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Seu propósito está em Deus

Você já pensou a respeito do que move os seus dias? É comum pessoas viverem no automático sem questionarem o por quê fazem o que fazem. Mas, mesmo vivendo dessa forma, existe um anseio intenso por um propósito. E sentir essa necessidade de “cumprir um propósito” é normal e humano, pois está atrelada ao “querer ser útil”. É a vontade constante de fazer a vida valer a pena.

O que acontece então é a busca pela felicidade, seja a longo ou a curto prazo. E quanto mais hoje em dia, em que as pessoas desejam um significado para as suas vidas, algo que direcione suas ações. Isto porque a felicidade é uma busca genuína e que tem relação íntima com a alma e a ambição subjetiva.

Neste sentido, você já pensou que este anseio por propósito é um sinal de que Deus é real e que a vida tem algo a mais?

“Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez.” Eclesiastes 3:11

Este versículo provoca a questionarmos as motivações diante do entendimento bíblico e da cultura atual. E, como consequência, entender o fundamento cristão para alicerçar todos os objetivos e ajudar a descobrir seu propósito pessoal.

E será que é certo pensar assim?

O sentimento de fazer a vida valer a pena e de fazer o possível para sentir que não está perdendo tempo, é natural. Até é comum ouvir os conselhos como “dar a volta por cima” ou “fazer o que outros não fazem”. Mas, a busca pelo sentido da existência não começou a ser definida na época atual.

A filosofia tenta tapar o buraco que essa incógnita causa desde a antiguidade. E ela, desde o começo, se concentra em enfatizar sobre a necessidade do conhecimento de si mesmo. Isso resulta em uma busca interna que não pode ser definida por nada que é externo.

A felicidade ganha espaço e passa a ser o propósito absoluto da vida e, portanto, desvinculado de regras ou de interferências. E o que se desenvolve ao longo do tempo é que você é livre para se definir e definir tudo a sua volta, tendo por base a sua razão, o seu próprio sentido, as suas experiências pessoais e as idealizações do que você consideraria perfeito. Isso é tão forte ainda, que este pensamento molda a cultura até hoje. O sentimento cultivado resulta sempre na expressão de si mesmo.

A fé cristã como resposta ao anseio por propósito

Já o cristianismo fez uma releitura de toda a realidade, inclusive da realidade interior, o que predominou na Europa e moldou inclusive sua arquitetura durante muitos séculos. A fé em Cristo revelou o sentido abrangente e coletivo da vida humana, não apenas individual. Com isso, a fé cristã trouxe o verdadeiro sentido à vida terrena como alguém que se prepara para a vida eterna. Cuidar do que está disponível hoje por ser dádiva de Deus.

A Bíblia dá o ponto de referência de como se viver. Isto porque ela proporciona a experiência da vida a partir do relacionamento com Deus, por meio da fé em Jesus Cristo. E esta fé é o chamado crucial de todo propósito. É onde a motivação é gerada em dois aspectos importantes a destacar aqui: primeiro em uma expectativa, e segundo, em um compromisso pessoal e coletivo com o que Deus criou. 

O cristão tem um compromisso com o próximo, e consequentemente, com a sociedade. E a expectativa em Deus de que Ele está conduzindo a história. 

John Piper, em um sermão, por exemplo, expressa muito bem o motivo do cristão:

“Nós existimos para expressar uma paixão pela supremacia de Deus em todas as coisas, para a alegria de todas as pessoas em Jesus Cristo.”

Descobrindo o seu propósito

O propósito está muito atrelado ao que você é. Mas, se a expressão de si mesmo for sua única motivação, talvez você está buscando definir o sentido da sua vida. Isso resultará em ansiedade e outros problemas. Também resultará em uma perspectiva pequena dos propósitos de Deus para a terra.

Mas, a Bíblia revela a existência de Deus, bem como a proximidade e o relacionamento do Senhor com toda sua criação. Porque a revelação de Jesus Cristo, como Senhor da vida e de tudo que existe, é o suporte suficiente e abundante para a alma. Ele é o significado de tudo o que você faz, porque glorificá-lo é o seu maior e mais relevante objetivo.

Em 1 Coríntios 10:12-13 lemos o seguinte sobre tentações: 

“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. “ (ACF)

Todas as vezes que pensamos em tentação, acreditamos que Deus está à parte disso, que talvez Ele não faça nada a respeito, pois sabemos que a tentação vem do diabo, segundo as nossas próprias fraquezas carnais (Tg. 1:13-15). Deus pode não nos tentar, mas Ele cria possibilidades para a tentação. Quem plantou a árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim? O próprio Deus. Quem levou Jesus para ser tentado no deserto? Deus. 

As tentações e o escape

Quando lemos Coríntios, vemos shop que com a tentação Deus provê o escape. Portanto, podemos dizer que a tentação é um presente para o cristão. Ele não faz para produzir o mal, mas para trabalhar algo dentro de nós. Ele deseja construir algo em nosso caráter que não é possível fazer fora da tentação. 

Na jornada da vida cristã aprendemos de diversas situações e formas, mas existe uma etapa que só compreendemos diante da tentação. Todo cristão terá que passar por isso, pelo caminho de aprendizado em que a obediência e paciência são formadas em nós.

Nem sempre a provação vem com tentação, Deus muitas vezes nos prova e isso pode ou não envolver tentação. Satanás nos tenta para derrubar e enfraquecer, e, não para trazer um ensino sobre algo. Porém, está dentro do plano de Deus produzir em nós um caráter aprovado através disso e que seja capaz de resistir às tentações.

Posicionando nosso coração

Deus deseja produzir em nós a humanidade perfeita de Jesus e isso custa caro. Estar em Jesus não significa pular etapas e pegar atalhos, mas passar por tentações como Ele passou. Então, se existe a possibilidade da tentação, em Jesus podemos vencê-la. A vitória de Jesus sobre as provações nos ajuda  posicionar nosso coração para ver a tentação como um presente.

“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” Gênesis 3: 1-7  (ACF) 

As tentações mudam a perspectiva

Esta é a narrativa da queda, em que algo mudou a perspectiva deles. Aquela que era apenas mais uma dentre todas as árvores do jardim agora se tornou a desejável. Satanás sempre usará desejos e sentimentos legítimos para mudar a perspectiva sobre as situações. O pecado é resultado disso, de  um pensamento distorcido e uma mentalidade errada que pode gerar uma crise de confiança.

Na narrativa da queda podemos observar como a serpente muda a perspectiva de Eva sobre a situação. Deus começa com uma afirmação: “De todas as árvores podereis comer…”. A serpente começa de outra forma: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore...”; ela começa logo com uma negação, conseguindo assim, mudar a visão de Eva. Agora ela não vê mais 499 árvores, ela só consegue ver que não possui 500. A serpente conseguiu capturar a atenção de Eva, colocando o foco justamente naquela que não pode comer e isso se tornou desejável. 

A voz da tentação começa com a negação e muda a nossa perspectiva. Não é com grandes mentiras, mas com a distorção da verdade que se dá a tentação. E quando a verdade é distorcida, também acontece uma distorção da nossa perspectiva da realidade; e assim gera o primeiro gatilho da tentação dentro de nós, a ingratidão. Não somos gratos por 499, pois precisamos de 500. Começamos ver a realidade pela perspectiva da falta. Não vemos mais o que foi nos dado, apenas vemos o que está faltando.

Como vencer a tentação?

Para vencer a tentação precisamos olhar para Jesus. No deserto, Ele mesmo foi tentado em Sua identidade quando satanás sugere que Ele transforme a pedra em pão. Ele poderia ter duvidado de quem Ele era. Geralmente somos tentados a duvidar da nossa identidade em Deus, daquilo que Ele afirmou sobre nós. Jesus nos ensina que a voz do caráter de Deus deve ser maior que a voz da carência.

É comum na jornada cristã tropeçarmos ou até cairmos, mas precisamos nos posicionar e resistir às tentações . Nós vencemos elas quando entendemos quem somos em Deus e quem Ele é para nós, quando resistimos às carências e obedecemos a voz do caráter de Deus revelado nas Escrituras.

Você deve esta se perguntando, o que é Coram Deo? O que isso significa? 

Muitos cristãos não conhecem, ouviram, ou mesmo tiveram contato com a palavra Coram Deo. Isso acontece devido há muitos fatores, um deles, é o distanciamento de uma geração de crentes do cristianismo histórico, da sua própria história e da tradição intelectual da igreja, fazendo de suas experiências empíricas a única forma de entender a vida e a realidade de Deus.  Mas esse não é foco desse pequeno artigo. Quero aqui, de uma forma direta, te ajudar a descobrir e entender o que de fato significa Coram Deo.  

Afinal, o que é Coram Deo?

Coram Deo é uma palavra em latim, usada principalmente durante a reforma protestante no século XVI. A sua tradução significa “diante de Deus”. Mas o que nos impressiona é fato do quão profundo é o conteúdo filosófico e teológico por trás das palavras. Seu foco principal é promover a consciência do que é uma vida cristã, sua essência e consequências. Porque viver na presença de Deus, perante Deus, sob a autoridade de Deus e para a glória de Deus vai muito além do “lugar secreto”.

A história cristã é marcada por muitas lutas e controvérsias. Irmãos que deram suas vidas – seguindo exemplo do seu Senhor, Jesus – para que a verdade pudesse ser transmitida e permanecesse. Das “grandes” lutas travadas por esses irmãos, está a noção do Senhorio de Cristo. Às vezes, até uma forma honesta, irmãos pensavam que a vida cristã era uma guerra entre dois mundos, de luta do bem contra o mal. E de dois reinos e dois reis. 

Sagrado e o profano

No período medieval era muito comum a ideia de dividir a vida e a realidade entre o sagrado e o profano; entre o religioso e o não religioso. A distorção dessa verdade promoveu um tipo de espiritualidade, mas parecida com neoplatonismo, aristotelismo e muitos outros “ismos” da filosofia clássica. E no período do iluminismo isso foi de fato “sistematizado” pelos cristãos, como uma forma de reação a tudo que estava acontecendo, diante de uma espiritualidade que não conseguia conectar a mensagem do evangelho com a vida, foi quase que inevitável a prática dessa dicotomia da vida, fazendo da vida cristã, da vida sacra “o mundo separado dos cristãos”. Então, foi contra esse tipo de pensamento reducionista que os reformadores protestaram afirmando que todos nós vivemos na presença de Deus, e que a vida é Coram Deo.

Lutero afirmava que:

“A existência humana é vivida coram deo, diante de Deus ou na presença de Deus.” Perguntaram a Lutero:  “O que um sapateiro convertido poderia fazer para servir melhor à Deus e ser um cristão melhor.” Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda por um preço justo”.

Calvino falou coisas muitos semelhantes. Destacou que em todas as dimensões da vida, os seres humanos têm “negócios com Deus”.  

Imago Dei

Precisamos ter a consciência de que todas as pessoas, apenas por serem humanos, são a imagem de Deus (Imago Dei). São responsáveis diante de Deus por tudo o que são, fazem e pensam. 

Cada pessoa vive coram deo, isto é, perante a face de Deus, e assim é responsável diante dele por todo pensamento e ação. Todos os homens vivem diante Deus, aceitam isso ou não, acreditam nisso ou não. Pense comigo, alguém regenerado pela obra Cristo, como deveria viver diante de tal realidade? 

Viver a vida inteira na presença de Deus é entender que absolutamente tudo o que estamos fazendo e onde quer que estejamos fazendo, nós estamos agindo debaixo do olhar fixo de Deus. Por isso, tudo que o homem faz, o faz para a glória de Deus ou para a sua desonra.

Deus: a referência de tudo

Por isso, o conhecimento de Deus tem que nos levar para uma vida coram deo. Conhecer a Deus não afeta só a nossa teologia, ela afeta todas as áreas do saber e do viver humano. Sendo Deus a referência para todas as coisas que nós conhecemos. Portanto, uma vida cristã precisa ser uma vida coram deo. Uma vida não apenas pautadas nas experiências empíricas ou “sobrenaturais”, mas porém, uma vida Teoreferente!  Isto é; ter a Deus como referência de tudo.  

Se Deus é referência de tudo que eu conheço, então a leitura que eu faço de todas as coisas tem um ótica teológica, ótica cristã, é coram deo. 

O teólogo holandês Herman Bavinck diz :

“Desta graça comum (a providência de Deus para todos, crentes e incrédulos)  procede tudo o que é bom e verdadeiro que ainda vemos no homem decaído. A luz ainda brilha nas trevas. O Espírito de Deus vive e trabalha em tudo o que foi criado. Logo, ainda permanecem no homem certos traços da imagem de Deus. Há ainda intelecto e razão; todas as espécies de dons naturais ainda estão presentes neles. O homem ainda tem percepção e uma impressão da divindade, uma semente da religião. A razão é um dom inestimável. A filosofia é um dom admirável de Deus. A música também é um dom de Deus. As artes e as ciências são boas, proveitosas e de alto valor.”

Dualismo

Concluo que, embora não estejamos na era medieval e nem na época do iluminismo, um olhar para grande parte da igreja hoje, vemos que o coram deo é algo que se perdeu. A maioria dos crentes de nossa geração vive um cristianismo que é totalmente divorciado da sua experiência de realidade. É um cristianismo subjetivo, que só é percebido, ou vivido, quando a pessoa está na igreja, servindo em algum ministério, ou quando está fazendo missões transculturais, fazendo da vida e da vida cristã uma dicotomia prática. É muito comum vermos cristãos, em geral novos convertidos, falando a seus pastores: “quero muito servir a Deus, há alguma vaga em algum ministério para mim?”

Assim, há uma supervalorização das atividades consideradas “espirituais” e uma negligência com relação às atividades chamadas “seculares”, como o estudo, o trabalho, a família e as outras responsabilidades que, em tese, não estão diretamente relacionadas à nossa fé.

Com o “sapateiro” perguntado a Lutero, poderia servir a Deus fazendo sapatos. Afinal, o que sapatos têm a ver com o Reino de Deus? A questão é que o Reino de Deus não se resume às atividades realizadas na igreja, mas envolve tudo o que fazemos, falamos e pensamos. Tudo deve estar debaixo do senhorio de Cristo. Toda nossa vida é para a glória de Deus, todo nosso ser, todas as áreas que possamos atuar ou vivenciar está debaixo da glória de Deus e devemos usá-las para honrar e glorificar a Deus!

Coram Deo: tudo para a glória de Deus

Como nos ensina Abraham Kuyper nessas duas falas históricas:

“Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: É meu!”

Portanto, devemos viver para glória de Deus, por meio do que somos e do que fazemos. Como ensinaram os apóstolos Paulo e Pedro: 

“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3:17)

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (1 Pedro 4.11)

Soli Deo Gloria!

Um dos maiores desejos do ser humano é ter uma vida relevante. E nessa busca por significado é necessário descobrir nosso chamado. Compreender o papel que temos na história nos dará clareza para tomar decisões coesas quanto ao futuro. É preciso ser intencional. E, quando entendemos quem somos e para o que fomos colocados neste planeta, viveremos com mais contentamento, pois, caminharemos em convicção do nosso chamado. 

Então, voltemos ao início da história, porque ela nos aponta o fim. Como nossa aventura começou? E por que Deus decidiu nos criar? Como homem e mulher, qual é nosso fim principal? Estas são perguntas que sempre permearam o coração da humanidade desde os primeiros dias. 

No livro do “começo”: Gênesis, observamos Deus criando todas as coisas e soprando o fôlego de vida sobre Adão. Deus decidiu o criar a Sua própria imagem e semelhança. E a verdade que Deus não faz nada ao acaso. Além disso, em Seu mandato, o Senhor ordenou ao homem a multiplicação e o governo sobre a criação. E tudo o que Deus faz é bom e tem um propósito. É preciso compreender nosso chamado, leiamos:

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança… Criou Deus, pois, o homem  à sua imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” Gênesis 1.26-28

Na viração do dia

Quando olhamos para o início da criação e vemos Deus nos fazendo como homens a sua própria imagem e semelhança, não podemos negar que há um mistério ali. Na viração do dia Deus se encontrava com o homem. Na viração do dia o Senhor vinha conversar. Mas, a queda fez com que Adão e Eva se escondessem de Sua presença. Porém, a voz de Deus ressoou pelo jardim.

“Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus… E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? (Gênesis 3.8a,9)

A pergunta de Deus continua a ressoar. E em meio ao caos humano Ele olha para nós e pergunta: “Onde estás?” Não porque Ele não nos vê. Mas, porque Ele quer nos fazer voltar ao jardim e desfrutarmos de Seu amor singular

Fomos chamados para o Amor

Lembro-me que ainda adolescente, ao fazer minha Pública Profissão de Fé, responder as perguntas do Breve Catecismo de Westminster era uma de minhas tarefas. E a primeira questão consistia em esclarecer: “Qual o fim principal do homem?” A resposta na ponta da língua dizia: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.” O que é totalmente verdade.

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” Romanos 11:36

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” 1 Coríntios 10:31

Mas, também é verdade que essa pode ser uma resposta bem ampla. Não devemos realizar adoração desconectada ao “gozá-lo para sempre”, isto é: sem amá-lo de todo o nosso coração, alma e força. Não devemos glorificar sem usufruir de Sua presença. Isto será como o sino que só faz barulho como descrito em 1 Coríntios 13. 

Sim, nós fomos feitos para Sua glória porque todas as coisas foram feitas para a glória de Deus. Porém, Ele nos criou para desfrutarmos de quem Ele É e de seu amor tão profundo. Ele nos criou para sermos filhos. Esse é nosso chamado principal.

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado,” Efésios 1:4-6

Nova Criatura

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Coríntios 5:17

Quando Cristo nos conduz a salvação, estamos apenas no começo da jornada. Compreendemos que desde o início da história fomos chamados a um relacionamento de amor e adoração em tudo o que fazemos. Tudo faremos para o louvor d’Aquele que tanto amamos. 

Com a mente renovada como filhos, somos novas criaturas. Entendemos que nosso papel é viver da mesma forma que Jesus viveu. Seguimos ao Seu exemplo. Nos lembramos que o principal mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. E isso tem a ver com a forma como servimos a Deus e aos nossos irmãos. 

Deus nos deu habilidades e dons singulares e há muitas formas de desenvolvermos ministério e serviço. Mas, de nada adianta o trabalho de nossas mãos se isso não estiver fundamentado em nosso chamado de amar a Deus e desfrutá-Lo acima de todas as coisas. 

Quantos de nós estamos familiarizados com a prática de parar e buscar conhecer a voz do Senhor através de um lugar de intimidade? Percebo que muitas vezes estamos tão atarefados em servir ao nosso Deus, que chegamos até mesmo a acreditar que essa seja a corrida que nos foi proposta. E constantemente, temos esquecido a melhor parte: estar com Ele e simplesmente ouvir a sua voz. Ouvir o que Ele tem pra nós a cada dia por meio da sua palavra. E assim, facilmente abrimos mão do nosso grande tesouro porque não conseguimos parar para conhecer o som da sua voz!

OUVI-LO É A MANEIRA SEGURA DE CONHECÊ-LO

Eu tenho experimentado algo novo acontecendo dentro de mim sempre que me ponho diante do Senhor para ouvi-lO. É nesse lugar que eu tenho sido exposta às Escrituras, à sua forma clara e segura de falar comigo. É onde eu percebo o mover de grande expectativa em meu interior por conhecer as verdades a respeito de quem Deus é e de quem eu sou nEle. Porque é nesse lugar de aprender a ouvir a Deus que o meu coração é iluminado para contemplar a realidade de Deus que toca todas as circunstâncias que me cercam.

É nesse lugar que eu reconheço as minhas falhas e dificuldades diante da luz da sua palavra. E que gentilmente percebo a Graça que me capacita para vencer os desafios reais na minha jornada! Certamente, não há outro momento em que eu sinta ser tão propício para ouvir a sua voz: Quando eu simplesmente me coloco diante dEle para esperar a sua direção, os seus conselhos, a sua voz, de maneira pessoal.

NOSSA PRIMEIRA AÇÃO É PARAR

A verdade é que sempre será desafiador mudar as nossas prioridades, o nosso primeiro fazer. E quando nosso primeiro fazer for parar? Parar diante dAquele que concede toda a sua atenção a nós, que é fiel em nos procurar e pacientemente nos desejar? A medida que eu começo a pensar profundamente sobre isso, posso então caminhar por meio da sua Graça ao dar início a essa busca de ouvir o Senhor. E reconhecendo que deverá ser constante estar nesse lugar de intimidade com Ele, eu busco a sua ajuda!

A boa notícia é que à medida que eu confio Nele, dia após dia, tudo vai se tornando mais leve, mais alinhado ao seu desejo em relacionar-se comigo, em compartilhar o som da sua voz. Então o meu coração não consegue ser nada menos que flexível, nada menos que facilmente ajustável ao Seu querer.

OUVIR OS SEUS CONSELHOS

Uma grande verdade sobre nós é que temos o íntimo desejo de conhecer os seus conselhos, saber quais são as suas palavras, discernir o som da sua voz ao ponto de que seja apenas ela que cerque os nossos passos, encha o nosso coração e renove os nossos pensamentos vez após vez.

Deus, o íntimo daqueles que te seguem deseja as tuas palavras, não apenas por um momento, mas por toda uma vida existe em nós o anseio de saber o que tens a dizer.

Ah, os seus sábios conselhos que jamais encontraríamos em nenhum outro lugar a não ser nesse em que podemos parar e renovar as nossas forças, em sua palavra. A forma como Ele fala nos constrange, nos levanta, nos faz chorar, nos consola e nos faz sentir a vida brilhando em nosso interior.

O LUGAR DE CONHECER TESOUROS

Ah esse lugar! Que presente é tê-lo disponível, que presente é saber que é possível ouvi-lo!

Tenho aprendido a desfrutar desse lugar de conhecer tesouros do coração de Deus enquanto estamos a sós, enquanto leio a sua palavra, rendendo o meu coração de volta a Ele. E eu sinto, sinceramente, como se eu me assentasse numa cadeira de madeira tão simples diante de sua majestade, do seu grande trono, e assim Ele me ensinasse! Eu ainda não conheci nada mais precioso do que ser ensinada por Ele, ser lembrada das palavras de Jesus por meio do Espírito Santo nesse lugar de intimidade e comunhão. Me dispor ao seu ensino e desejar mais do que qualquer outra coisa que possa ser legitimamente desejável.

Aceitai o meu ensino, e não a prata, e o conhecimento, antes do que o ouro escolhido. Porque melhor é a sabedoria do que joias, e de tudo o que se deseja nada pode se comparar com ela. Pv 8:10-11

A NOSSA GRANDE OPORTUNIDADE: OUVI-LO

Por fim, essa é a grande oportunidade da nossa jornada: ouvi-lo todos os dias!

Se pensarmos um pouco sobre o Salmo 19 em que “Os céus proclamam a glória de Deus!” Os céus que foram feitos por Ele dizem respeito a quem Ele é, imprimem honra ao seu nome! Quanto mais eu, reconhecerei o quanto devo buscá-lo, contemplando-O à luz da sua palavra, ouvindo a sua voz em meio a jornada, enquanto anuncio as obras que Ele faz!

É através dessa primeira coisa a fazer: estar com Ele, que devemos buscar nos mover antes de tudo! Conhecer quem Ele é e qual é o som de sua voz falando conosco todos os dias!

Por que um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos. O temor do Senhor é limpo, e permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos. (Sl 19: 2-4 e 7-10)

Quero dividir com você os tesouros que tenho descoberto desde que comecei a ler o livro de Salmos. Há cerca de  dois anos comecei a ler um Salmo cada vez que ia orar por alguém.

Assim, Deus começou a me mostrar tesouros nesta porção da Palavra. Vou mostrar para você um dos meus preferidos shop, o Salmo 84, e como é possível ser fortalecido através destas palavras. 

Para começar, vamos falar do Salmo 84. Observe como essas lindas palavras se tornaram uma das minhas orações preferidas. 

“Quão amável são os teus tabernáculos, ó Senhor dos exércitos!

A minha alma suspira! sim, desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.

Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde crie os seus filhotes, junto aos teus altares, ó Senhor dos exércitos, Rei meu e Deus meu.” Salmo 84: 1-3 

Esse Salmo me emociona todas as vezes que leio, pois lembro porque amo tanto essas palavras a ponto de tê-las gravadas em minha mente. 

Sim, nossa alma deve suspirar e clamar pelo Deus vivo e seus átrios. Assim como o pardal encontrou uma casa e a andorinha também achou seu ninho, devemos ter a certeza que nosso lugar seguro é com nosso Deus. 

Aliás, quero que você pense sobre isso, sobre esse lugar junto ao altares do Senhor. Reflita sobre o quanto esse lugar tem a nos oferecer. 

Salmo 84: somos parte do nosso Deus

O Salmo 84 sempre me mostrou que existe um lugar onde não nos sentiremos sozinhos, mas que seremos parte de algo. 

Nosso coração e nossa alma clamam pelo Deus vivo. Por um desejo de algo tão poderoso e forte que somente será suprido através de uma vida com Deus.

Assim sendo, ouse experimentar esse lugar que fala no versículo abaixo: 

“ Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus a permanecer nas tendas da perversidade.” Salmo 84:10 

Minha oração por você

Oro para você conseguir entender que é muito mais precioso estar à porta da casa do nosso Deus, do que estar nas tendas de tudo aquilo que desagrada o Senhor. 

O Salmo 84 me fez entender que amo e busco ao Senhor não para me manter longe do inferno, mas porque realmente necessito de Sua Presença para viver uma vida plena. 

Felizes são aqueles que entendem isso e colocam em prática. 

Afinal, você o busca por quem Ele é, por uma necessidade que só será saciada plenamente Nele. 

Quando entender isso, o pecado e seus altares não serão suficientes para suprir aquilo que somente será suprido na Presença do Soberano Deus. 

Leia esse Salmo completo hoje e deixe Deus ministrar ao seu coração como Ele tem feito comigo a cada vez que o leio. 

 

Esta não é mais uma história sobre a antítese “pobre e rico”, “príncipe e plebeu”, não é um conto, muito menos uma história motivacional. Muitas vezes, nos deparamos com este precioso salmo davídico e não paramos para refletir as verdades profundas que ele carrega. “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”, não preciso me preocupar porque de fato não me faltará nada. Deus é meu pastor, então está tudo bem. Mas, será que eu realmente sei o que significa ter um Senhor? Eu sei mesmo o que é um pastor? O que ele faz, como cuida e se relaciona com seu rebanho? O que é um “Senhor”? Como alguém que é Senhor, pode ser um pastor?

Vamos meditar no primeiro verso do Salmo 23 e entender as preciosidades dessa frase e o que ele revela sobre o pastoreio do Senhor:

O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Salmo 23:1

O significado de Salmos 23

Neste salmo a palavra “Senhor” traduzida do hebraico “Yahweh”, significa “Aquele que existe”, “O único Deus verdadeiro”. Traduzindo do grego temos a palavra “Kurios“, a qual denota ao “direito exclusivo de posse e poder sem controle” significando supremacia, “Aquele a quem uma pessoa ou coisas pertence, sobre o qual ele tem poder de decisão”, e  “mestre, príncipe soberano”, de acordo com o dicionário strong.

A palavra “pastor” traduzida do hebraico “ra’ah”  significa “Apascentar, cuidar, alimentar, proteger” e também “associar-se com, ser amigo de, ser companheiro, um amigo especial”. Em João 10:11, Jesus fala: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. Nesse versículo de João traduzido do grego, a palavra pastor significa “poimen” e tem sentido de “aquele a cujo cuidado e controle outros submeteram e cujos preceitos eles seguem”, conforme o dicionário strong.

Quando me refiro a Senhor atribuo aquele que é o dono, o supremo, o Rei. Naturalmente pode soar um pouco distante, Ele é o Senhor, um Rei sentado num trono de Glória. Sendo assim, como uma simples ovelha indefesa ou uma menina com roupas comuns e sem beleza alguma pode se aproximar de um Senhor supremo e soberano?

Essa é a história de um Rei que governa e lidera com seu cetro de justiça as galáxias, a Terra, os céus e os mares, e se debruça sobre a ovelha para ser seu amigo próximo, ele se aproxima daquela menina e a chama para ter um relacionamento pessoal, construir uma amizade especial, se associar com ela, cuidar, proteger e alimentar.

E ele faz isso se aproximando de todas as maneiras possíveis, inclusive com vestes de pastor, deixa o cetro e pega o cajado, abandona a distância e vem pra perto. Se aproxima de tal forma que essa menina é capaz de “reconhecer sua voz” (João 10:4) e  se submeter à sua liderança.  Ela ama ser guiada e orientada por Ele, não apenas precisa dele, mas ela o quer. Este Senhor Pastor é sua busca ansiosa e desesperada, pois se ela sabe que O tem nada irá faltar.

O paradoxo perfeito

Essa é a história de amor de um Rei cheio de glória e também de um homem no madeiro, Ele é o Senhor Pastor que dá a vida por sua ovelha (Jo 10:11), é um mistério, parece o paradoxo perfeito, é loucura para os sábios, um escândalo imaginar, mas Ele é o Rei que troca o cetro pelo cajado, a glória pela simplicidade, o senhorio pela servidão e seu trono por uma cruz.

Com certeza você conhece o Salmo 23. Nele, há muitas verdades sobre Deus.  

“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.”  Salmos 23:1-6 

Há algo diferente neste Salmo. Não porque é um dos mais conhecidos, mas porque ali vemos Davi cantando para si mesmo o que ele sabia sobre Deus. Imagino que esse salmo saiu de um lugar de muita intimidade e uma obra artística da relação dele com seu Criador. 

O que Davi nos ensina das verdades sobre Deus

Nele, Davi não pede, não lamenta, não intercede, não fala sobre si… Apenas sobre o bom pastor. Davi estava cantando para si as verdades sobre Deus. 

Ao ler esse salmo, sabemos que para Davi, Deus era como um pastor, um provedor, aquele que proporciona descanso e renova suas forças e lhe ensina sobre justiça. E aquele que até nos momentos mais sombrios estaria ao seu lado, o protegeria e mesmo em meio ao caos seria abençoado com um banquete preparado pelo Senhor.

Davi sabia, com toda a certeza, que em todos os dias de sua vida, seria seguido pelo amor e pela bondade de Deus.

Imagine o coração apaixonado de Davi ao declarar para si essas verdades sobre Deus? Apenas a uma conclusão poderia chegar… Certamente era na presença do Senhor que ele habitaria para todo o sempre.

Como isso pode mudar sua vida?

No seu momento devocional, você já experimentou cantar ou orar salmos? Com o Salmo 23 é possível fazer uma oração de gratidão, adoração, entrega e de confiança. Há algo poderoso quando no seu lugar secreto, usando a Palavra, você declara à sua alma as verdades sobre quem Deus é. O resultado disso é um coração com a imagem de Deus profundamente consolidada. Isso é fundamental a vida cristã, pois nos momentos de dificuldade, desafios e turbulência você não tem suas crenças abaladas, porque elas estão bem fundamentadas nos atributos do caráter de Deus.

Cantar verdades sobre Aquele que é o “bom Pastor” também reflete na sua própria identidade. Quando a bíblia diz que somos a imagem de Deus, não se refere apenas a semelhança física, mas também às características do caráter de Deus em nós e ter essa certeza enraizada em seu coração muda como você se posiciona na vida. 

Precisamos dizer ao nosso coração que apenas Deus é tudo o que de fato precisamos, Ele é o provedor! Precisamos ter dentro de nós a certeza que mesmo em dificuldades, o próprio Senhor estará conosco. Se já temos Ele, então temos tudo!

Estamos vivendo um momento em nossa história em que a política é mal vista em todos os ambientes, ângulos e modos. Com o cristão não é diferente. De fato, diante de tantos escândalos e exposições da corrupção dos políticos de muitas nações (principalmente da nossa), isso não se torna uma surpresa. No entanto, essa realidade pode ser um pouco proveniente de nossa ignorância, visto que, precisamos compreender primeiramente que a política, em sua essência, não é má. De modo geral, a política é uma ferramenta de organização social, de adaptação de ordens, de leis e regras. É o modo de colocar as coisas em ordem de forma que uma sociedade, uma família ou qualquer que seja a instituição, funcione corretamente.

Espaços políticos

Possivelmente você discorde repentinamente ou até se assuste com essa informação, mas não há como viver em uma sociedade sem política. É isso mesmo! Na verdade, não temos a mínima condição de viver em uma sociedade anárquica, em que cada um vive como entende. E se tivermos a consciência das condições reais da humanidade, isso no mínimo nos daria o relance do caos sem dimensão que seria. Vou te dar exemplos práticos sobre algumas formas de política as quais não podemos simplesmente ignorar. Você participa de uma igreja onde, para tomar algumas decisões, se fazem assembleias? Você faz parte um grupo de convívio? Veja, isso é uma forma de política. Você mora em um condomínio onde existem reuniões para votação de decisões referentes ao lugar? Então, isso é política. Sua igreja apresenta uma divisão em departamentos, responsáveis por resolver questões e trabalhar em prol de um melhor funcionamento da instituição?  Simplesmente isso é política. 

Não há como viver sem política, mesmo em ambientes eclesiásticos. Logo, isso nos mostra que a política não é em si mesma má. Mas, então, você pode estar se perguntando: Há como fazer uma política boa? Sim! Sem dúvidas. A política está presente em nossas escolas, famílias, trabalho e em nossas relações. Então, administração política é imprescindível para nossa sociedade. 

Provavelmente você possa pertencer a grupos de pessoas que afirmam que: “política não é importante e nem boa porque não tem política na bíblia”. Isso é verdade? 

A política nas Escrituras

Quem falou que não tem política na bíblia? Vejamos.   

“Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu.” Gênesis 41.40 “…por tua boca se governará todo o meu povo”.

Essas são palavras de Faraó a José, o qual se tornara governador ao seu lado em uma posição política. Há outros exemplos de posições políticas na bíblia como Daniel, que em seu tempo tornou-se um personagem importantíssimo na corte da babilônia e Ester, que se tornou uma ferramenta de Deus para salvar os Hebreus exercendo tal característica. Assim como o rei Salomão e o rei Davi, que também atuavam politicamente sobre seu povo, e historicamente Israel que esperava a vinda do Messias, o qual iria transformar a história com uma postura política. E sim, Cristo virá e terá uma posição política sobre toda a terra!   

Mas, então, qual seria o problema? A explicação consiste na má política e no jogo político como troca de favores, esquemas e a busca do autobenefício. Tudo isso, no entanto, expõe uma corrupção já contida no próprio coração. O erro não está em um cristão assumir posições políticas em seu município, cidade ou estado, e sim que, por conta dessa corrupção e de um sistema maligno dominante, a máquina pública praticamente “funciona” por si só, e um cristão ao entrar é levado ao jogo dominante.  Isso significa que não existe um político honesto? Não, porém, quando encontrado é considerado como um herói ou é visto com mais desconfiança ainda devido a tanto descrédito. 

O Cristão na política

O questionamento agora é: “Como um cristão deve se enquadrar no espectro político? O Cristão deve assumir uma posição política? Abraçar um partido? É… Isso nos obriga a uma fundamentação mais difícil e talvez mais polêmica: Cristo tinha uma posição política?

É absolutamente impossível esgotar esse assunto neste breve artigo, e existem muitas pessoas capacitadas cujas explicações são vastas sobre o mesmo. Não obstante, irei deixar aqui alguns pontos, os quais considero de extrema importância para a nossa reflexão sobre o tema: 

Um breve histórico

Primeiro: O significado de “política” na Palestina do 1º século é muito discrepante do nosso entendimento de política, pois a ciência moderna, tampouco a ciência política existiam. Ao invés de constituir uma das esferas da sociedade como experimentamos nos últimos séculos, a política antiga era integrada no sentido religioso da vida. Por exemplo, o Imperador César Augusto era o “pai” do Império, e o filho de Apolo para governar o mundo. No entanto, a palavra “kyrios” ou “senhor” captura bem todos esses sentidos e não é à toa que a primeira confissão da igreja foi “Jesus Cristo (e não César) é o Senhor”.        

Jesus foi perseguido e morto por uma trama de partidos inimigos, os fariseus, os quais eram uma seita apocalíptica e influente fora de Jerusalém, uniram-se com a elite do Templo (saduceus) e com os herodianos (pró-Roma) para incriminá-lo e matá-lo. Quando chegou a hora de ser preso, Jesus fez questão de deixar claro que sua práxis e objetivos não se enquadravam aos dos revolucionários zelotes (“quem levantar a espada, pela espada morrerá”). Alguns estudiosos tentam aproximar Jesus ao movimento Essênio, porém, não há base textual suficiente para tal afirmação. Jesus, portanto, incomodou a posição de muita gente, para não dizer, de todas as gentes, afinal, Ele não se enquadra em nenhuma caixa.

Jesus e o Reino de Deus

Segundo: A preocupação com os pobres, oprimidos e a centralidade para o cuidado com o vulnerável é simplesmente INEGÁVEL na vida de Jesus, dos primeiros apóstolos, da igreja primitiva e mesmo da patrística. Jesus, como representante da tradição profética (“o último dos profetas”, o filho de Deus em quem toda profecia e lei se realizaram), era incansável em apontar a bem-aventurança dos pobres, condenar o abuso das riquezas e insistir que os que tinham dividissem com quem não tinham. Jesus afirmava que o Reino de Deus é o lugar dos que abrem a vida e comunidade para os excluídos pelo sistema Imperial e pela elite do templo, até mesmo firme posição sobre questões sexuais e forma como essa questão era tratava em sua época (leia o Evangelho de Marcos 7). 

Terceiro: O tema central da sua pregação era “o Reino de Deus”, e infelizmente, em muitos contextos evangélicos, o entendimento consiste em “ir para o céu imaterial quando eu morrer”. Entretanto, o Reino de Deus, segundo a oração do Pai Nosso, é a pregação de que a realidade Divina está invadindo, redimindo e transformando nossa condição presente. 

Sinalizadores de um Reino

O termo Shalom (paz) era o alvo: toda a criação, todos os sistemas e toda a humanidade deveria funcionar em justiça, amor, equidade e responsabilidade. O mundo perdido de Gênesis não seria encontrado em uma volta para o jardim. E, sim, em uma nova cidade – uma nova pólis, que o próprio Deus estava inaugurando em Jesus. Portanto, se somos cidadãos da nova pólis, devemos viver de acordo com sua política.

Mediante à exposição de tais questões, como cristãos e discípulos de Jesus, precisamos transformar nossa mentalidade e compreender que hoje somos sinalizadores de um Reino que será estabelecido sobre toda a terra e que os cristãos necessitam se envolver com políticas públicas para um bem comum social, e antes de ingressar em uma carreira política, questionar a si mesmo se possui vocação para a área, e se está disposto a governar uma cidade e não uma ideologia, igreja e afins. Como cristãos, devemos exercer nossa cidadania com lucidez e firmeza, aplaudir o correto e suplicar sempre por um governo justo para toda a sociedade e não apenas para os seus grupos religiosos. 

Seguindo o conselho do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo:

Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.1 Timóteo 2:1,2

Não seja apenas uma voz de denúncia da injustiça, como também uma voz de súplica para os que governam. 

Deus te abençoe.

Falar sobre cultura é um grande desafio principalmente no meio cristão. A relação do cristão com a cultura sempre foi uma relação de tensões, dúvidas, convicções parciais e conflitos. A própria definição do termo ganha um sentido mais particular, dependendo da época em que ela é feita. Hoje, podemos observar que “cultura” é uma palavra bastante desgastada e ainda muito mal compreendida, com interpretações e nuances em cada contexto a que é aplicada.

Acredito que, enquanto vivermos “nesse mundo” ou nesse século – entendendo que essa é uma afirmação temporal e não uma divisão espacial, enquanto vivermos entre a encarnação e a parousia (o retorno de Jesus) esse será um problema na vida do cristão.  

Mas, o que é cultura? 

Em poucas palavras, são os hábitos, língua e vida artística cultivados em uma localidade ou nação: as histórias, os símbolos, a forma de política, as estruturas de poder, as estruturas organizacionais, o sistema de educação, os sistemas de controle, os rituais e rotinas, etc.  Tudo o que caracteriza a realidade social de um povo ou sociedade: valores, costumes, atitudes e crenças.

Para falar sobre o cristão e a cultura, precisamos lembrar que a igreja não nasceu em nossa geração. Precisamos ter um olhar humilde, examinando a história da igreja para ver como os cristãos do passado lidaram com a cultura.  

O teólogo H. Richard Niebuhr (1894-1962), dentro de sua pesquisa sobre o assunto, presenteou-nos com o livro Cristo e cultura. Nele, o autor apresenta cinco modelos de como os cristãos se relacionaram com a cultura ao longo da história. Até hoje, a pesquisa de Richard Niebuhr, a respeito desse tópico, serve como referência para teólogos, pesquisadores e para as igrejas, pois fornece ferramentas para descrever a forma que os cristãos encaram questões sociais, éticas, políticas e econômicas.

Precisamos entender que, quando o cristianismo surgiu, ele foi imediatamente convocado a enfrentar um difícil problema, pois os cristãos estavam imersos em um entendimento de realidade já existente e tinham sua própria forma de viver há tempos. Uma sociedade repleta de interesses intrincados já havia se formado – existia um Estado no qual seus cidadãos viviam; as artes e ciências tinham suas práticas desenvolvidas e eram elevadas em seu prestígio; costumes e hábitos sociais haviam assumido forma. Em suma, o Evangelho de Cristo encontrou uma rica vida natural, uma cultura altamente desenvolvida. 

Como relacionar-se com a cultura?

Em consequência, levantou-se a inevitável indagação sobre como ajustar as relações entre ambos. Será que os cristãos precisavam rejeitar tudo e viver como se tudo que estava nessa terra fosse uma obra do Diabo? É necessário criar uma cultura paralela, um universo à parte e tornar-se uma subcultura e contracultura radical? Ou ao invés disso abraçar sem reservas tudo como sendo bom, ignorando os aspectos da Queda e da idolatria humana? 

Acredite, todas essas indagações nos assolam até hoje, e ao olhar para a igreja evangélica no mundo é possível perceber que, de alguma forma, elas assumem uma dessas opções: ou tornam-se uma subcultura dentro de uma cultura, ou abraçam a cultura corrente a ponto de não mais observarmos um contraste de trevas e luz.

Mas será que existe uma maneira correta e saudável para essa relação com a cultura? Creio que sim, apesar de esse ser um grande desafio. Precisamos entender que os cristãos (homens resgatados pela obra redentora do Cristo), não foram resgatados do mundo para criarem um universo paralelo ou para abraçam as coisas como se “tudo” fosse bom, vivendo uma utopia. 

Contracultura

As palavras do Apóstolo Paulo aos Colossenses, de alguma forma precisam nos mostrar que a nossa relação com a realidade, deve repousar sobre esse conhecimento.  

“Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.
Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação,
pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia.
Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude,
e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.”  – Colossenses 1:13-20

E agora? De fato, precisamos olhar para a realidade, como intérpretes dela, pois agora a ressurreição não é apenas uma “esperança” e sim uma realidade. Em Cristo, podemos ser contracultura – denunciando as perversões e distorções da cultura, por isso dizemos que “não somos do mundo”, mas estamos no mundo. Em Cristo entendemos que todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele. 

Transformando a cultura

O cristão é um agente transformador da cultura, entretanto, ela deve ser levada cativa ao senhorio de Cristo, sem desconsiderar a Queda e o pecado, mas enfatizando que, no princípio, a criação era boa. Lá no princípio, logo após criar o homem, Deus deu a ele os mandatos criacionais (os mandatos espiritual, social e cultural):

E Deus os abençoou e lhe disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” – Gênesis 1:28

Do mesmo modo que, um dos objetivos da redenção é o anúncio do Reino de Deus, e a cultura não está fora desse Reino. A realidade da ressurreição é espiritual, cósmica e histórica, e a cultura não é algo externo a isso.  Sendo assim, por mais iníquas que sejam certas instituições, elas não estão fora do alcance da soberania de Deus. Ou seja, mesmo sabendo da queda – que não pode ser ignorada, o cristão não abandona a cultura, mas denuncia a falsa cultura e a distorção da mesma. Ele busca sinalizar do reino de Deus, discernindo e comunicando dentro da cultura a famosa tríade transcendental: o bom, o belo e o verdadeiro. Levando a cultura aos pés de Cristo, faz com que a fé, a esperança e o amor estejam em harmonia com a vida daqueles que testemunham o Reino de Deus e toda a sua realidade. Reino de Deus não é utopia!

Dicas

Se você deseja ir mais profundo ao assunto, segue uma lista de livros para auxiliar.  Boa leitura! 

    • H. Richard Niebuhr – Cristo e Cultura 
    • Michael Horton – O Cristão e a Cultura 
    • D. A. Carson – Cristo & Cultura: Uma releitura
    •  Comissão de Lausanne – O Evangelho e a Cultura
    • Andy Crouch –  Culture Making
    • David Platt – Contracultura