Como adorar a Deus em meio à dor
Ainda que sejam uma garantia em nossas vidas, os momentos de sofrimento dificilmente vêm acompanhados de euforia e empolgação. E, em meio aos sentimentos conflituosos que podem surgir nos trechos mais penosos da nossa caminhada, podemos sentir que é impossível agradar e adorar a Deus enquanto somos tomados pela dor.
O que adoração tem a ver com dor?
A adoração não é restrita a um momento durante o culto congregacional, nem tampouco à música. Ela está presente ao longo de todo o nosso dia, desde que abrimos os olhos pela manhã até repousar a cabeça no travesseiro à noite.
Em todas as nossas ações adoramos algo ou alguém. Quando agimos de acordo com o egoísmo nato da pecaminosidade que habita em nós, adoramos a nós mesmos. Em contrapartida, quando obedecemos à Palavra de Deus e nos movemos pelo Espírito, estamos adorando ao Senhor. Se a adoração é uma resposta à revelação de quem Deus é, então em tudo nossas vidas deve expressar aquilo que já contemplamos dEle.
E é aí que a dor entra. Os sofrimentos fazem parte dos nossos dias desse lado da eternidade, e a forma como reagimos a eles pode ser uma adoração ao Senhor – ou não.
Corra para Ele, não dEle
Ao longo da jornada, nos depararemos com situações em que a grande pergunta “por quê, Deus?” invadirá nosso coração, e dele sairá frustração e revolta contra o Senhor.
À medida que somos tomados por esses sentimentos, muitos de nós podem tomar um caminho contrário ao que leva a Deus. Em uma tentativa frustrada de nos escondermos dEle, o movimento de fuga nos afasta do Pai e distancia um relacionamento que deveria ser íntimo.
Resistir a este ímpeto nem sempre é tarefa fácil, mas mesmo em meio ao turbilhão de emoções precisamos nos lembrar de que um Ajudador está disponível – e disposto – a nos conduzir no caminho que leva ao Pai. E, quando deixamos de correr dEle e passamos a correr para Ele, caminhamos pelo vale com a certeza de que Ele nos acompanha.
“Quando eu tiver de andar pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; tua vara e teu cajado me tranquilizam.” Salmos 23:4
Ore em todo o tempo
Ao escrever aos Tessalonicenses, Paulo os presenteia com uma série de conselhos que permanecem extremamente válidos nos dias de hoje, sendo um deles “orai sem cessar” (1Tessalonicenses 5:17). Isto é, em todos os momentos.
Ainda que em meio a algumas circunstâncias possa parecer impossível permanecer em oração, há poucas coisas tão efetivas a se fazer em meio à dor quanto orar.
“Os justos clamam, e o Senhor os ouve; livra-os de todas as suas angústias. O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado; ele salva os de espírito arrependido. As aflições do justo são muitas, mas o Senhor o livra de todas elas.” Salmos 34:17-19
Uma vez que nos posicionamos diante do Senhor, não precisamos fingir que está tudo bem. A oração é um lugar de entrega, onde nosso coração partido pode ser derramado diante de Deus.
Busque nEle sua alegria
Parece contraditório falar de alegria enquanto falamos de dor. Janet Erskine Stuart disse: “A alegria não é a ausência de sofrimento, mas a presença de Deus.”. Mesmo em meio ao sofrimento mais profundo, há alegria para aqueles que estão no Senhor.
Alegria não é sorrir o tempo todo, nem tampouco é a ausência de tristeza. Na verdade, a alegria diz respeito a fixar os olhos na eternidade e manter o coração esperançoso nas coisas do alto. É lembrar (e confiar) que o Senhor permanece inabalável mesmo enquanto somos abalados.
“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas videiras; ainda que o produto da oliveira falhe, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado do estábulo e não haja gado nos currais; mesmo assim, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação.” Habacuque 3:17-18
Seja grato
“Sede gratos por todas as coisas, pois essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” 1Tessalonicenses 5:18
Esse singelo versículo guarda uma exortação poderosa sobre gratidão. Não raramente nos questionamos sobre a vontade de Deus, buscando compreender coisas que nos foram encobertas. Porém, a revelação contida na Palavra é suficiente. Ao escrever aos irmãos em Tessalônica, Paulo nos deixou (de forma bem clara, inclusive) um dos desejos do coração do Pai, que de forma desenfreada tantas vezes ignoramos.
Somos instruídos a ser gratos sempre, ainda que não nos sintamos propensos à gratidão e que as circunstâncias não nos ofereçam motivos para agradecer. Quando nos posicionamos com ingratidão nosso coração endurece e não obedecemos a vontade revelada de Deus sobre nossas vidas.
Por outro lado, com o coração grato e satisfeito em Deus estamos adorando a Ele, caminhando na Sua suficiência e glorificando-O à medida que reconhecemos que o Seu amor é tudo de que precisamos.
“Mas ele me disse: A minha graça te é suficiente, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de muito boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que o poder de Cristo repouse sobre mim.” 2Coríntios 12:9
Se permita ser transformado
Em algumas circunstâncias pode parecer impossível enxergar propósito na dor, mas temos a garantia da Palavra do Senhor sobre isso.
“Meus irmãos, considerai motivo de grande alegria o fato de passardes por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé produz perseverança; e a perseverança deve ter ação perfeita, para que sejais aperfeiçoados e completos, sem vos faltar coisa alguma.” Tiago 1:2-4
Aqui está um dos motivos pelos quais passamos por momentos difíceis e dolorosos em nossa caminhada: para produzir perseverança e aperfeiçoar nosso caráter. Nas estações tranquilas e também naquelas em que tudo parece estar fora do lugar, o Senhor está fazendo Sua obra em nós (Filipenses 1:6), a fim de nos moldar à Sua semelhança (2 Coríntios 3:18).
Se permita ser consolado
Ao reconhecermos o processo gracioso do Senhor em nossas vidas, somos convidados a abaixar as nossas defesas e permitir que o Espírito Santo traga consolo aos nossos corações.
Quando Jesus vai até Lázaro, a pedido das irmãs Marta e Maria, Ele sabe que seu amigo ressuscitará. E, nestas circunstâncias, a Palavra nos diz que:
“Ao vê-la chorando [Maria], e também os judeus que a acompanhavam, Jesus comoveu-se profundamente no espírito e, abalado, perguntou-lhes: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor, vem e vê. Jesus chorou.” João 11:33-35
O Senhor chorou e comoveu-se com a dor e lamento do coração de Sua amiga. Ela derramou aos pés dEle suas lágrimas, e Ele chorou com ela. Assim também Ele chora conosco, se compadece de nós e se comove com a dor em nosso coração.
Jesus não tem medo do nosso sofrimento. Pelo contrário, Ele adentra a nossa dor ao invés de ficar alheio a ela. Ele continua perto de nós, mesmo quando tudo que temos para Lhe oferecer são as nossas amargas lágrimas.
Existem aspectos de Deus que somente conhecemos em meio ao sofrimento. Se a adoração é uma resposta àquilo que conhecemos de Deus, então nossas ações devem refletir aquilo que contemplamos em Sua face quando vivenciamos a dor.
Há beleza nos pedaços, mesmo quando não vemos. Por enquanto, O adoramos com aquilo que temos, mesmo em meio às dores. Mas algo belo está sendo construído com aquilo que foi partido em pedaços e, um dia, será manifestado plenamente. Nesse mesmo dia, “Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porque as primeiras coisas já passaram.” (Apocalipse 21:4).
Não haverá mais sofrimento, e Ele continuará sendo adorado, por toda a eternidade.