Há quem goste de histórias de perdão. Cresci em uma família cristã e desde pequena fui inundada pelas Palavras da Bíblia. Uma de minhas narrativas preferidas foi contada por Jesus após Pedro perguntar-lhe quantas vezes se deveria perdoar. Na versão, “A Mensagem” de, Eugene Peterson, lê-se:
“O reino de Deus é como um rei que decide acertar contas com seus serviçais. Trouxeram à sua presença um servo que lhe devia o equivalente a trezentas toneladas de prata. Ele não podia pagar uma dívida tão vultosa. Então, ordenou que o homem, com a esposa, filhos e bens, fosse leiloado no mercado de escravos. “O infeliz lançou-se aos pés do rei e implorou: ‘Dá-me uma chance, e pagarei tudo’. Sensibilizado com o pedido, o rei deixou-o ir, cancelando a dívida.
“O servo perdoado mal havia saído da sala quando se encontrou com um companheiro que lhe devia apenas uma moeda de prata. Furioso, agarrou-lhe pelo pescoço e ordenou: ‘Pague-me! Agora!’. “O pobre homem lançou-se aos pés dele e implorou: ‘Dê-me uma chance e pagarei tudo’. Mas o outro continuou irredutível. Mandou-o para a cadeia, com ordem de ser solto só depois de pagar a dívida. Alguns servos que presenciaram a cena ficaram revoltados e relataram o fato ao rei. “O rei mandou chamar o servo de volta e disse: ‘Você é mau-caráter! Perdoei sua dívida quando você implorou por misericórdia. Não deveria você também ser misericordioso?’ O rei estava furioso e mandou que aquele servo ficasse na prisão até pagar toda a dívida. Meu Pai, no céu, fará exatamente a mesma coisa com aquele que não perdoar incondicionalmente qualquer um que peça misericórdia.” Mateus 18:23-35
Perdoando para ser perdoado
“e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mateus 6:12)
Com a parábola do credor incompassivo, Jesus ensinou o valor que o Pai dá ao ato de perdoar. E apesar de ser esse um princípio básico para também se obter perdão, é importante reconhecer que nem sempre será fácil. Saiba, porém, que o Senhor nos dá graça para fazê-lo.
Ainda na infância, passei por um momento muito traumático. Nessa ocasião, fui extremamente desafiada a liberar perdão a um agressor. Não o fiz por mera obrigação cristã e nem por me sentir pressionada por homem algum. Naquele episódio, a graça de Deus foi tão superabundante que me fez pensar no sacrifício de Cruz de Jesus, que pagou um alto preço pelos meus pecados. Mas também da mesma forma, pagou um alto preço pelo meu ofensor. Não foi uma questão de sentimento, mas de ação prática diante da entrega de Cristo.
Porém, a verdade é que há situações e temporadas em que meu coração sente muita dificuldade em perdoar aqueles que me ofendem. Principalmente quando tenho expectativas sobre eles e me sinto injustiçada. Geralmente isso se refere a pessoas mais próximas. Nestes momentos, em que o relacionamento está desgastado, pode haver ressentimento e acúmulos emocionais e muita dificuldade em perdoar.
É bom nos lembrarmos o que está escrito em Efésios:
Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo. Efésios 4:26,27
É natural sentirmos raiva e ira diante das ofensas. É uma resposta a ameaças e sentimento de injustiça, mas isso não nos dá desculpas para pecarmos dando lugar ao diabo. Quando o coração está cheio de amor e da benignidade de Cristo fica mais fácil estender graça aos que nos ferem. Mas quando estamos frios e provavelmente vivendo na carne é mais difícil liberar perdão.
Perdoar não é submeter-se ao caos
O perdão cura a alma combatendo a raiz da amargura que perturba e contamina o coração. Porém, Jesus nos chamou para vivermos de forma digna. Não podemos confundir perdão com a submissão a uma vida de dependência emocional, relacionamentos abusivos e tóxicos em nome de ser isso um ato de fé e saber “perdoar”. É preciso discernimento e coragem para se opor a agressões e relacionamentos que quebrem os princípios do Amor. Não o amor falado pelos homens, mas aquele que tem por base o que diz a Palavra de Deus.
O perdão é uma decisão sim, mas há um custo relacionado a ele. Não pode ser algo superficial e às vezes é preciso de um processo, nem sempre terá que ser liberado de forma instantânea. Há tantas situações únicas e se você é alguém que passa por esses dilemas, é importante aconselhamento. Perdoar é imprescindível para que sejamos verdadeiramente livres, mas isto não significa manter relacionamentos doentios. Lembre-se:
“Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.” Romanos 12:18
Algumas pessoas não querem paz e nem perdão. Elas precisam ser respeitadas nessa escolha. Independente do outro, não alimente mágoas e ressentimentos.
O perdão cura
Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Colossenses 3:12-15
O rancor, mágoas e ressentimentos pesam o coração humano e cristaliza a alma. Mas o perdão a eleva. Perdoar é ser livre. Quando não perdoamos, nós nos mantemos presos ao outro e ele está sempre presente mesmo estando longe, nos fazendo lembrar das feridas que carregamos.
Jesus perdoou Pedro antes mesmo dele o negar, pois sabia que seria traído pelos seus amigos. E ao subir a Cruz, o Senhor orou pelos seus ofensores. Este é o modelo de Deus: “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.” (Lucas 23:34).
Outra história radical sobre perdão é a história de Estevão, que ao ser apedrejado pediu em favor dos seus assassinos. Ele seguiu o exemplo de Jesus.
Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”.
Então caiu de joelhos e bradou: “Senhor, não os consideres culpados deste pecado”. E, dizendo isso, adormeceu. Atos 7:59-60
Oração:
Jesus, reconhecemos que nem sempre será fácil perdoar aqueles que nos ofendem. Libere sobre nós a sua graça para nos posicionarmos como o Senhor. Queremos orar até mesmo pelos nossos inimigos, pois é isso que nos ensina através da tua Palavra. Desejamos ser como tu, mas não conseguiremos fazer isso sem que teu Espírito. Nos ajude em nossas fraquezas. E que a mesma medida de graça que nos alcançou nos seja dada para perdoarmos aqueles que nos machucam. Em teu nome, nós oramos. Amém!
Você acredita que possa existir uma medida para o perdão? Leia mais em nosso blog!
Este post tem um comentário
É natural sentirmos raiva e ira diante das ofensas. É uma resposta a ameaças e sentimento de injustiça . Excelente texto. Eu amei 👏🏻👏🏻🤩.