Em toda a Bíblia vemos exemplos da Palavra sendo comparada a algo que preenche nosso interior. Para Jesus, a Palavra era seu alimento. Nos salmos era comparada com o mel, para o salmista é o seu prazer e deleite. Para Jeremias, gozo e alegria no coração e para os discípulos, era a vida eterna. Mesmo com tantos exemplos, é possível estarmos em um contexto no qual apelidamos nossa leitura bíblica devocional de “pão diário” e não levarmos a sério seu significado. Se a Palavra é nosso alimento diário, significa que temos que abri-la e lê-la como se nossa vida dependesse disso – e depende! Precisamos nos alimentar, ou então morreremos espiritualmente.
Metas e planos de leitura
De fato, em meio a planos e metas de leitura bíblica, podemos cair em um lugar de desânimo. Se não organizamos bem nosso tempo, as circunstâncias podem facilmente nos roubar desse lugar de devoção. A leitura se torna um peso e uma obrigação ou uma tarefa a ser cumprida na longa lista de afazeres diários. Começamos a buscar várias maneiras de nos manter instigados pela Palavra. Adotamos diferentes métodos e recorremos a fontes externas de ânimo para continuar em nosso propósito.
Apesar de não ser errado se ater a planos de leitura bíblica (inclusive, é altamente recomendável), o que nos motivará a ler a Bíblia diariamente não será nossa força de vontade. O que nos mantém fiéis ao nosso compromisso de leitura – porque é um compromisso sério – é saber o porquê a leitura da Palavra é importante para nós como cristãos e discípulos de Cristo.
Não é apenas um livro
A Bíblia é mais do que o livro sagrado do cristianismo, é a fonte do conhecimento daquele que é a nossa esperança. Na carta aos Romanos, Paulo nos revela algo impressionante sobre a Palavra: ao lermos as Escrituras não somente obtemos informações ou adquirimos conhecimento sobre algum assunto, mas estamos nos alimentando de ânimo, perseverança e esperança (Rm 15:4).
Pode parecer estranho dizer que livros como Crônicas ou Números podem proporcionar esperança. A questão é que toda a Bíblia se trata de uma narrativa, na qual um livro complementa o outro, criando uma linha de raciocínio que aponta para Jesus. Não são apenas histórias para conhecermos ou sabermos de cor, mas são Palavras que nos orientam no caminho da justiça e retidão.
Fonte de esperança
Em João 1, a Palavra é uma pessoa: a pessoa de Jesus. Ele é o Verbo que estava desde o princípio com Deus. Ele é aquele que era, é e há de vir. Essa é a nossa esperança e esse é o assunto da Bíblia. De Gênesis a Apocalipse, tudo o que foi escrito foi inspirado por Deus para nos fazer perseverar até que Ele volte, inclusive perseverar na leitura das próprias Escrituras.
“Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança.”
Romanos 15:4
Fonte de vida
A Palavra é viva e eficaz em nos sondar e alinhar nosso interior ao dele (Hb 4:12). É mais do que um arrepio, mais do que um quentinho no coração, é o próprio Deus se fazendo acessível a todos. É o próprio Deus iluminando nosso conhecimento para termos revelação de quem Ele é (2 Co 4:6). O desafiador não é saber que á Bíblia é a Palavra de Deus e tem autoridade em nossas vidas – não temos dúvidas disso. Também não é possuir uma Bíblia ou ler um dia ou outro – temos fácil acesso às Escrituras no nosso país e todos gostamos de ler a Palavra. O desafiador é ler a Palavra em busca de vida; ler para viver.
Quando nos posicionamos para ler a Palavra, precisamos ter em mente que não estamos apenas cumprindo uma meta de leitura. Estamos nos achegando à nossa fonte de vida. O ser humano se torna facilmente religioso quando se trata da sua relação com a Bíblia. Não é difícil para nós colocarmos a leitura bíblica como uma obrigação ou colocar a Bíblia num pedestal (literalmente). Entretanto, é difícil interagirmos ou nos relacionarmos com o Deus que inspirou a Palavra através da Sua Palavra.
Palavras que falam
A voz de Deus é audível nas Escrituras, pois o mesmo Deus que falou no passado fala aos nossos corações hoje, seja qual for nosso contexto. Temos que nos achegar às Escrituras com o entendimento e o desejo de sermos transformados pela palavra do nosso Deus. Ele é o nosso pastor e é fiel em nos guiar no caminho da justiça, mas para isso é preciso que reconheçamos a Sua voz.
Então, quando não tivermos ânimo para ler a Palavra, é justamente a ela que devemos recorrer, sabendo que precisamos dela para viver. Nesse lugar de disciplina, o Espírito Santo alcança nosso interior, renovando nossa mente e moldando nosso caráter à semelhança de Cristo. Quero te encorajar a perseverar na sua leitura bíblica, mesmo quando ela for mecânica. Deus nos encontra nesse lugar de devoção e somos transformados pela Sua Palavra – mesmo quando não percebemos de imediato. Que esse entendimento atravesse nossos corações e nos consuma de fome e amor pela Palavra.
“Se tua lei não fosse meu prazer, o sofrimento já teria me destruído. Jamais esquecerei dos teus preceitos, pois é por meio deles que preservas a minha vida”
Salmos 119:91-92