O que vem a sua mente quando você lê a palavra adoração no título desse texto? Músicas cristãs, um momento da liturgia do culto, práticas de vida cristã, enfim, inúmeras coisas remetem à adoração. Mas hoje quero ressaltar um aspecto da adoração, que talvez pouco lembramos. O seu papel em nossa santificação. Grave esse princípio: você se torna semelhante ao que adora.
O QUE É SANTIFICAÇÃO?
Deixe-me tirar algumas linhas para definirmos a santificação. A vida cristã se inicia na salvação – somos convencidos da necessidade de uma salvador e temos os olhos abertos para a verdade que Cristo é quem pode nos salvar. Logo em seguida somos justificados, esse é o momento que a obra da cruz paga o escrito de dívida que tínhamos com Deus e somos aceitos por Ele na perspectiva do que nos tornaremos. A santificação é o meio do processo da jornada cristã, a maior parte do que conhecemos, enquanto estamos nessa terra e nesse corpo lutamos com a incompletude da obra. Mas sabemos que ela será completa quando finalmente formos glorificados (Fl 1:6).
De maneira rápida a santificação é o processo de nos tornarmos o que fomos criados para ser – segundo o apóstolo Paulo em Romanos: Deus […] os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho[…]” (Rm 8:29). Se pudesse definir santificação em uma frase seria: Santificação é o nosso processo de nos tornamos semelhantes a Jesus.
A INIMIGA DA ADORAÇÃO
Na história do povo de Israel é possível ver uma advertência masiva de Deus ao seu povo a respeito da idolatria. Os ídolos insistiam em se colocar entre Deus e o seu povo e o Senhor repudiava isso. Não é sábio olharmos para essas histórias e exortações autoconfiantes acreditando que a tendência idólatra da humanidade ficou para trás. Pelo contrário, a maldade e iniquidade só pioraram e vale pensar sobre nossa capacidade atualizada de produzir ídolos.
O grande e primeiro mandamento carrega uma ordem que o precede:
“‘Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.’ Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças.” (Dt 6:4,5)
Nosso passo em direção a Deus é também rejeitar os ídolos do coração e da cultura. Não há adoração e amor a Deus com um coração e afetos desintegrados. Certamente Ele não divide sua glória e seu trono. Exclusividade – esse é o seu desejo sobre o coração do homem.
O DEUS CIUMENTO
A Bíblia o chama de Deus zeloso e ciumento – em algumas traduções (Ex 20.5, 34.14; Dt 4.24, 5.9). Mas o ciúme de Deus é diferente do ciúme do homem. Deus é ciumento sem ser possessivo, egoísta ou abusivo. Vamos diferenciá-los. O ciúme do homem é egoísta, ele pede exclusividade para seu próprio benefício, não priorizando o bem do outro. Em contrapartida, o ciúme de Deus é amor puro, ele define a exclusividade como padrão porque é nosso bem maior pertencer a Ele. Primordialmente somos desenhados para essa vida com o Criador, ou seja, seu ciúme se dedica a nos levar para nosso lugar original: Ele mesmo.
“Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes?” Tiago 4:5
“[…]pois o Senhor, o seu Deus, que está no meio de vocês, é Deus zeloso.” Deuteronômio 6:15
POR QUE DEUS ODEIA A IDOLATRIA?
Por que Deus odeia tanto a idolatria? (Dt7:25) Com certeza, não é por algum motivo egoico. Ele não está com o ego ferido por não ser o centro das atenções. Primeiramente: Ele é o que é, isso basta. Ele é o Deus verdadeiro, nunca criado, eterno em todas as direções do tempo. Ele deve ser adorado porque Ele É o que É.
Porém, um segundo motivo é o clímax desse texto: quando o homem adora outras coisas que não são o Deus verdadeiro ele se torna semelhante a aberração, que é um deus criado pelo próprio homem. Nos tornamos iguais aquilo que adoramos.
“Os ídolos deles, de prata e ouro, são feitos por mãos humanas. Têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não podem ver; ouvidos, mas não podem ouvir, nariz, mas não podem sentir cheiro; têm mãos, mas nada podem apalpar, pés, mas não podem andar; nem emitem som algum com a garganta. Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles confiam.” Salmos 115:4-8
A IDOLATRIA É DISFUNCIONAL
Um dos motivos que fazem da idolatria um pecado tão repugnante aos olhos do Deus verdadeiro, é que afasta a sua criação do molde original para qual foi criada. Por exemplo, de maneira visual imagine uma luva, qual a sua função? Sua forma foi feita para quê? Para ser usadas nas mãos, certo? Agora imagine que alguém tenta usar as luvas nos pés como meia, ou na cabeça como gorro. Algumas tensões acontecerão, o encaixe não será ideal e a estrutura será forçada até mesmo causar danos.
Assim somos nós na idolatria. Ela é agressiva e disfuncional ao nosso formato original. Nossa estrutura sofre a tensão, pode machucar e não faz sentido. Tal como uma luva criada para se conformar a forma de uma mão, nós somos criados para Deus. E não encontraremos sentido e pertencimento longe dele.
POR FIM
É por causa desse princípio que a adoração coopera com a santificação. Adoramos o que contemplamos e nos tornamos o que adoramos. Quer ser mais parecido com Jesus? Contemple-o. A contemplação gera a resposta apropriada: adoração. A adoração é responder a tudo o que Deus é com tudo o que somos.