Vivemos em um mundo onde o ceticismo e a incredulidade aumentam cada vez mais, não só na sociedade como também dentro da igreja. Como cristãos, não podemos nos ater apenas ao que é natural, pelo contrário, existe algo além do que podemos ver. Além do mais, o Espírito Santo ainda opera com seu poder e suas manifestações. Por isso, quero trazer aqui um pouco de algo que está disponível para nós: os dons do Espírito.
A “Bíblia” de Jefferson
No final do Outono de 1819, um homem chamado Thomas Jefferson, na época com 77 anos, comprou uma Bíblia e uma navalha, e ele passou alguns meses lendo os quatro evangelhos, e ele se ocupou em cortar com a navalha cada referência à divindade ou aos milagres de Jesus. Logo, ele publicou essa “nova porção” das Escrituras, onde ele dá o nome de “A vida moral de Jesus de Nazaré”, que é conhecida hoje como a Bíblia de Jefferson.
Nesse momento da história, em meados de 1819 e 1820, o mundo vivia o ápice do Iluminismo, um tempo onde os homens começaram a questionar tudo que até então era inquestionável. O Iluminismo trouxe a ideia de que era necessário existir uma explicação natural e razoável para qualquer coisa.
Assim, Thomas Jefferson aborda Jesus como um homem que tinha bons ensinamentos morais e foi um grande exemplo de sabedoria. Ele acreditava nisso, mas não acreditava na divindade de Jesus e nem mesmo em seus milagres. Portanto, vemos que existem muitos hoje que utilizam os ensinamentos de Jesus para ensinarem segredos para uma vida melhor e uma vida de sabedoria.
Abraçando o sobrenatural
É muito triste pensar que muitos cristãos vivem como se uma vida além do natural não estivesse disponível a nós. Assim, vivem como se os milagres e as grandezas que Deus fez fossem coisas do passado, que ficaram nas páginas da história. No entanto, empurrar o sobrenatural para as margens da nossa vida, nos rouba de ver a plenitude da Palavra de Deus. Além disso, também nos rouba de tudo que está disponível para aqueles que estão em Cristo.
Nós não temos como evitar o sobrenatural, afinal, ele está por todo lado, o tempo inteiro em nossas vidas: milagres acontecem todos os dias! Nós precisamos abraçar o sobrenatural, ter em nós o desejo de ver mais daquilo que Deus é capaz de fazer.
Os dons do Espírito estão disponíveis a todos
A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de conhecimento, pelo mesmo Espírito; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de cura, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas. Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, conforme quer. 1 Coríntios 12:7-11
Em 1 Coríntios 12, Paulo está dizendo que para cada um, Deus deu uma manifestação do Espírito. E ele deu os dons do Espírito não para nosso próprio benefício, mas para o bem comum. Assim, Deus, em sua bondade despejou sobre cada cristão dons do Espírito para benefício do corpo de Cristo.
Isso significa que nós nunca seremos plenos até que depositemos dentro da comunidade onde estamos inseridos, os dons que o Senhor nos concedeu. Então, esse texto de Paulo nos leva a compreender que nós precisamos uns dos outros. Pois afinal, dons diferentes foram derramados sobre cada para que, como corpo, possamos nos complementar.
O dom da fé
Um dos dons do Espírito que Paulo cita é o dom de fé. O dom de fé é a capacidade de visualizar o que precisa acontecer e ter e ter a habilidade de acreditar que isso vai acontecer mesmo que pareça impossível. Ou seja, é mais do que a fé salvadora que recebemos ao nos tornarmos cristãos. Logo, é uma habilidade de ver além das circunstâncias adversas e enxergar as oportunidades para Deus agir. Aqueles que possuem esse dom têm a convicção de que Deus é capaz de intervir de maneira extraordinária.
Esse é o dom de alguém que cava fundo, como quem diz: “eu sei que Deus tem um enredo e uma história e o fim disso será glorioso”. Portanto, no nosso ceticismo somos confrontados com nossas dúvidas, como: “será que Deus é capaz de fazer? não tenho certeza disso”. Diante de situações impossíveis somos confrontados, muitas vezes, com nossa falta de fé. Por isso, precisamos orar ao Senhor diante da nossa incredulidade.
O dom de cura
Outro dom do Espírito citado por Paulo é o dom de cura. Sendo assim, curar, significa “tornar íntegro aquilo que está quebrado, aquilo que está danificado e precisando de restauração”. Vemos aqui, o desejo de Deus de que através do seu povo, homens e mulheres sejam completos ou plenos. Ou seja, curar, não apenas no sentido físico, mas também no âmbito de cura emocional, cura plena em todos os sentidos.
Aqueles que possuem o dom de cura confiam que Deus pode curar o doente, eles oram em fé pela restauração física, espiritual, emocional e até mesmo psicológica dos necessitados. Ou seja, são pessoas que, movidas pela fé, Deus os usa para orar e trazer restauração.
No entanto, devemos ser honestos e reconhecer que, embora Deus seja capaz de curar, nem sempre acontece tão frequentemente quanto desejamos. Os céticos vão dizer: “Se Deus pode curar, porque os hospitais estão cheios?” Mas o que Paulo está nos trazendo aqui é que na verdade, o dom de cura refere-se ao romper do Reino por meio daqueles que, com fé, pedem por cura. Isto é, são aquelas pessoas que a primeira opção delas, ao se deparar com um doente, ou com alguém com dor, não oferecem remédio, mas oferecem oração. Elas crêem que Deus pode curar a qualquer instante, e persistem em orar por cura.
Dom de milagres
De acordo com o dicionário bíblico, “um milagre é um evento extraordinário que vai contra a natureza e não pode ser explicado pela ciência”. O que os cristãos acreditam é que eventos assim podem ser atribuídos a Deus. Por outro lado, o pensamento iluminista vê uma lacuna quando algo sobrenatural acontece. Mas nós olhamos e dizemos “vocês podem procurar lógica e sentido e não encontrarão, isso é um milagre!”
Existe um conceito chamado de “graça comum”. Isso significa que Deus dispensou bondade e misericórdia sobre todos, e de alguma maneira, tanto crentes quanto não crentes desfrutam de uma graça dada por Deus. Um exemplo disso é a capacidade que Deus deu ao homem de avançar na ciência e permitir que o avanço de cirurgias trouxesse o bem e a cura. Isso também é a mão de Deus. Mas o dom de milagres não pode ser vinculado aos meios naturais, não há como ser vinculado aos homens. O milagre não faz sentido, não tem lógica ou razão.
Dois extremos para ficarmos atentos
Quanto a isso, existem dois extremos que devemos ter cuidado:
1. “Deus quer curar qualquer situação a qualquer momento e se não curar é porque eu não tenho fé
Esse pensamento é perigoso, e coloca em nós o fardo de Deus não curar. A verdade é que Deus faz certas coisas porque em sua sabedoria, ele tem uma razão que nós não entendemos.
2. Quando Deus não faz, eu tento defender Deus
Algumas vezes, nos colocamos em um lugar de defender a soberania do Senhor como se Ele fosse um Deus frágil e incapaz de sustentar a sua decisão. Procuramos por explicações para diminuir as expectativas do que Deus é capaz de fazer.
Qual deve ser a nossa resposta?
Existe uma história que pode nos inspirar sobre como devemos responder quanto a isso, e está em Daniel 3.
Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste. Daniel 3:17,18
Nessa ocasião, Sadraque, Mesaque e Abedenego estão prestes a serem lançados na fornalha por se negarem a adorar a estátua do rei. Eles dizem que Deus é capaz de livrá-los. Mas se Ele não o fizesse, eles decidiram, ainda assim, não se render. Ou seja, eles sabiam que Deus era capaz, eles nunca duvidaram disso.
Essa deve ser a nossa resposta. Isto é, crer e confiar que Deus é capaz de curar e realizar milagres. Mas mesmo que Ele não faça, por razões que estão sob Seu controle, cabe a nós continuar crendo e confiando em Sua soberania.
Desta forma, devemos pedir ao Senhor que Ele nos ajude em nossa incredulidade. Como aquele pai na história de Marcos 9:17-24. Seu filho sofria com um espírito maligno há muitos anos. Veja:
(…)mas, se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos. Jesus disse-lhe: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade. Marcos 9:22-24
Jesus diz àquele pai que tudo é possível ao que crê. E ele responde: eu acredito, mas ajude a minha incredulidade. Logo, assim como a resposta desse homem, essa deve ser a nossa oração: “Senhor, ajude-me em minha incredulidade”
Que o Senhor possa te conduzir a esse lugar de crer que existe algo além, como os dons do Espírito, disponível para nós!