Ninguém em sã consciência escolheria manter um local vazio onde não se pode colocar nada dentro. Isso é totalmente contra cultural, certo?! Nós somos legítimos consumidores de espaço e tempo. Quem nunca ficou em dúvida na hora de comprar um smartphone sobre quanto de memória ele deve ter? E como achar tempo na nossa rotina pra encaixarmos aquele compromisso de última hora? A verdade é que não ter espaço na agenda chega a ser um status de Pessoa Importante: “Ela é tão importante que quase não tem tempo livre”, pensamos. O vazio parece ser uma das coisas menos requisitadas hoje em dia. Nós só procuramos o vazio quando queremos espaço para preencher, tempo para mais coisas, memória para mais fotos, etc. Perdemos o vislumbre e a essência do vazio.
Deus valoriza o vazio
“Ali virei a ti e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do testemunho, falarei contigo a respeito de tudo o que eu te ordenar para os israelitas.” (Êxodo 25:22)
O ponto central aqui é que Deus valoriza o vazio embora a modernidade abuse dele. Quando, por exemplo, olhamos para a Arca da Aliança dos israelitas nós percebemos uma curiosa arquitetura. O Senhor ordena a construção de toda uma estrutura para que ele venha se manifestar: “salas”, móveis, utensílios, sacerdotes, etc. Mas o principal é que ele se manifestaria naquilo que está em cima do propiciatório e entre os dois querubins da arca. Entretanto, o que havia entre essas duas figuras esculpidas de ouro puro para que o próprio Senhor se manifestasse e dali falasse? Pode apostar, não havia nada ali. Ele falava a partir do vazio. Não estou dizendo que Deus não pode falar de outras formas. Mas no vazio só Ele é capaz de falar. Somente a voz dEle é ouvida quando não há outras vozes.
Desocupando o espaço
“Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, […]” (Mateus 6:25)
Jesus em seu sermão do monte nos faz um sério alerta: “Não andeis preocupados (ansiosos) quanto à vida”. Até aqui eu entendo a necessidade de se ocupar o espaço vazio, mas Jesus fala de um sentimento de pré-ocupação. Bem, o que seria uma pré-ocupação? Os próprios versículos seguintes nos ensinam: É ocupar o espaço em sua mente e coração com coisas que você não tem o controle. Aí reside o perigo da ansiedade. Jesus fala que isso é tolice pois não podemos “acrescentar ou diminuir nem uma hora sequer de nossas vidas”. Qual a chave, então, para que a ansiedade e a preocupação não tomem lugar em nós?
Buscando em primeiro lugar
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.” (Mateus 6:33)
Buscar o Reino em primeiro lugar é permitir que a vontade e a soberania de Deus tenham a prioridade no coração. Ao contrário do que se pensa, esse versículo não é um chamado a largar emprego e família e entrar no ministério. Nem muito menos uma fórmula de barganhar com Deus: “Eu o busco para que ele me dê essas coisas”. Este, na verdade, é um convite para que você desocupe o centro do seu coração com as preocupações e ansiedades e faça desse vazio uma busca pela vontade e pela justiça de Deus. Jesus nos chama a abrir espaço no centro do nosso ser, silenciando as vozes e removendo preocupações. Então nesse vazio, nesse lugar silencioso, a Voz que falou no “vazio” do princípio de tudo vem e fala. A Voz que falou no vazio do propiciatório fala em nosso interior.
Oração e Leitura da Palavra
É importante ressaltar que o vazio é um princípio a ser praticado com duas ferramentas: oração e leitura da Palavra. Esses dois elementos nos ajudam a reconhecer a voz de Deus e o mais importante, a obedecê-Lo. Para a mente judaica, ouvir é sinônimo de obedecer. O que Deus fala não é apenas para ser contemplado pelos nosso ouvidos mas para que o nosso coração se mova. É através da Oração e das Escrituras que os nossos ouvidos são sintonizados para ouvir e nosso coração se move para obedecer a Voz que fala no vazio e no silêncio.