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Sobre o autor

Fernanda Milczarek

O tema da celebração e das festas de casamento é recorrente não apenas nos evangelhos, mas especificamente nas parábolas contadas por Jesus. Em uma delas, Jesus conta uma história a respeito do casamento do filho de um rei, descrito em Mateus 22:1-14, que é muito conhecida como “A parábola do casamento”.

É essencial percebermos sempre o contexto em que cada parábola é contada, pois isso nos auxilia na compreensão da mensagem. Nessa passagem Jesus estava em meio a um diálogo com os sacerdotes e fariseus no templo. No capítulo 21, nesse mesmo contexto, Ele já havia contado outras duas parábolas: a do pai que tinha dois filhos e a do proprietário de terras que plantou uma vinha (Mateus 21:28-46). Os líderes religiosos ouvindo a explicação de Jesus acerca dessas parábolas já haviam entendido que falava deles e a essa altura já buscavam prendê-Lo (Mateus 21:46), ofendidos por Seus ensinamentos. Ler, em conjunto, os capítulos 21 e 22 de Mateus nos ajuda a perceber de forma mais clara e ampla o que Jesus estava ensinando.

Enquanto as multidões o seguiam, os cegos e mancos eram curados, muitos o cercavam e o aclamavam, porém os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei questionavam a sua autoridade. É nesse cenário que Jesus segue falando e apresenta a parábola do Casamento.

A parábola do casamento

Essa narrativa de Jesus fala a respeito da festa que um rei planejou em honra ao filho, por causa do seu casamento. Entretanto, a história nos conta que os convidados se recusaram a participar da celebração. É importante perceber que aqui Jesus fala de casamento em um contexto judaico que é diferente do casamento como conhecemos em nossa cultura. Naquele contexto o casamento acontece em três fases: a promessa (firmado entre os pais dos noivos mediante um contrato), o noivado (promessa pública e troca de presentes entre os noivos, a partir daí o casamento só seria desfeito mediante divórcio) e a festa nupcial (é a celebração do casamento, que poderia acontecer até 1 ano após o noivado, podendo durar vários dias).

A parábola trata do anúncio de que tudo estava pronto para a terceira fase do casamento, a festa começaria em breve. Da parte do rei, tudo estava preparado e não havia empecilhos. Agora imagine recusar-se a comparecer à festa de casamento do príncipe! Um convite de grande honra e um banquete certamente abundante para uma das festas mais
importantes de um reino. É inclusive estranho tentar entender alguém que recusaria um convite para um banquete como esse.

A atitude do rei

O rei certamente teria pleno poder para obrigar os convidados a se fazerem presentes, mas é interessante perceber que nessa parábola, não é assim que o soberano age. O filho do rei recebe honra através da presença daqueles que aceitam o convite. O rei então, envia os servos pelos caminhos e esquinas a convidar e trazer todos aqueles que fossem encontrados, bons e maus, já que os primeiros convidados não eram dignos de participar da festa (Mateus 22:8).

A virada quase irônica da parábola está em que aqueles primeiros convidados que aparentemente honrados foram considerados indignos pelo rei e então são convidados para a festa todos aqueles que estavam pelo caminho. A última parte da parábola conta que em meio aos convidados, o Rei encontra alguém que não estava vestido adequadamente (Mateus 22:12) e ele então é colocado para fora. Com isto acontece algo muito semelhante ao que é relatado sobre as virgens imprudentes na parábola de Mateus 25; por não estarem adequadamente preparados, ambos são impedidos de participar das bodas.

O que a parábola ensina

Jesus já possui glória eterna em seu ser divino junto ao Pai, como criador e sustentador de todas as coisas, por que então o Pai deseja honrar o Filho? Essa é uma celebração para que seja dada honra ao Filho em Sua posição como Salvador. A honra da festa das bodas é celebrada por Sua gloriosa posição no relacionamento e união com Sua Igreja,
como seu Noivo e Redentor. Jesus se oferece ao lugar de Redentor, através da encarnação fazendo-se o Noivo, que se unirá a Sua amada Igreja. Sua encarnação, morte de ressureição são semelhantes à promessa pública do noivado judaico, todos sabem que haverá um casamento. As Bodas do Cordeiro celebram a consumação dessa promessa, o resultado último da obediência do Filho (Filipenses 2:9).

Como não aceitariam um convite de tamanha honra? Como não iriam se alegrar quando o grande Senhor dos senhores encarna como homem e aceita redimir a humanidade da ruína causada pela Queda? Mas a insensatez do coração humano é tamanha que não percebe a honra que lhe foi estendida, para o maior e mais aguardado evento do Reino eterno. Tamanha é a generosidade do convite feito, que nada é exigido dos convidados senão a disposição em comparecer. A festa já está preparada, o banquete já está pronto, o generoso Rei já providenciou cada detalhe.

Segundo Spurgeon:

“Vocês podem e devem vir tal como estão neste momento ao banquete do evangelho; e o único traje de convidado nupcial necessário, nesse caso, é gentilmente e gratuitamente providenciado pelo rei para vocês”.

Um entendimento obscurecido rejeita a bondade do Rei divino distraindo-se com ocupações menores e desprezando o Seu generoso convite. A oportunidade é então estendida àqueles que sequer se imaginariam dignos. A analogia dessa parábola é reafirmada no texto de João 1:11-12 ao dizer que o Filho veio para os que eram seus, mas eles não o receberam, então o convite é estendido a todos quanto o receberam. Pois é desejo do Rei que as Bodas de Seu Filho sejam uma grandiosa festa e que Ele receba a honra de todos aqueles que humildemente aceitam o convite.

A narrativa do casamento do Filho, ou das Bodas do Cordeiro será novamente encontrada, não mais em forma de parábola, mas agora como visão em Apocalipse 19:9 em que João nos lembra “Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro”.

A questão é, será que entendemos o quão importante é o convite que nos foi feito? Daremos atenção ao mensageiro e responderemos ao convite, ou estaremos distraídos, tão absorvidos em nossas próprias rotinas, considerando nossos afazeres tão importantes que menosprezamos a honra que nos foi estendida?

Semelhança com outras parábolas

Existem algumas semelhanças entre a parábola do Casamento e outras que falam desse tema da preparação, especialmente a das Dez Virgens em Mateus 25.1-13. As pessoas não entendem o significado daquilo à que são convidadas a participar, por isso não respondem de forma apropriada e são excluídas. Ainda que haja uma grande distância temporal e cultural entre o contexto no qual Jesus falou e o nosso, e mesmo que a parábola tenha sido originalmente dirigida a líderes judeus, percebemos que a mesma mensagem encontra sentido em nossa realidade. Vivemos em um capítulo da existência humana entre a redenção conquistada na Cruz – a promessa firmada no madeiro de que haverá um casamento – e a consumação aguardada que será completa Naquele Dia, com o retorno do Noivo para as Bodas do Cordeiro.

Conhecemos o convite que nos foi feito, mas enquanto aguardamos nos envolvemos com tantas coisas; perceba o quanto é possível que não entendamos em plenitude o privilégio da mensagem do Evangelho e a grandeza daquilo a que somos convidados. Que sejamos encontrados preparados e com corações aguardando ansiosamente pelo anúncio “tudo já pronto; vinde às bodas” (Mateus 22:4).

Leia mais sobre as parábolas bíblicas clicando aqui.

A função da música no ensino da Igreja

Aquilo que a Igreja crê, muitas vezes, pode ser percebido através das suas canções. É interessante analisar aquilo que é cantado para perceber qual o seu entendimento a respeito de quem Deus é,  e de quem ela é diante Dele e a posição que ela ocupa no Reino. Uma igreja saudável conhece e crê na verdade das Escrituras. E assim, faz sentido que uma igreja saudável cante as Escrituras e transpareça sua esperança em forma de
canções.
Nada substitui a pregação expositiva da Palavra e não devemos diminuir a sua importância. Ainda assim é interessante notar a capacidade que a música tem de permanecer na nossa mente e por muito mais tempo do que as palavras de um sermão, por exemplo.
Quando percebemos essa realidade começamos a entender a importância de não apenas pregar. Mas cantar corretamente a respeito das verdades eternas das Escrituras, já que a música nos é dada também como uma ferramenta para doutrina do povo de Deus.

O aspecto escatológico das parábolas

Enquanto entendemos o tempo em que vivemos, somos lembrados de que a Igreja que espera pelo retorno de Jesus será preparada como uma Noiva e junto com o Espírito clamará pelo Seu retorno.
Com esse entendimento podemos notar o aspecto escatológico das parábolas contadas por Jesus. E então compreender a importância de interpretar corretamente aquilo que Ele desejava ensinar. A maioria das parábolas de Jesus foram contadas aos judeus, utilizando elementos do cotidiano e da cultura judaica nas histórias. Esse recurso não era algo novo ou exclusivo de Jesus, os próprios rabinos também utilizavam parábolas para o ensino.
Esse recurso utilizado pelos rabinos é conhecido como mashal. Seu registro pode ser encontrado na mishná, uma das principais obras que registra de forma escrita a tradição oral da interpretação.
As parábolas de Jesus utilizam a perspectiva e os conhecimentos culturais daqueles que ouviam para o ensino de uma mensagem mais profunda, que deve ser interpretada por quem as ouve. Então, ainda que para nossa perspectiva atual possa parecer algo místico, com muitos significados enigmáticos, a realidade é que apenas é necessário levar em consideração o contexto e o povo a quem essas parábolas foram contadas.
Ao contar a parábola das dez virgens ou das bodas, por exemplo, Ele se utiliza de elementos cotidianos da cultura do casamento para aqueles que lhe ouviam e aponta para si mesmo como o Noivo, como o Redentor escatológico por quem eles aguardavam.
Jesus fala a respeito do Reino e, através dessas pequenas narrativas fictícias, faz um convite à interpretação embora muitas vezes ao final da narrativa Ele esclareça a lição da parábola. De diferentes formas Ele retoma o cumprimento da Promessa aguardada pelos judeus e aponta para Si mesmo como a Esperança pela qual povo de Deus ansiava.

E quanto a nós, hoje?

É fascinante podermos hoje olhar para o conjunto de parábolas e perceber como o próprio Cristo anunciou o Seu reino entre os homens e ensinou sobre aquilo que devemos aguardar. Que belo quadro escatológico é pintado pelo Salvador. Ainda antes de Sua obra redentora na cruz, revelando a verdade eterna e o cumprimento das profecias em Si mesmo.
Entretanto, parece que esse quadro foi enxergado por quem O ouvia, (conforme Mc. 4:12 e Mt. 13:10-15) cumprindo-se neles a profecia de Is. 6:9-10. Mesmo os discípulos frequentemente precisavam que o Mestre lhes ajudasse a compreender.
Através das parábolas, o próprio Rei ensina sobre os valores do Seu Reino, e instrui a respeito de como aguardar pelo Seu Reino. Isso é o que vemos, por exemplo, através da parábola das Dez Virgens, dos talentos e da parábola das Bodas. Jesus fala sobre o Reino como uma realidade presente, já inaugurada com a Sua encarnação. Mas ainda como uma realidade futura, que entendemos que será consumada e estabelecida no Seu retorno, e
pela qual devemos aguardar preparados e vigilantes.

As parábolas ensinam sobre Esperança

Cantamos as parábolas porque elas instruem sobre a Esperança que sustenta os nossos corações.  A chegada do Noivo, o retorno do Rei, a Grande Colheita do Semeador. O encontro no regresso à casa do Pai, o encontro com o Bom Pastor, o julgamento diante do Justo Juiz, a sentença paga pelo nosso Resgatador e Libertador. Essas e tantas outras narrativas revelavam aos judeus a já presente realidade daquilo que seus pais aguardavam. E hoje elas apontam para a nossa esperança, incendeiam o nosso coração em amor por Aquele que prometeu e é fiel para consumar a promessa.
É um privilégio poder ler e buscar compreender a teologia do próprio Cristo a respeito do Reino através das parábolas. Maior privilégio ainda é poder ter essas verdades enraizadas em nossos corações através de canções que gravam, em melodia, a riqueza do conhecimento de Deus.

Ele não foi abalado

A pandemia abalou o mundo, fomos pegos de surpresa e nossa rotina está completamente mudada. Existe muita incerteza e confusão; líderes e cidadãos anônimos isolados e perplexos procuram entender como viver os próximos capítulos da história mundial. Mas em meio ao caos nós encontramos plena segurança e esperança ao lembrar que Aquele que se assenta sobre o círculo da Terra não está surpreso, o Trono não foi abalado e Ele permanece Senhor absoluto de toda história. Isaías 40 nos lembra que o Senhor é quem estabelece os limites de todas as coisas e Ele permanece soberano sobre tudo e todos.

Quem mediu na concha da sua mão as águas, e tomou a medida dos céus aos palmos, e recolheu numa medida o pó da terra e pesou os montes com peso e os outeiros em balanças? Quem guiou o Espírito do Senhor, ou como seu conselheiro o ensinou? Com quem tomou ele conselho, que lhe desse entendimento, e lhe ensinasse o caminho do juízo, e lhe ensinasse conhecimento, e lhe mostrasse o caminho do entendimento? Isaías 40:12-14

A Bíblia diz também que Ele conhece o final dessa história desde o princípio, segundo Isaías 46.

“Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam;” Isaías 46:10a

Em momentos de crise procuramos encontrar uma explicação racionalmente aceitável do porquê tudo isso está acontecendo.  E como resultado desse esforço geralmente chegamos a uma das seguintes conclusões: ou acreditamos que sabemos exatamente o que Deus está fazendo – e muitas vezes pensamos que Ele está punindo alguém por um pecado específico – ou negamos que Deus esteja no controle do mundo e pensamos que não há propósito para nada disso. Mas acredito que adicionar o peso extra da explicação à dificuldade da situação é a última coisa que precisamos. Não há na Escritura nenhum lugar que diga que devamos fazer isso. Muitas vezes não fará sentido desse lado da eternidade, e está tudo bem. Ele é Deus, nós não.

A Palavra gera em nós confiança

Nesses momentos precisamos de sobriedade e equilíbrio. Em meio à crise precisamos simplesmente crescer em confiança na Palavra de Deus. Ela – e não as circunstâncias – define a verdade. Não são os nossos sentimentos ou a nossa percepção limitada das circunstâncias que definem o caráter de Deus. O fato histórico e redentor da cruz e da ressurreição torna-se a verdade sobre a qual permanecemos. Nossa Rocha Eterna e Esperança inabalável estão no Cristo ressurreto, mesmo que nossas circunstâncias sejam abaladas.

Independente daquilo que temos experimentado, estamos firmados Naquele que era, que é e que há de vir. E assim como Ele permanece para sempre, firmados na Sua Palavra, nós também podemos permanecer.

Precisamos seguir o conselho de Provérbios 3:5

“Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento;” Pv. 3:5

Nesses dias, devemos nos manter informados, mas manter a nossa mente cheia da verdade e da esperança encontradas no Senhor. Ele permanece o mesmo de eternidade em eternidade, Soberano em conduzir a história. Ainda que o mundo foi abalado, o trono não foi.