perspectiva humana, claro. Mas, por dois motivos: Primeiro, Jesus era Deus, mas não se parecia com o Deus que os judeus haviam idealizado ou construído na sua mente. Jesus, ser o Cristo de Deus ofendia a sabedoria judaica. Não era esse tipo de Cristo que eles esperavam, por isso o rejeitaram. Segundo, Jesus era Rei; os gentios não aceitavam que houvesse outro governante, além de César. Eles não entendiam que Jesus não se tratava de um rei político, mas do rei majestoso de toda a realidade.

O confronto ali revela a guerra de cosmovisões, existente e inevitável. De um lado a mentalidade humana, caída, gentílica e judaica. E do outro a apresentação de um reino que foi inaugurado em Cristo, controverso e difícil de engolir para eles.

QUAL MUNDO ESTÁ DE CABEÇA PARA BAIXO?

É importante voltar onde tudo começou. O problema começa bem antes da vinda de Jesus e dos apóstolos e se estende não só até o livro de Atos, mas até nós, hoje.

Todos conhecemos a história. Pelo poder de sua palavra Deus criou todas as coisas e do pó da terra Ele fez o homem, a sua imagem, conforme a sua semelhança (Gn 1:26-27). Adão aprendia de Deus o bom, belo e verdadeiro. Sua inteligência e razão eram cultivadas a semelhança do Criador. Mas, o pecado entra na história, a ambição por ser como Deus e o desejo de independência, o arrasta para a rebelião (Gn 3:6-7). E sua visão agora é desconectada da fonte original.

A visão, percepção e maneira de ver o mundo e a vida agora, para o homem, se tornava cada vez mais antagônica a de Deus. O mundo vira de cabeça para baixo no Éden. A cosmovisão distorcida, tira Deus do centro, motivo e fim de todas as coisas e coloca o homem (Gn 3:10-11)

Esse é nosso problema. Nossa natureza caiu em tamanho abismo e distância do plano original. O que antes Deus chama bom, belo e verdadeiro, o homem passa a questionar e passa ele mesmo ditar seu veredito, sobre o bom e o mau (Gn 3:23 e 23)

ANTES DE MUDAR O MUNDO

Essa é a primeira consciência que deve nascer em nós, antes de querermos revolucionar o mundo. Precisamos perceber a necessidade de redenção, nossa e de toda criação (Rm 8:22-23). O mundo precisa de um salvador que o reconcilie com o Criador, que alinhe o sentido e o filtro pelo qual enxergamos e vivemos a vida.

O contraste é necessário. Quando o Espírito abre os olhos do nosso coração para conhecer e ver o Senhor, a primeira coisa que deve surgir é arrependimento da nossa condição caída. Ele é o padrão. Ninguém melhor que o Criador do mundo para fornecer uma visão correta de propósito, funcionamento e destino de mundo e criação.

Vale lembrar o que isso custa. Como dito anteriormente, é uma guerra. Esses homens e o próprio Jesus foram perseguidos e odiados pelo seu alinhamento com a verdade eterna, portanto não podemos esperar coisa diferente disso. Virar o mundo de cabeça para baixo não é um status quo do cristão moderno, é revolução! Revolução que começa por dentro, transtorna e confronta nossa mentalidade, e quando se torna ações certamente trará, no mínimo, desconforto a nossa volta.