Continuando nossa homenagem às grandes mulheres da história da Igreja, hoje vamos falar de Catarina de Bora (ou Katharina von Bora). Ela nos inspira com uma vida de doação à causa da Reforma Protestante, ao lado de seu marido Lutero. Surpreendentemente, Catarina não foi uma grande pregadora ou teóloga, nem escreveu sermões notórios ou grandes livros. Entretanto, a sua vida deixou muitas marcas naqueles que tiveram o privilégio de conhecê-la. Além disso, segundo a historiadora Ruth Tucker, ela é a figura mais importante da Reforma Protestante depois de Lutero. Veja bem, a sua vida extraordinária é grandiosa demais para apenas um post. Por isso, vamos nos ater às principais coisas que fazem de Catarina uma mulher inspiradora e admirável.
A Reforma Protestante
Em 1517, o monge católico Martinho Lutero marcou o início da Reforma Protestante ao pregar as suas 95 teses refutando os ensinamentos e práticas da Igreja Católica. A partir daquele dia, Lutero liderou muitos com seus sermões e influenciou toda a Europa com suas teses.
Enquanto isso, em um convento no interior da Alemanha, algumas freiras, clandestinamente, leram os escritos de Lutero de dentro do convento. Catarina era uma delas, uma jovem de 18 anos, freira beneditina desde os 16. Ela se encontrou nas explicações de Lutero sobre a justificação pela fé. A partir daquele momento, ela e um grupo de outras onze freiras tiveram convicção de que a vida do convento não era mais para elas. Suas famílias não viram a ideia com bons olhos e não permitiram a saída das moças. Eventualmente, movido pelas cartas das freiras, Lutero e outros reformadores se juntaram para tirá-las do convento.
Catarina de Bora foge do convento
Catarina, agora com 19 anos, e as outras onze freiras conseguiram fugir entre os barris de peixes de uma carruagem com a ajuda do amigo de Lutero, Lucas Cranach. Chegando à Wittenberg, Lutero as ajudou a encontrar moradias, empregos e maridos. Anos depois, todas já estavam acomodadas ou arranjadas de alguma forma, menos Catarina. Em Wittenberg, Lutero chegou a apresentá-la a dois pretendentes, um estudante e outro pastor. Infelizmente, o pai do estudante não aprovou a união, e quanto ao pastor, a própria Catarina não demonstrou interesse.
Apesar da relutância de Catarina de se casar com alguém, e do próprio Lutero de cortejar Catarina, eles se casam em 1525. Segundo historiadores, o casamento não foi necessariamente um caso de romance arrebatador, mas a escolha de duas pessoas que se estimavam muito. Na verdade, foi até controverso na época, pois Lutero era uma figura pública e os dois eram ex-celibatários, sem contar a diferença de idade (Lutero, 42 e Catarina, 26).
A vida de Catarina de Bora e Lutero
Em seu casamento, Catarina entendia a importância do trabalho de Lutero e fez de tudo para que ele pudesse se dedicar exclusivamente aos seus estudos e sermões. Os dois prezavam pela família como a maior expressão da Criação e das Escrituras. Para os dois, os valores familiares eram o centro da Reforma.
Eles tiveram ao todo 6 filhos e sua casa (no Mosteiro Negro, antigo convento de monges de Wittenberg) vivia cheia de visitas. Eles faziam questão de receber e acomodar amigos, família e estranhos em necessidade. Você já pode imaginar como a rotina de Catarina era puxada. Além de cuidar do seu lar, da criação de seus filhos, e hospedar qualquer pessoa que estivesse precisando, ela era uma grande administradora.
Catarina era responsável por cuidar do Mosteiro, das plantações e do gado. Além disso, ela também era conhecida por ser uma ótima cervejeira. Sua habilidade de lidar com ervas medicinais, aprendida no convento, fazia dela uma ótima enfermeira também. Ela era visionária, tendo a ideia de comprar terrenos, gerenciar fazendas e expandir o espaço para um negócio de hotelaria. Sua rotina incansável mostra o quanto Catarina era diligente e excelente em tudo que fazia.
Uma mulher que conheceu o sofrimento
Fora os assuntos da vida prática, Catarina também precisou lidar com a perda de duas filhas: uma recém-nascida e uma com 13 anos. Do mesmo modo, também precisou auxiliar o marido em seus anos obscuros. Nos primeiros anos de casado, Lutero estava deprimido e abatido. Diante disso, Catarina era a sua maior encorajadora e auxiliadora.
Não há registros de um interesse por parte de Catarina em se debruçar nos estudos teológicos. Porém, diante dos fatos de sua vida, podemos imaginar que ela deveria batalhar com a ansiedade dos afazeres e ocupações e o peso da responsabilidade de ser a “primeira-dama” da Reforma e administradora financeira do seu lar. Ainda assim, demonstrava ser corajosa e muito forte. Inclusive, o próprio Lutero se inspirava nela para continuar o que iniciou. Sua força é realmente admirável, porque depois da morte de Lutero Catarina precisou batalhar na justiça para ter direito a tudo o que construiu com seu marido. Infelizmente, naquela época, a viúva não podia ser responsável pela administração dos bens do marido.
O legado de Catarina
Mesmo não tendo nenhum registro teológico da sua parte, podemos perceber que o coração de Catarina era devoto. Não só a Lutero e à causa, mas primeiramente a Jesus Cristo. Além disso, em sua vida vemos a verdadeira expressão da mulher de Provérbios 31. Ou seja, ela entendeu a missão que lhe foi proposta e o que seria preciso fazer para viabilizar isso. Diante das circunstâncias, ela fez tudo o que estava ao seu alcance para permitir que Lutero exercesse a sua vocação, para que a sua família tivesse uma vida digna e para abençoar generosamente todos os que batiam à sua porta.
Por fim, a vida de Catarina de Bora nos constrange a sermos diligentes com aquilo que o Senhor depositou em nossas mãos. Perceba que sua fonte de vida não era seu marido, seu casamento ou seus negócios, mas a fé que ela tinha em Jesus Cristo. A mesma fé que a arrebatou no convento e a fez largar tudo para se dedicar à causa da Reforma Protestante. Com certeza, sem a sua fé Catarina não teria a força, o vigor e a coragem que tinha para sustentar uma vida tão atarefada.
Sem escrever nenhum tratado teológico, Catarina de Bora contribuiu para a Reforma ao testemunhar Jesus na forma em que conduzia seu casamento, sua família e seus negócios. De fato, podemos aprender com ela que é possível glorificar a Cristo mesmo em meio à uma vida privada, atarefada e familiar.