Sempre que chega dezembro percebemos a “atmosfera nataliana” da nossa cultura ocidental. Natal é para nós, uma época onde trocamos presentes, nos reunimos com amigos e celebramos o amor. Tudo por causa do nascimento histórico de um menino: Jesus de Nazaré. Ele é, sem dúvidas, o personagem histórico mais conhecido da humanidade. Judeu descendente da tribo de Judá; seu pai era carpinteiro; Jesus viveu no período que o Império romano dominava a europa, oriente médio e norte da áfrica. Nascido em Belém de Judá a pouco mais de 2000 anos atrás, cresceu em Nazaré de onde vem seu apelido “nazareno”. Jesus é um nome duplamente transliterado: primeiro do grego Iesus e depois do hebraico Yeshua. Apesar de não haver provas concretas sobre a real data do seu nascimento, tradicionalmente a maioria das pessoas tiram o dia 25 de dezembro, no calendário Gregoriano, para se lembrar do nascimento daquele que é o salvador do mundo.
A crença popular nesse homem deixa algumas perguntas às vezes pouco exploradas e respondidas no pensamento de muitos. Salvar o mundo de quê? Pra quê? Por quê Jesus nasceu? Por quê ele teve que vir? Por que um judeu nascido a mais de dois milênios é tão importante a ponto do seu nascimento ser lembrado hoje pelas pessoas mesmo não se sabendo a data precisa desse acontecimento? Tentar responder essas perguntas é um convite a ir fundo na história de Israel e do povo judeu.
Os primeiros a difundirem a fama de Jesus pela terra foram homens que andaram com o próprio Jesus durante seus últimos três anos e meio aqui na terra. Eram chamados pelo próprio Jesus de discípulos e apóstolos (um termo da época que significa enviado). Eles receberam a missão de espalhar as boas novas de salvação que seu Mestre lhes designara. Eles deram a sua vida para difundir a mensagem do Nazareno Jesus, pois eles entendiam quem era esse filho de José e Maria nascido num estábulo, e isso foi o que mudou completamente suas vidas e perspectivas. Eles entendiam, ou melhor, lhes fora revelado que esse homem na verdade era o Messias que haveria de vir.
O termo Messias vem do hebraico Mashíach e significa “Ungido”. Quando traduzido para o grego temos Christós que é de onde vem a palavra “Cristo” e que também significa “O Ungido; O Consagrado”. A figura do Messias dentro da cultura judaica é muito forte e viva por que Ele é endossado e enviado por Yahweh (Deus), O Criador de todas as coisas, o único Deus, O Soberano. O judeu entende que Yahweh fez criação e homem para um propósito perfeito e santo. Porém, algo acontece que quebra a perfeita ordem: o pecado. Mas Yahweh demonstra seu amor e misericórdia se envolvendo num plano de restaurar a ordem original de todas as coisas.
Concluindo; antes de Yeshua (Jesus) nascer, Yahweh (Deus) predisse através de seus profetas e registrou na Tanakh (os escritos hebraicos sagrados; o Antigo Testamento da Bíblia) que enviaria o seu Mashíach (Ungido). O nascimento de Jesus foi anunciado muito antes por Deus e registrado nas Escrituras.
Hoje os profetas antigos estão mortos, mas nós temos a Palavra escrita de Deus e ela testemunha a respeito de Jesus Cristo. Se quisermos conhecer esse homem temos que ir para a Palavra. A Palavra de Deus é o local onde vamos encontrar os mais ricos testemunhos a respeito do homem Jesus. João, seu discípulo, chega a declarar que na verdade Ele é a própria Palavra. Então vamos para as Escrituras!
“Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós.” João 1:14
NO PRINCÍPIO
Gênesis 1 e 2 contam como Deus criou, posicionou e ordenou toda a sua criação e o capítulo 3 relata a respeito da queda do homem. Deus cria o homem a sua imagem e semelhança, o abençoa, o coloca num jardim, tem encontros cotidianos com ele e o homem se rebela contra o seu Criador. A serpente engana homem e mulher e os convence a comerem do fruto que os levaria a morte. Assim o pecado entra no mundo e agora a morte domina sobre a humanidade. Mas Deus desde o princípio revela seu caráter redentivo ao falar de um descendente da mulher. Ele declara a serpente:
“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”. Gênesis 3:15
A promessa é de que do ventre da mulher sairá um que acabará com o poder daquele que influencia o homem a se rebelar contra Deus e pecar. A morte entra no mundo por intermédio de um homem, mas há de nascer outro homem que destruirá a serpente que nos enganou.
O REI
Olhando para as escrituras nós observamos Deus chamar um homem chamado Abraão e o plano de Deus é fazer surgir uma nação específica a partir dele: Israel. O tempo passa e nós vemos profecias a respeito de uma figura que exerça poder e governo não só sobre Israel, mas sobre todas as nações. A promessa de um rei da linhagem judaica começa quando Jacó abençoa seu filho Judá:
“O cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venha aquele a quem ele pertence, e a ele as nações obedecerão.” Gênesis 49:10
Olhando para esse texto podemos entender fatos bem interessantes: Judá teria descendentes com influência de governo e comando e isso passaria de geração em geração até que chegasse um descendente específico na qual pertence o governo das nações. Essa benção que Judá recebe é o início de algumas profecias de um rei que viria.
Davi, o rei mais celebrado que Israel já teve, recebe palavras específicas a respeito dessa realidade:
“Quando a sua vida chegar ao fim e você descansar com os seus antepassados, escolherei um dos seus filhos para sucedê-lo, um fruto do seu próprio corpo, e eu estabelecerei o reino dele. Será ele quem construirá um templo em honra do meu nome, e eu firmarei o trono dele para sempre.” 2 Samuel 7:12-13
Uma forma de entender essa profecia é levando em consideração seus dois aspectos: O seu cumprimento instantâneo e o cumprimento em plenitude. No cumprimento instantâneo nasce Salomão (filho de Davi) e constrói o templo, mas hoje em dia não temos mais os descendentes de Salomão num trono em Israel. A promessa em plenitude fala de um Rei da linhagem de Davi reinando eternamente. Perceba que para alguém reinar eternamente deve ser alguém que não morra e que vença a grande questão da morte na humanidade. Aos poucos as profecias começam a se fundirem.
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isso.” Isaías 9:6-7
Isaías foi um profeta que profetizou das mais variadas formas de como o Messias se manifestaria. A figura de um Rei Ungido enviado da parte de Deus é fortalecida nos corações e na convicção de Israel.
O PROFETA
Profetas em Israel eram pessoas bem peculiares. Quando profetizavam tinham a missão de falar exatamente as palavras de Deus. Eram comunicadores entre os pensamentos de Deus e o seu povo, e normalmente encarnavam a mensagem que carregavam. Sinais e visões endossavam a autoridade divina de suas palavras diante do povo e dos reis. A missão do profeta era transmitir as autênticas palavras de Deus.
Moisés foi um dos, senão o maior, profeta que Israel já teve. Ele escreveu a Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia) e recebeu toda a Lei por inspiração. Muitos sinais e maravilhas acompanhavam Moisés, e isso significava o peso e autoridade de suas palavras e suas ações. A Bíblia relata que ele conversava com Deus face a face (Ex 33:11) e muitas são as suas conversas com o Todo-Poderoso. A sua vida é sem dúvida um exemplo de um legítimo amigo de Deus; um profeta.
Apesar do testemunho de Moisés, o Senhor fala com ele em Deuteronômio sobre um outro profeta:
“O Senhor me disse: “Eles têm razão! Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar.” Deuteronômio 18:17-18
Esse é um poderoso testemunho do Senhor a respeito de um profeta. Vejamos Isaías em mais uma profecia messiânica:
“O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes,” Isaías 61:1-2
Em Israel, era da certeza de todos que o Messias carregaria as próprias palavras de Deus.
O SACERDOTE
Sacerdotes podem parecer figuras ainda mais peculiares que os profetas. Na visão da maioria, pensa-se em sacerdote como aquela pessoa com roupas religiosas e que faz rituais religiosos. Mas, na verdade o sacerdote é alguém que serve diante de Deus e diante dos homens. Ele é apto para se aproximar de Deus pois o conhece. Em Êxodo 19 quando Israel chega ao Sinai fica claro quando Deus chama seu povo para ser uma nação sacerdotal. Apesar de Israel não corresponder a isso da melhor forma, Deus ainda assim separa uma das tribos (Levi) para carregar a responsabilidade sacerdotal da nação.
Quanto ao Messias e ao sacerdócio, Davi profetiza no Salmo 110 algo que vale a pena nós observarmos:
“O Senhor disse ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés.’ O Senhor jurou e não se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.’” Salmo 110:1,4
Esse é um dos versículos mais enigmáticos da Bíblia. Ele cita um rei-sacerdote chamado Melquisedeque que abençoa a Abraão depois de uma batalha em Gênesis 14:17-20. O salmo fala de um sacerdócio messiânico superior ao de Levi. Outra porção que podemos levar em consideração é João 4. A mulher samaritana diz:
“Nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar… Eu sei que o Messias (chamado Cristo) está para vir. Quando ele vier, explicará tudo para nós.” João 4:20,25
Esses versículos nos mostram a fama de que o Messias iria dar orientação em como se aproximar de Deus e tornar as pessoas aptas a servirem o Altíssimo.
“Ele construirá o templo do Senhor, será revestido de majestade e se assentará em seu trono para governar. Ele será sacerdote no trono. E haverá harmonia entre os dois.” Zacarias 6:13
Essa profecia de Zacarias é mais um anúncio de um rei-sacerdote governando.
O CUMPRIMENTO DAS ESCRITURAS
Os fatos que cercam o nascimento e a vida Jesus representam o cumprimento de muitas profecias no antigo testamento. Alguns dos principais exemplos são:
- O seu nascimento de uma virgem:
“Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.” Isaías 7:14
- O seu nascimento em Belém de Judá:
“Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos.” Miquéias 5:2
“Contudo, não haverá mais escuridão para os que estavam aflitos. No passado ele humilhou a terra de Zebulom e de Naftali, mas no futuro honrará a Galiléia dos gentios, o caminho do mar, junto ao Jordão. O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz.” Isaías 9:1,2
- A sua obra redentora sobre os nosso pecados:
“Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados.” Isaías 53:5
JESUS, O REI-SACERDOTE-PROFETA
Citamos apenas algumas das centenas de profecias a respeito do Messias nas Escrituras. O trabalho dos discípulos de Jesus era, como testemunhas oculares, propagar a mensagem que o seu Mestre lhes tinha designado pois eles sabiam que Jesus é o cumprimento de cada palavra falada por Deus por intermédio dos profetas. Jesus é o Messias Rei-Sacerdote-Profeta. Ele é Rei e reinará para sempre pois vive eternamente. Ele é sacerdote pois serve diante de Deus, intercede por nós e nos aproxima dEle. Ele é profeta pois transmite as palavras de Deus, ou melhor, Ele é a própria Palavra encarnada (João 1:14).
O evangelho de Mateus no capítulo 16:13-20 nos relata quando Jesus pergunta aos seus discípulos a respeito de quem eles diziam quem ele era. Então Pedro o responde:
“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Mateus 16:16
Essa declaração de Pedro é, nas palavras do próprio Jesus, algo dado unicamente pelo próprio Deus. Jesus, completamente homem, completamente Deus, o Messias judeu, o Rei-Sacerdote-Profeta. Jesus é o maior homem que já nasceu nesse mundo e ainda assim se fez servo, humilhou-se e morreu pelos homens para que nEle fosse derrotado o pecado que nos leva a morte. Ele ressucitou dentre os mortos para demonstrar que a morte não tem poder sobre ele e que nEle nós temos a vida eterna.
Diante disso, comemorar apenas um dia de natal parece algo pequeno em comparação com o que recebemos através de Jesus. É necessária uma vida direcionada a conhecê-Lo para verdadeiramente usufruir do profundo amor que Ele derramou sobre nós. A minha oração é que a revelação divina de Jesus alcance em profundidade as vidas e que amor e esperança abundem nos corações.
“Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor.” Lucas 2:14