Viver a unidade no corpo de Cristo é um enorme desafio para nossa carne. A definição de unidade é confundida, com certa frequência, com unanimidade. Nenhuma palavra poderia estar mais distante do verdadeiro sentido de unidade do que unanimidade, já que a verdadeira unidade é experimentada na diversidade.
Uma sinfonia seria um belo exemplo do que a unidade produz. Sinfonia significa: todos os sons juntos. A beleza da diversidade dos instrumentos, que unidos produzem sons mesclados e complementares, é o que deveríamos gerar quando nos reunimos.
Nosso maestro, o Espírito Santo, é quem sabe como reger essa orquestra. Ele concedeu os dons a cada um e equipou-nos com características únicas. Quando conectada a outros, a peculiaridade de nossa existência, que é limitada mas insubstituível, produz beleza.
Erramos quando pretendemos ocupar papéis que não são nossos. Nosso lugar foi previamente desenhado pelo grande Regente. É igualmente errado assumir que os que nos rodeiam deveriam nos imitar. Pensar como pensamos não deve ser pré-requisito de aceitação. É a pluralidade a responsável pela harmonia, mas tropeçamos nela quando ignoramos nossa identidade e a do outro. O caos se instala quando a esfera de ação não é respeitada e conhecida.
A afinação dos instrumentos que compõem uma orquestra é determinante para que a harmonia aconteça. O texto de provérbios nos garante que somos afinados uns pelos outros (Pv. 27.17). É o convívio com as diferenças que nos molda e nos deixa mais parecidos com nosso Mestre, extraindo de nós um som cada vez mais puro. Nossa tendência, no entanto, é buscar zonas de conforto, onde nossa heterogeneidade não seja exposta e confrontada. Por isso, com mais facilidade subtraímos aquilo que não codificamos, ao invés de adicionarmos as diferenças que nos complementam.
Esquecemos, no entanto, que a melodia só ocorre quando outros sons são agregados ao nosso som. Os solos fazem parte da partitura, mas eles só atingem seu ápice quando antecedidos e sucedidos por outros instrumentos da orquestra.
Nossos olhos precisam estar postos no Maestro, Ele conhece a hora certa em que nosso instrumento deve ser agregado ao grupo. A entrada no tempo errado ou a permanência excessiva pode comprometer a beleza do espetáculo. Jesus sabia que extrairíamos aplausos entusiasmados da plateia quando aprendêssemos o valor da unidade. Não é à toa que Ele orou:
“E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim.” Jo.17.20-23
Jesus não só pede ao Pai que gere unidade entre nós, como eleva-a ao padrão do relacionamento que a Trindade vive entre si. Ao sacrificarmos nossa vontade em favor do outro em nome da unidade, alinhamos nosso coração com o de Deus. Essa conduta agrada ao coração do Pai e está presente na vida do Filho.
Gosto do texto de Francisco de Assis que diz: “Pregue o evangelho todos os dias, se necessário, use palavras.” A unidade é um aspecto da pregação do evangelho sem palavras a que referiu-se Francisco de Assis. Ela fala mais alto do que qualquer discurso porque nos deixa parecidos com Jesus. Só em Jesus isso é possível, por isso, precisamos da intervenção do Espírito Santo diariamente em nossa jornada para que nossa individualidade conceda lugar à coletividade. Que os sons que emitimos estejam em harmonia com os sons dos demais e que o espetáculo glorifique ao Pai.