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Respondendo corretamente a um cenário de injustiça

Vida Cristã

Hoje, o tema de justiça é mais relevante do que nunca antes. Com o crescimento da tecnologia e a globalização das nossas comunidades locais conectados aos mercados globais, nunca fomos tão cientes das dores, caos e sofrimento humano que invadiu o nosso mundo hoje. Imagine que uma bomba cai na Síria e momentos depois tem pessoas no Brasil assistindo, em seu feed do Facebook, essas imagens de um pai caindo em meio às ruas, destruído, carregando o corpo de seu filho, cheio de sangue e sem vida. Quando foi um tempo que tivemos tanta exposição e acesso, em tempo real, às injustiças que invadem as comunidades globais?

Assumindo a responsabilidade

Tem crescido o entendimento de que nós, como seres humanos, temos uma responsabilidade de lutar pela justiça, falar contra corrupção e ser parte de uma mudança positiva na nossa geração e a igreja precisa estar na linha de frente liderando esse movimento para uma mudança social. Mas, a maneira que caminhamos nisso é crítica à integridade da nossa fé e à promessa da glória de Jesus enchendo a terra como as águas cobrem o mar (Habacuque 2:14). 

Respondendo à injustiça:

Como que respondemos à injustiça? Quando olhamos os evangelhos e vemos os ensinamentos de Jesus, de todas as coisas que Ele poderia falar sobre justiça ele disse isso:

E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?” Lucas 18:7-8

Nessa parábola, Jesus podia ter nos dado um texto sobre como escrever uma legislação de Deus, como eleger líderes justos ou como criar respostas sociais estratégicas. Mas, ele não fez isso. Jesus conectou a liberação de justiça rápida ao Corpo de Cristo, que persistentemente clama em oração dia e noite. Oração é o fundamento para a justiça ser liberada na nossa sociedade. 

O poder da oração

Há duas coisas que a oração faz que nada mais consegue fazer: 

  1. Oração conecta o nosso coração ao Deus da Justiça. No lugar de oração nós encontramos, em Isaías 42, o Rei Servo que “não mostrará fraqueza nem se deixará ferir, até que estabeleça a justiça na terra.” (Isaías 42:4). Enquanto contemplamos Jesus, entramos em comunhão e ouvimos seu coração, então oramos isso de volta a Ele e concordamos com o que Ele quer fazer na terra. 
  2. Oração nos engaja na batalha espiritual que está acontecendo atrás dos sistemas da injustiça, atos de abuso e das guerras que invadem nossa sociedade hoje. A injustiça está prosperando porque o inimigo está lutando contra aqueles que carregam a imagem de Deus. Neste lugar de oração abrimos nossas bocas, declaramos a Palavra e lutamos contra esse fatores espirituais (Efésios 6:12).

O Segundo Mandamento

Precisamos ser uma igreja que não desvia o olhar da depravação e injustiça do nosso mundo hoje. Temos quer ser um povo que vê a injustiça da mesma forma que Deus vê e que está engajado em oração para que justiça divina seja derramada. E sermos aqueles que mantêm os corações vivos em esperança e que são dispostos a ir aos pobres e aos oprimidos com uma mensagem e ações de esperança, cura e restauração. 

À medida que amamos o Senhor nosso Deus com todo o nosso coração, mente e força, tendo comunhão com Ele, o transbordar natural é que Jesus comece a compartilhar seu coração conosco, em amizade. Enquanto oramos por justiça em nossa cidade, Jesus começa a abrir nossos olhos ao sofrimento em nossa cidade e, então, Ele nos compele a ir. Amar o nosso próximo, o segundo mandamento, se torna um resultado direto e natural do primeiro mandamento. 

A verdadeira justiça

Nos evangelhos vemos 12 vezes onde Jesus foi “movido por compaixão”. Compaixão não é uma emoção que passa rapidamente, uma pena momentânea ou simpatia. Compaixão literalmente significa entrar no sofrimento do outro. Quando Jesus foi movido por compaixão, a fonte de toda vida foi movida e a ternura inesgotável e insondável amor de Deus foi revelada. Corpos foram curados, mortos se levantaram e Jesus foi visto como o Messias. 

Justiça para o pobre e oprimido nunca vai ser algo à parte de Jesus. Sim, nós podemos ver leis mudadas, programas sociais financiados, os necessitados sendo vestidos e alimentados. Mas, até que os necessitados conheçam o amor de Deus, sua salvação, e tenham suas vidas transformados por essa revelação, a justiça é incompleta. 

A Encarnação

Que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Filipenses 2:6-8

Na encarnação vemos a natureza verdadeira da compaixão no nosso Rei lindo. Ele se dispôs a entrar em nosso sofrimento e em nossa condição como homens fracos. Ele deixou as alturas da glória com seu pai, para se humilhar e caminhar conosco. Jesus pagou o preço final para entrar em nosso sofrimento. Ele viveu uma vida sem pecado e redimiu a humanidade na cruz. 

O maior exemplo

À medida que Jesus se humilhou e redimiu nossa humanidade, Ele nos chamou para fazer igual. Nos chamou para também abrir mão da nossa reputação, nosso conforto, finanças e  tempo, a fim de nos humilharmos para sofrer com aqueles que sofrem. Nossa disponibilidade a fazer isso nos faz ser canais para revelar a sua beleza, poder e a salvação de Jesus a um mundo quebrado e machucado. 

Não há justiça fora de Deus

Nós, desesperadamente, precisamos de justiça nessa hora, no Brasil. Como povo de Deus, temos que entender que não há justiça fora de Deus. Sua presença, transformando nossa condição humana, de caídos a redimidos, é central à justiça. O humanismo abraça soluções para a justiça dentro dos recursos, razões e ingenuidade dos homens. Mas, fora de Jesus, embora essa resposta seja útil, não nos faz alcançar a justiça por completo.

A Igreja tem que tomar uma atitude no lugar de oração para contender para justiça. Tem também que ser enviada, nessa hora, como povo embaixador, representando a revelação de Jesus, o único Justo, e seu reino. Temos que influenciar as áreas chaves, que são necessárias para trazer uma mudança na sociedade, algo multifacetado, que começa com oração e que cresce para causar efeito na cultura, nos políticos, no governo, na mídia e etc. Finalmente, nós temos que caminhar como Jesus caminhou e ser um testemunho de seu grande amor nos lugares escuros, onde a injustiça prospera. 

Os desafios de ser uma mulher no século 21 são significantes. Eu sou uma mulher há quase 50 anos e acho que é mais difícil agora do que era antes. Por que eu acho isso? Por causa da pressão constante e comparação em que nos colocamos.

O que você não vê no instagram

Mulheres têm mais oportunidades agora do que nunca antes, mas a natureza das nossas vidas públicas aumentou e agora tem uma luz destacando a nossa necessidade de provar o nosso valor. O jogo da mídia social é intenso. Eu sou grata pois não havia Instagram quando eu era uma mãe jovem, por exemplo. Eu tinha tantos momentos que não eram viáveis de postar e que, com certeza, não iam ganhar curtidas. 

Nós usamos as mulheres dos anos 50 como uma referência de mulheres que eram cobertas de deveres domésticos e nos sentimos mal por elas. Nós ainda sentimos essa pressão, mas, como mulheres, nos colocamos debaixo de maior pressão ainda através do postar sobre tudo. Quando eu cozinho uma refeição deliciosa e posto, me divirto nas curtidas e nos comentários de como realmente parece estar saborosa e de “como que eu acho tempo para conseguir cozinhar essas criações incríveis”, e blah blah blah. A verdade é que já fiz refeições que até um cachorro morrendo de fome não iria sequer tocar, muito menos postar uma foto para o mundo inteiro avaliar.

A vida real

A versão Instagram das nossas vidas é incompleta, mas ainda continua sendo o padrão pelo qual nos avaliamos. Você já entrou no seu Instagram e viu a vida perfeita de todo mundo só para se sentir desencorajada, sozinha e batalhando com fracasso? Eu sei que eu já. Uma mulher incrível uma vez me disse: “Você não pode ser super bonita, fazer uma janta incrível, arrasar no trabalho, ter uma casa limpa e ter crianças perfeitas no mesmo dia”.  Me lembro de me sentir, ao mesmo tempo, aliviada e frustrada enquanto ela me dizia isso. Além disso, pensava que se tentasse mais iria conseguir, mas sabe o quê?  Eu tentei mais, só que não consegui. Todos os seus seguidores do Instagram e amigos também não estão fazendo tudo perfeito. De uma certa forma Instagram é uma mentira. Ele tira um print de um momento de 10 segundos e agora o tempo parou bem naquele momento e foi elevado acima da realidade e colocado o padrão mais alto para alcançar a perfeição. Meus amigos, isso é um lixo. 

Mudando a perspectiva

A vida é sobre ritmos e não avaliando cada dia como se fosse um único dia. É sobre ver as nossas vidas num prazo maior.  Eu creio que Deus nos avalia de uma forma bem diferente do que imaginamos. 

Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” – 1 Samuel 16:7  

Eu vivo de maneira diferente quando estou ciente de que Deus está olhando meu coração e não a aparência externa ou o sucesso definido pelos outros. Então, estou falando para desistir do Instagram? Não, nenhum pouco. Eu estou dizendo para viver com um olhar diferente, para um audiência de um só. Deixe que aqueles olhos olhem para você ao longo dos vários dias da sua vida para te definir.

O que você pensa a respeito de oração? Será que você sabe orar?

Dependendo do contexto no qual você cresceu coisas diferentes podem vir à sua mente quando se pensa em oração. A senhorinha do coque, saia até o joelho e palavras de conhecimento tão certeiras que você tinha até medo de olhar nos olhos dela diretamente… Por que, vai que ela diz algo, né? Ou, talvez, aquele grupo que se reunia todas as quarta-feiras, às 6 da manhã, e que orava incansavelmente item por item da lista (interminável).

Seja qual tenha sido sua experiência, e sejamos sinceros, usei exemplos extremos aqui, a oração é um assunto que gera muitas emoções. Mas, será que essas emoções e noções se alinham com as verdades bíblicas? Será que nossas experiências têm mostrado a realidade eterna da oração?

Jesus ensina orar

Jesus veio para trazer salvação e a esperança de um futuro brilhante. Em seu período na terra participou da experiência humana de forma plena (Filipenses 2) e viveu como um de nós. Hebreus 4:15 diz que foi tentado em todas as coisas, porém, não pecou. Pense nisso! Jesus, o homem, experimentou as dificuldades, desafios e frustrações que você e eu passamos… E NÃO PECOU!

E algo que sempre me fascinou foi que na sua vida humana – não quando estava no céu, não quando tinham conferências, não quando havia uma campanha especial – no seu dia a dia havia sempre oração. Fossem momentos íntimos quando Ele se retirava, quando levava alguns mais próximos com Ele ou ensinando sobre isso, acima de tudo, a oração estava presente. Assim, Jesus, o filho de Deus, Estrela da Manhã, Primogênito dos Mortos, Testemunha Fiel (devo continuar?) acha relevante ensinar sobre algo em específico, e não apenas ensinar com palavras, mas ser modelo vivo disso, eu acredito que devemos prestar atenção. Portanto, vemos nos evangelhos seus exemplos de dia a dia, mas também, observamos momentos nos quais escolheu ensinar sobre isto. 

Em Mateus 6:6:

Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.”

Orando no secreto

Ele nos fala sobre o princípio de ter uma vida de oração e usa um adjetivo meio incomum: secreta. Porém, isso não significa apenas trancar-se no quarto (mesmo isso sendo muito legal e, às vezes, mais produtivo para evitar distrações), mas ter um diálogo interior entre você e Deus. Algo que ninguém tem como medir ou contabilizar na sua vida – algo secreto entre você e Aquele que sonda e conhece o coração.

E Jesus no seu ensino não para por aí! Ele fala sobre recompensa.

Se você viver um diálogo contínuo com Deus e falar com Ele no teu coração durante o dia, antes daquela reunião, depois daquela prova de 28 questões que te deixou até sem saber o seu próprio nome. Se você orar em línguas (ou tomar frases de versículos e declarar de volta para Ele), se você conversar com Ele parado no “maravilhoso” trânsito, Ele diz que haverá uma recompensa. E não é qualquer tipo de recompensa – ela será PÚBLICA, visível e externa. Não para jogar na cara de ninguém ou para demonstrar a sua profundidade, mas a tua vida se torna tão irresistível para Deus que as bênçãos que Ele derramará e as mudanças que serão geradas no teu interior, pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus, serão visíveis. Então, você quer crescer? Ore. Você quer aquela ideia de um milhão de dólares? Ore. Você quer ver transformação real? Ore.

Orar sem cessar

Por isso tudo, as regras do jogo forma mudadas. Dessa forma, a oração passa a ser parte do meu dia a dia e não apenas uma tarefa semanal eclesiástica. De repente, Deus está em todo momento, e eu não mais deixo-o para trás no domingo na Igreja ou no meu quarto depois da minha leitura bíblica… E, sem perceber, vivo orar sem cessar. Chocante? Sim, e totalmente alcançável. Como eu sei disso? Foi dica de Jesus.

A ideia de discipulado é clara desde a antiguidade. Os discípulos não queriam apenas saber o que um mestre sabia, eles queriam ser como seu mestre e viver como ele vivia.

Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, ide e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. Mateus 28:18-20 

Nessa passagem conhecida como “a grande comissão” podemos entender nosso chamado para o discipulado – fazer discípulos para Jesus. 

Isso foi o que Jesus fez quando chamou os discípulos para segui-lo. Ele os convidou para uma jornada em eles pudessem vê-lo caminhando em amor, retidão, justiça e piedade. Este é o desejo que Jesus, que o sigam, aprendam e andem como Ele andou. 

Ensinando a obedecer

Sim, é extremamente importante e parte essencial do discipulado ensinar as Escrituras, as verdades bíblicas e ensinar a interpretá-las. Até porque, se não entendermos de fato o que está escrito e se interpretarmos de forma equivocada os ensinamentos, como iremos obedecê-lo? Portanto, isso é da mais alta importância! Mas o ponto é que precisamos ir além disso. Jesus falou sobre “ensinar a obedecer tudo o que Ele nos ordenou” e isso vai além da parte teórica do estudo. Ele fala de levarmos outras pessoas a seguirem os passos Dele. Assim, obedecer o que Ele ordenou é feito de forma prática no dia a dia das nossas vidas.

Ele disse que deveríamos viver essa realidade, por isso não basta dizermos que Jesus mandou perdoarmos. Precisamos perdoar e mostrar como se perdoa. Desta forma, precisamos ser pessoas que andam com Cristo por tanto tempo, que se tornam parecidas com Ele, e assim, levamos outras pessoas nesse mesmo caminho. Precisamos ser aqueles que demonstram as atitudes Dele, que refletem o caráter Dele e isso deve ser feito na caminhada diária. Não se trata de uma mera transmissão de conteúdo, mas sim de ensinarmos com a nossa própria vida, o que é viver em Cristo. 

O custo do discipulado

Por isso, quando falamos de “ide e fazei discípulos”, estamos falando do ato de seguirmos a Jesus e do ato de ajudarmos outros a seguirem Ele. Há um custo para seguirmos a Jesus e ajudarmos outros a seguirem Ele. Isso é discipulado. É muito árduo você se encaixar na vida, nos planos e nas exigências de Jesus. O discipulado significa dizer que Jesus tem a primazia, que não mais vivemos nós, mas Cristo vive em nós. Em Cristo vivemos para a glória Dele e demonstrarmos isso através das nossas atitudes. Sempre que mostramos Cristo além de nós mesmos, estamos discipulando, levando outros a andarem como Jesus. Se, de fato, estamos em Cristo, somos seus discípulos, nunca deixamos de ser, e nessa jornada, temos o comando de ensinar aquilo que Jesus deixou para nós. Isso afeta diretamente tudo o que somos e como vivemos.

Que o Espírito Santo nos ajude a vivermos esse verdadeiro discipulado, caminhando juntos e ensinando a Palavra uns aos outros.

Alguma vez você já gravou um áudio no whatsapp para alguém e depois ouviu o seu próprio áudio?
Geralmente, nosso primeiro pensamento é: eu não tenho essa voz! Ou você se vê em um vídeo e acha estranho o que está fazendo, quando na verdade é exatamente assim que você se parece e assim que é a sua voz!

É isso é o que chamamos de autoconsciência: olhar para si e ver quem você realmente é, e ainda mais, a autoconsciência também nos ajuda a entender como somos percebidos pelas outras pessoas.

Autoconsciência: qual lente utilizamos?

Provavelmente você já se fez essas perguntas: Qual o sentido da vida? O que significa existir?O objetivo de se perguntar isso é nos trazer a autoconsciência. Essas são perguntas fundamentais de toda humanidade.

O problema é que muito do que vivemos no momento, reduzimos a uma “vida ruim”, quando na verdade um dia ruim é apenas um dia ruim. É um período de tempo de 24 horas que foi apenas difícil. Enquanto isso, em nossa mente, estamos tentando preservar nossa auto imagem que temos de todas as pessoas e criamos mecanismos de defesa chamados de “falsas realidades”. 

Criamos cenários em nossa mente em que interpretamos as situações para nos defender, ao invés de olharmos para aquilo que realmente está acontecendo. Ou seja, muito do que acreditamos sobre nós mesmos não é verdade, nós não temos uma visão honesta de quem realmente somos.

Conscientes e confiantes

E o que a autoconsciência faz é iniciar um processo em que começamos a olhar honestamente para onde estamos. 

“Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou.” – João 8:14

Basicamente, o que Jesus está falando é: “Se eu digo algo sobre mim mesmo, é verdade.”

Quem pode dizer algo como isso sobre si?

Alguém que é muito autoconsciente. Uma pessoa consciente e confiante daquilo que é. Alguém que diz: sei de onde vim e sei para onde vou. Aquele que entende a realidade de passado e presente, mas se move em direção a uma realidade futura. Uma pessoa confiante é alguém sabe quem é, e ninguém consegue mudar essa perspectiva de sua mente, pois ele sabe a  respeito de si mesmo e a realidade da verdade. 

Criados à imagem de Deus

Em Mateus 16 vemos Jesus perguntando sobre o que mundo está falando a seu respeito. Nesse capítulo ele nos ensina a respeito da autoconsciência e de como a igreja funcionará. Vemos que  precisamos analisar quais são os nossos valores, quem são nossos pais e qual o contexto em que estamos inseridos. E a autoconsciência nos ajuda a encontrarmos essas respostas e com que seja mais fácil olhar o que está acontecendo ao nosso redor e avaliar essa realidade.

Precisamos entender que somos únicos e criados à imagem de Deus. Porém, quando se trata das nossas emoções, de como nós percebemos o mundo, todos nós estamos em luta. E muitas vezes a luta é sempre a mesma, apenas manifestadas de formas diferentes, e isso, tipicamente, vai resultar em alguma disfuncionalidade em nossas vidas.  Portanto, precisamos da graça do Senhor e de Sua Palavra pra entendermos quem somos e nossas emoções também corresponderem conforme o que Ele pensa a nosso respeito. 

E uma última pergunta em relação a autoconsciência, seria para aqueles que querem se tornar líderes: vocês estão dispostos a parar de olhar para outras pessoas, querendo entender o que há de errado com elas e começar a olhar para si e tentar entender o que há de errado consigo mesmo?

Portanto…


“Examinem a si mesmos. Verifiquem se estão praticando o que afirmam crer. Assim, poderão ser aprovados. […]” – 2 Coríntios 13:5.

Em 1 Coríntios 10:12-13 lemos o seguinte sobre tentações: 

“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. “ (ACF)

Todas as vezes que pensamos em tentação, acreditamos que Deus está à parte disso, que talvez Ele não faça nada a respeito, pois sabemos que a tentação vem do diabo, segundo as nossas próprias fraquezas carnais (Tg. 1:13-15). Deus pode não nos tentar, mas Ele cria possibilidades para a tentação. Quem plantou a árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim? O próprio Deus. Quem levou Jesus para ser tentado no deserto? Deus. 

As tentações e o escape

Quando lemos Coríntios, vemos shop que com a tentação Deus provê o escape. Portanto, podemos dizer que a tentação é um presente para o cristão. Ele não faz para produzir o mal, mas para trabalhar algo dentro de nós. Ele deseja construir algo em nosso caráter que não é possível fazer fora da tentação. 

Na jornada da vida cristã aprendemos de diversas situações e formas, mas existe uma etapa que só compreendemos diante da tentação. Todo cristão terá que passar por isso, pelo caminho de aprendizado em que a obediência e paciência são formadas em nós.

Nem sempre a provação vem com tentação, Deus muitas vezes nos prova e isso pode ou não envolver tentação. Satanás nos tenta para derrubar e enfraquecer, e, não para trazer um ensino sobre algo. Porém, está dentro do plano de Deus produzir em nós um caráter aprovado através disso e que seja capaz de resistir às tentações.

Posicionando nosso coração

Deus deseja produzir em nós a humanidade perfeita de Jesus e isso custa caro. Estar em Jesus não significa pular etapas e pegar atalhos, mas passar por tentações como Ele passou. Então, se existe a possibilidade da tentação, em Jesus podemos vencê-la. A vitória de Jesus sobre as provações nos ajuda  posicionar nosso coração para ver a tentação como um presente.

“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” Gênesis 3: 1-7  (ACF) 

As tentações mudam a perspectiva

Esta é a narrativa da queda, em que algo mudou a perspectiva deles. Aquela que era apenas mais uma dentre todas as árvores do jardim agora se tornou a desejável. Satanás sempre usará desejos e sentimentos legítimos para mudar a perspectiva sobre as situações. O pecado é resultado disso, de  um pensamento distorcido e uma mentalidade errada que pode gerar uma crise de confiança.

Na narrativa da queda podemos observar como a serpente muda a perspectiva de Eva sobre a situação. Deus começa com uma afirmação: “De todas as árvores podereis comer…”. A serpente começa de outra forma: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore...”; ela começa logo com uma negação, conseguindo assim, mudar a visão de Eva. Agora ela não vê mais 499 árvores, ela só consegue ver que não possui 500. A serpente conseguiu capturar a atenção de Eva, colocando o foco justamente naquela que não pode comer e isso se tornou desejável. 

A voz da tentação começa com a negação e muda a nossa perspectiva. Não é com grandes mentiras, mas com a distorção da verdade que se dá a tentação. E quando a verdade é distorcida, também acontece uma distorção da nossa perspectiva da realidade; e assim gera o primeiro gatilho da tentação dentro de nós, a ingratidão. Não somos gratos por 499, pois precisamos de 500. Começamos ver a realidade pela perspectiva da falta. Não vemos mais o que foi nos dado, apenas vemos o que está faltando.

Como vencer a tentação?

Para vencer a tentação precisamos olhar para Jesus. No deserto, Ele mesmo foi tentado em Sua identidade quando satanás sugere que Ele transforme a pedra em pão. Ele poderia ter duvidado de quem Ele era. Geralmente somos tentados a duvidar da nossa identidade em Deus, daquilo que Ele afirmou sobre nós. Jesus nos ensina que a voz do caráter de Deus deve ser maior que a voz da carência.

É comum na jornada cristã tropeçarmos ou até cairmos, mas precisamos nos posicionar e resistir às tentações . Nós vencemos elas quando entendemos quem somos em Deus e quem Ele é para nós, quando resistimos às carências e obedecemos a voz do caráter de Deus revelado nas Escrituras.

Você deve esta se perguntando, o que é Coram Deo? O que isso significa? 

Muitos cristãos não conhecem, ouviram, ou mesmo tiveram contato com a palavra Coram Deo. Isso acontece devido há muitos fatores, um deles, é o distanciamento de uma geração de crentes do cristianismo histórico, da sua própria história e da tradição intelectual da igreja, fazendo de suas experiências empíricas a única forma de entender a vida e a realidade de Deus.  Mas esse não é foco desse pequeno artigo. Quero aqui, de uma forma direta, te ajudar a descobrir e entender o que de fato significa Coram Deo.  

Afinal, o que é Coram Deo?

Coram Deo é uma palavra em latim, usada principalmente durante a reforma protestante no século XVI. A sua tradução significa “diante de Deus”. Mas o que nos impressiona é fato do quão profundo é o conteúdo filosófico e teológico por trás das palavras. Seu foco principal é promover a consciência do que é uma vida cristã, sua essência e consequências. Porque viver na presença de Deus, perante Deus, sob a autoridade de Deus e para a glória de Deus vai muito além do “lugar secreto”.

A história cristã é marcada por muitas lutas e controvérsias. Irmãos que deram suas vidas – seguindo exemplo do seu Senhor, Jesus – para que a verdade pudesse ser transmitida e permanecesse. Das “grandes” lutas travadas por esses irmãos, está a noção do Senhorio de Cristo. Às vezes, até uma forma honesta, irmãos pensavam que a vida cristã era uma guerra entre dois mundos, de luta do bem contra o mal. E de dois reinos e dois reis. 

Sagrado e o profano

No período medieval era muito comum a ideia de dividir a vida e a realidade entre o sagrado e o profano; entre o religioso e o não religioso. A distorção dessa verdade promoveu um tipo de espiritualidade, mas parecida com neoplatonismo, aristotelismo e muitos outros “ismos” da filosofia clássica. E no período do iluminismo isso foi de fato “sistematizado” pelos cristãos, como uma forma de reação a tudo que estava acontecendo, diante de uma espiritualidade que não conseguia conectar a mensagem do evangelho com a vida, foi quase que inevitável a prática dessa dicotomia da vida, fazendo da vida cristã, da vida sacra “o mundo separado dos cristãos”. Então, foi contra esse tipo de pensamento reducionista que os reformadores protestaram afirmando que todos nós vivemos na presença de Deus, e que a vida é Coram Deo.

Lutero afirmava que:

“A existência humana é vivida coram deo, diante de Deus ou na presença de Deus.” Perguntaram a Lutero:  “O que um sapateiro convertido poderia fazer para servir melhor à Deus e ser um cristão melhor.” Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda por um preço justo”.

Calvino falou coisas muitos semelhantes. Destacou que em todas as dimensões da vida, os seres humanos têm “negócios com Deus”.  

Imago Dei

Precisamos ter a consciência de que todas as pessoas, apenas por serem humanos, são a imagem de Deus (Imago Dei). São responsáveis diante de Deus por tudo o que são, fazem e pensam. 

Cada pessoa vive coram deo, isto é, perante a face de Deus, e assim é responsável diante dele por todo pensamento e ação. Todos os homens vivem diante Deus, aceitam isso ou não, acreditam nisso ou não. Pense comigo, alguém regenerado pela obra Cristo, como deveria viver diante de tal realidade? 

Viver a vida inteira na presença de Deus é entender que absolutamente tudo o que estamos fazendo e onde quer que estejamos fazendo, nós estamos agindo debaixo do olhar fixo de Deus. Por isso, tudo que o homem faz, o faz para a glória de Deus ou para a sua desonra.

Deus: a referência de tudo

Por isso, o conhecimento de Deus tem que nos levar para uma vida coram deo. Conhecer a Deus não afeta só a nossa teologia, ela afeta todas as áreas do saber e do viver humano. Sendo Deus a referência para todas as coisas que nós conhecemos. Portanto, uma vida cristã precisa ser uma vida coram deo. Uma vida não apenas pautadas nas experiências empíricas ou “sobrenaturais”, mas porém, uma vida Teoreferente!  Isto é; ter a Deus como referência de tudo.  

Se Deus é referência de tudo que eu conheço, então a leitura que eu faço de todas as coisas tem um ótica teológica, ótica cristã, é coram deo. 

O teólogo holandês Herman Bavinck diz :

“Desta graça comum (a providência de Deus para todos, crentes e incrédulos)  procede tudo o que é bom e verdadeiro que ainda vemos no homem decaído. A luz ainda brilha nas trevas. O Espírito de Deus vive e trabalha em tudo o que foi criado. Logo, ainda permanecem no homem certos traços da imagem de Deus. Há ainda intelecto e razão; todas as espécies de dons naturais ainda estão presentes neles. O homem ainda tem percepção e uma impressão da divindade, uma semente da religião. A razão é um dom inestimável. A filosofia é um dom admirável de Deus. A música também é um dom de Deus. As artes e as ciências são boas, proveitosas e de alto valor.”

Dualismo

Concluo que, embora não estejamos na era medieval e nem na época do iluminismo, um olhar para grande parte da igreja hoje, vemos que o coram deo é algo que se perdeu. A maioria dos crentes de nossa geração vive um cristianismo que é totalmente divorciado da sua experiência de realidade. É um cristianismo subjetivo, que só é percebido, ou vivido, quando a pessoa está na igreja, servindo em algum ministério, ou quando está fazendo missões transculturais, fazendo da vida e da vida cristã uma dicotomia prática. É muito comum vermos cristãos, em geral novos convertidos, falando a seus pastores: “quero muito servir a Deus, há alguma vaga em algum ministério para mim?”

Assim, há uma supervalorização das atividades consideradas “espirituais” e uma negligência com relação às atividades chamadas “seculares”, como o estudo, o trabalho, a família e as outras responsabilidades que, em tese, não estão diretamente relacionadas à nossa fé.

Com o “sapateiro” perguntado a Lutero, poderia servir a Deus fazendo sapatos. Afinal, o que sapatos têm a ver com o Reino de Deus? A questão é que o Reino de Deus não se resume às atividades realizadas na igreja, mas envolve tudo o que fazemos, falamos e pensamos. Tudo deve estar debaixo do senhorio de Cristo. Toda nossa vida é para a glória de Deus, todo nosso ser, todas as áreas que possamos atuar ou vivenciar está debaixo da glória de Deus e devemos usá-las para honrar e glorificar a Deus!

Coram Deo: tudo para a glória de Deus

Como nos ensina Abraham Kuyper nessas duas falas históricas:

“Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: É meu!”

Portanto, devemos viver para glória de Deus, por meio do que somos e do que fazemos. Como ensinaram os apóstolos Paulo e Pedro: 

“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3:17)

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (1 Pedro 4.11)

Soli Deo Gloria!

Esta não é mais uma história sobre a antítese “pobre e rico”, “príncipe e plebeu”, não é um conto, muito menos uma história motivacional. Muitas vezes, nos deparamos com este precioso salmo davídico e não paramos para refletir as verdades profundas que ele carrega. “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”, não preciso me preocupar porque de fato não me faltará nada. Deus é meu pastor, então está tudo bem. Mas, será que eu realmente sei o que significa ter um Senhor? Eu sei mesmo o que é um pastor? O que ele faz, como cuida e se relaciona com seu rebanho? O que é um “Senhor”? Como alguém que é Senhor, pode ser um pastor?

Vamos meditar no primeiro verso do Salmo 23 e entender as preciosidades dessa frase e o que ele revela sobre o pastoreio do Senhor:

O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Salmo 23:1

O significado de Salmos 23

Neste salmo a palavra “Senhor” traduzida do hebraico “Yahweh”, significa “Aquele que existe”, “O único Deus verdadeiro”. Traduzindo do grego temos a palavra “Kurios“, a qual denota ao “direito exclusivo de posse e poder sem controle” significando supremacia, “Aquele a quem uma pessoa ou coisas pertence, sobre o qual ele tem poder de decisão”, e  “mestre, príncipe soberano”, de acordo com o dicionário strong.

A palavra “pastor” traduzida do hebraico “ra’ah”  significa “Apascentar, cuidar, alimentar, proteger” e também “associar-se com, ser amigo de, ser companheiro, um amigo especial”. Em João 10:11, Jesus fala: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. Nesse versículo de João traduzido do grego, a palavra pastor significa “poimen” e tem sentido de “aquele a cujo cuidado e controle outros submeteram e cujos preceitos eles seguem”, conforme o dicionário strong.

Quando me refiro a Senhor atribuo aquele que é o dono, o supremo, o Rei. Naturalmente pode soar um pouco distante, Ele é o Senhor, um Rei sentado num trono de Glória. Sendo assim, como uma simples ovelha indefesa ou uma menina com roupas comuns e sem beleza alguma pode se aproximar de um Senhor supremo e soberano?

Essa é a história de um Rei que governa e lidera com seu cetro de justiça as galáxias, a Terra, os céus e os mares, e se debruça sobre a ovelha para ser seu amigo próximo, ele se aproxima daquela menina e a chama para ter um relacionamento pessoal, construir uma amizade especial, se associar com ela, cuidar, proteger e alimentar.

E ele faz isso se aproximando de todas as maneiras possíveis, inclusive com vestes de pastor, deixa o cetro e pega o cajado, abandona a distância e vem pra perto. Se aproxima de tal forma que essa menina é capaz de “reconhecer sua voz” (João 10:4) e  se submeter à sua liderança.  Ela ama ser guiada e orientada por Ele, não apenas precisa dele, mas ela o quer. Este Senhor Pastor é sua busca ansiosa e desesperada, pois se ela sabe que O tem nada irá faltar.

O paradoxo perfeito

Essa é a história de amor de um Rei cheio de glória e também de um homem no madeiro, Ele é o Senhor Pastor que dá a vida por sua ovelha (Jo 10:11), é um mistério, parece o paradoxo perfeito, é loucura para os sábios, um escândalo imaginar, mas Ele é o Rei que troca o cetro pelo cajado, a glória pela simplicidade, o senhorio pela servidão e seu trono por uma cruz.

Com certeza você conhece o Salmo 23. Nele, há muitas verdades sobre Deus.  

“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.”  Salmos 23:1-6 

Há algo diferente neste Salmo. Não porque é um dos mais conhecidos, mas porque ali vemos Davi cantando para si mesmo o que ele sabia sobre Deus. Imagino que esse salmo saiu de um lugar de muita intimidade e uma obra artística da relação dele com seu Criador. 

O que Davi nos ensina das verdades sobre Deus

Nele, Davi não pede, não lamenta, não intercede, não fala sobre si… Apenas sobre o bom pastor. Davi estava cantando para si as verdades sobre Deus. 

Ao ler esse salmo, sabemos que para Davi, Deus era como um pastor, um provedor, aquele que proporciona descanso e renova suas forças e lhe ensina sobre justiça. E aquele que até nos momentos mais sombrios estaria ao seu lado, o protegeria e mesmo em meio ao caos seria abençoado com um banquete preparado pelo Senhor.

Davi sabia, com toda a certeza, que em todos os dias de sua vida, seria seguido pelo amor e pela bondade de Deus.

Imagine o coração apaixonado de Davi ao declarar para si essas verdades sobre Deus? Apenas a uma conclusão poderia chegar… Certamente era na presença do Senhor que ele habitaria para todo o sempre.

Como isso pode mudar sua vida?

No seu momento devocional, você já experimentou cantar ou orar salmos? Com o Salmo 23 é possível fazer uma oração de gratidão, adoração, entrega e de confiança. Há algo poderoso quando no seu lugar secreto, usando a Palavra, você declara à sua alma as verdades sobre quem Deus é. O resultado disso é um coração com a imagem de Deus profundamente consolidada. Isso é fundamental a vida cristã, pois nos momentos de dificuldade, desafios e turbulência você não tem suas crenças abaladas, porque elas estão bem fundamentadas nos atributos do caráter de Deus.

Cantar verdades sobre Aquele que é o “bom Pastor” também reflete na sua própria identidade. Quando a bíblia diz que somos a imagem de Deus, não se refere apenas a semelhança física, mas também às características do caráter de Deus em nós e ter essa certeza enraizada em seu coração muda como você se posiciona na vida. 

Precisamos dizer ao nosso coração que apenas Deus é tudo o que de fato precisamos, Ele é o provedor! Precisamos ter dentro de nós a certeza que mesmo em dificuldades, o próprio Senhor estará conosco. Se já temos Ele, então temos tudo!

Estamos vivendo um momento em nossa história em que a política é mal vista em todos os ambientes, ângulos e modos. Com o cristão não é diferente. De fato, diante de tantos escândalos e exposições da corrupção dos políticos de muitas nações (principalmente da nossa), isso não se torna uma surpresa. No entanto, essa realidade pode ser um pouco proveniente de nossa ignorância, visto que, precisamos compreender primeiramente que a política, em sua essência, não é má. De modo geral, a política é uma ferramenta de organização social, de adaptação de ordens, de leis e regras. É o modo de colocar as coisas em ordem de forma que uma sociedade, uma família ou qualquer que seja a instituição, funcione corretamente.

Espaços políticos

Possivelmente você discorde repentinamente ou até se assuste com essa informação, mas não há como viver em uma sociedade sem política. É isso mesmo! Na verdade, não temos a mínima condição de viver em uma sociedade anárquica, em que cada um vive como entende. E se tivermos a consciência das condições reais da humanidade, isso no mínimo nos daria o relance do caos sem dimensão que seria. Vou te dar exemplos práticos sobre algumas formas de política as quais não podemos simplesmente ignorar. Você participa de uma igreja onde, para tomar algumas decisões, se fazem assembleias? Você faz parte um grupo de convívio? Veja, isso é uma forma de política. Você mora em um condomínio onde existem reuniões para votação de decisões referentes ao lugar? Então, isso é política. Sua igreja apresenta uma divisão em departamentos, responsáveis por resolver questões e trabalhar em prol de um melhor funcionamento da instituição?  Simplesmente isso é política. 

Não há como viver sem política, mesmo em ambientes eclesiásticos. Logo, isso nos mostra que a política não é em si mesma má. Mas, então, você pode estar se perguntando: Há como fazer uma política boa? Sim! Sem dúvidas. A política está presente em nossas escolas, famílias, trabalho e em nossas relações. Então, administração política é imprescindível para nossa sociedade. 

Provavelmente você possa pertencer a grupos de pessoas que afirmam que: “política não é importante e nem boa porque não tem política na bíblia”. Isso é verdade? 

A política nas Escrituras

Quem falou que não tem política na bíblia? Vejamos.   

“Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu.” Gênesis 41.40 “…por tua boca se governará todo o meu povo”.

Essas são palavras de Faraó a José, o qual se tornara governador ao seu lado em uma posição política. Há outros exemplos de posições políticas na bíblia como Daniel, que em seu tempo tornou-se um personagem importantíssimo na corte da babilônia e Ester, que se tornou uma ferramenta de Deus para salvar os Hebreus exercendo tal característica. Assim como o rei Salomão e o rei Davi, que também atuavam politicamente sobre seu povo, e historicamente Israel que esperava a vinda do Messias, o qual iria transformar a história com uma postura política. E sim, Cristo virá e terá uma posição política sobre toda a terra!   

Mas, então, qual seria o problema? A explicação consiste na má política e no jogo político como troca de favores, esquemas e a busca do autobenefício. Tudo isso, no entanto, expõe uma corrupção já contida no próprio coração. O erro não está em um cristão assumir posições políticas em seu município, cidade ou estado, e sim que, por conta dessa corrupção e de um sistema maligno dominante, a máquina pública praticamente “funciona” por si só, e um cristão ao entrar é levado ao jogo dominante.  Isso significa que não existe um político honesto? Não, porém, quando encontrado é considerado como um herói ou é visto com mais desconfiança ainda devido a tanto descrédito. 

O Cristão na política

O questionamento agora é: “Como um cristão deve se enquadrar no espectro político? O Cristão deve assumir uma posição política? Abraçar um partido? É… Isso nos obriga a uma fundamentação mais difícil e talvez mais polêmica: Cristo tinha uma posição política?

É absolutamente impossível esgotar esse assunto neste breve artigo, e existem muitas pessoas capacitadas cujas explicações são vastas sobre o mesmo. Não obstante, irei deixar aqui alguns pontos, os quais considero de extrema importância para a nossa reflexão sobre o tema: 

Um breve histórico

Primeiro: O significado de “política” na Palestina do 1º século é muito discrepante do nosso entendimento de política, pois a ciência moderna, tampouco a ciência política existiam. Ao invés de constituir uma das esferas da sociedade como experimentamos nos últimos séculos, a política antiga era integrada no sentido religioso da vida. Por exemplo, o Imperador César Augusto era o “pai” do Império, e o filho de Apolo para governar o mundo. No entanto, a palavra “kyrios” ou “senhor” captura bem todos esses sentidos e não é à toa que a primeira confissão da igreja foi “Jesus Cristo (e não César) é o Senhor”.        

Jesus foi perseguido e morto por uma trama de partidos inimigos, os fariseus, os quais eram uma seita apocalíptica e influente fora de Jerusalém, uniram-se com a elite do Templo (saduceus) e com os herodianos (pró-Roma) para incriminá-lo e matá-lo. Quando chegou a hora de ser preso, Jesus fez questão de deixar claro que sua práxis e objetivos não se enquadravam aos dos revolucionários zelotes (“quem levantar a espada, pela espada morrerá”). Alguns estudiosos tentam aproximar Jesus ao movimento Essênio, porém, não há base textual suficiente para tal afirmação. Jesus, portanto, incomodou a posição de muita gente, para não dizer, de todas as gentes, afinal, Ele não se enquadra em nenhuma caixa.

Jesus e o Reino de Deus

Segundo: A preocupação com os pobres, oprimidos e a centralidade para o cuidado com o vulnerável é simplesmente INEGÁVEL na vida de Jesus, dos primeiros apóstolos, da igreja primitiva e mesmo da patrística. Jesus, como representante da tradição profética (“o último dos profetas”, o filho de Deus em quem toda profecia e lei se realizaram), era incansável em apontar a bem-aventurança dos pobres, condenar o abuso das riquezas e insistir que os que tinham dividissem com quem não tinham. Jesus afirmava que o Reino de Deus é o lugar dos que abrem a vida e comunidade para os excluídos pelo sistema Imperial e pela elite do templo, até mesmo firme posição sobre questões sexuais e forma como essa questão era tratava em sua época (leia o Evangelho de Marcos 7). 

Terceiro: O tema central da sua pregação era “o Reino de Deus”, e infelizmente, em muitos contextos evangélicos, o entendimento consiste em “ir para o céu imaterial quando eu morrer”. Entretanto, o Reino de Deus, segundo a oração do Pai Nosso, é a pregação de que a realidade Divina está invadindo, redimindo e transformando nossa condição presente. 

Sinalizadores de um Reino

O termo Shalom (paz) era o alvo: toda a criação, todos os sistemas e toda a humanidade deveria funcionar em justiça, amor, equidade e responsabilidade. O mundo perdido de Gênesis não seria encontrado em uma volta para o jardim. E, sim, em uma nova cidade – uma nova pólis, que o próprio Deus estava inaugurando em Jesus. Portanto, se somos cidadãos da nova pólis, devemos viver de acordo com sua política.

Mediante à exposição de tais questões, como cristãos e discípulos de Jesus, precisamos transformar nossa mentalidade e compreender que hoje somos sinalizadores de um Reino que será estabelecido sobre toda a terra e que os cristãos necessitam se envolver com políticas públicas para um bem comum social, e antes de ingressar em uma carreira política, questionar a si mesmo se possui vocação para a área, e se está disposto a governar uma cidade e não uma ideologia, igreja e afins. Como cristãos, devemos exercer nossa cidadania com lucidez e firmeza, aplaudir o correto e suplicar sempre por um governo justo para toda a sociedade e não apenas para os seus grupos religiosos. 

Seguindo o conselho do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo:

Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.1 Timóteo 2:1,2

Não seja apenas uma voz de denúncia da injustiça, como também uma voz de súplica para os que governam. 

Deus te abençoe.