Um convite a fraqueza
Não sei como você chegou nesse texto, confesso que o título não é nada atrativo. Afinal, quem convida alguém a fraqueza? E quem em sã consciência aceitaria? É um convite radical direcionado a corações apaixonados. Vamos falar sobre o jejum e um dos efeitos dele sobre nós: fraqueza
Se você já aceitou o desafio de fazer um jejum alguma vez na vida, você já deve saber que o jejum é como uma prensa, ele extrai de nós o que temos para ser extraído. É desconfortável e por vezes agoniante.
Desejos não concedidos são barulhentos
Um dos chamados intrínsecos no chamado ao jejum é o convite a abraçar fraqueza voluntária. Quando intencionalmente nos abstemos de prazer, conforto ou necessidades humanas básicas, como a comida ou entretenimento, podemos ver saindo de nós várias respostas. Literalmente não deixamos de alimentar e fortalecer quem normalmente tem a voz de comando na nossa vida e isso tem um efeito colateral.
Somos seres nascidos e criados para prazer. Somos formados por desejos. Não percebemos muito isso até que esses desejos não sejam supridos. Quando suas vontades são negadas eles como crianças birrentas, fazem escândalo querendo serem obedecidos a qualquer custo.
“Uma das primeiras coisas que descobriremos quando nos entregarmos ao jejum e à oração, e ao silenciar a carne é que nosso clamor interno é mais escandaloso do que imaginávamos. Nada revela o quanto nossos desejos e anseios são barulhentos até eles terem seus apelos negados.” (As Recompensas do Jejum, pg. 75)
Esse barulho nos denúncia: não somos tão fortes ou espirituais como achávamos, somos fracos e necessitados de misericórdia urgente. Por incrível que pareça na constituição do reino de Deus isso é uma coisa positiva e boa para nós.
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. – Mateus 5:3,4
Por que eu abraçaria a fraqueza?
Essa resposta é simples: porque Jesus abraçou a fraqueza! Vamos lembrar das palavras de instrução de Paulo em Filipenses 2:
Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz. Filipenses 2:5-8
O jejum é um dos métodos pedagógicos de Deus para doutrinar nosso corpo, mente e coração a escolher e buscar o que realmente importa, o que realmente é necessário. É como bradar ao Senhor, mesmo em dor e agonia da nossa carne: “- Deus, você é a coisa mais importante, posso viver sem comida, sem prazeres, sem conforto, mas não posso viver sem você!”. E pregar para a própria alma: “- Oh minh’alma, deleite-se no Senhor, todo seu anseio é pelo seu Criador. Você será suprida, Ele é suficiente”.
Catalizador de santificação
A exposição a fraqueza do jejum vai nos deixar mais conscientes de como ainda somos carnais, idólatras, egocêntricos e egoístas. Nosso único escape nesse cenário é correr para Deus, que por outro lado está abastecido de graça abundante e pronta para ser liberada em nossa direção. Graça essa que vem com favor para viver de maneira digna do chamado e pulsantes no primeiro e maior mandamento: amar ao Senhor com todo coração, alma, força e entendimento. A consciência pode ser encaminhada ao arrependimento e logo a transformação.
Alinha os afetos – “teu amor é melhor que o vinho”
O jejum vai fazer a carne perder forças, ser desmascarada e morrer. Ao mesmo tempo que seu homem interior será fortalecido e abastecido com a verdadeira comida, seus afetos e desejos serão reconduzidos e reeducados. Ou seja, o prazer em Deus aumenta.
Chegaremos cada vez mais à percepção de que “o seu amor é melhor que o vinho” (Cantares 1:2). Essa declaração não diz só que Deus é melhor que o pecado, mas que ele também é melhor que os prazeres lícitos. Nossos amores serão realinhados a viver a premissa que Deus é melhor que a mentira, inveja, imoralidade e drogas. Mas também aprenderá que Deus é melhor que comida gostosa, um bom casamento, amor dos filhos, sucesso no emprego, ministério ungido.
A dinâmica do reino é confusa e de cabeça para baixo para nós, porém é completamente o tipo de vida que fomos criados para ser e funcionar, ainda que o pecado nos puxe ao contrário. Minha oração por nós é que o anseio pela intimidade e conexão com Deus nos faça como Maria de Betânia, João Batista, Daniel e Paulo que escolheram a sua coisa mais importante que organiza nossas prioridades e anseios. Abraçando a fraqueza foram fortes em Deus.