Nos dias de hoje é notório as discussões sobre o que é moral, ético e correto. A relativização da verdade e de um padrão de conduta humana têm caotizado a sociedade. Sem falar no bombardeamento de ideais que nem sabemos ao certo de onde procedem. Estamos em meio a uma guerra pela verdade, uma batalha pelo que é justo e reto.
O Salmo 1 é uma porção das escrituras que lida com condutas verdadeiras e também mostra o que é tendencioso a destruição. Ele divide e separa claramente dois modos distintos de se viver, focando no contraste de dois extremos (a vida do justo e a vida do ímpio). E destacando a atenção que o justo dá as escrituras.
Basicamente, nós podemos definir o justo como aquele que pratica a justiça vivendo piedosamente diante de Deus. Enquanto que o ímpio se refere a alguém que vive longe e isolado de Deus; alguém que nega a Sua verdade e justiça. Ao ler o salmo 1 nós temos a impressão de que o salmista está passeando refletindo sobre uma conduta. Quando de repente ele dá um salto até o outro extremo e volta a passear e a refletir sobre a vida deste.
O bem-aventura
“Como é feliz aquele… (Bem-aventurado o homem; JFA)” – Sl 1:1
O salmo começa com uma bem-aventurança. Uma bem-aventurança é uma posição de coração que ao ser tomada pode se desfrutar de comunhão com Deus em alegria e prazer. As escrituras estão cheias dessa expressão e basicamente ela define uma perspectiva de felicidade do ponto de vista de Deus. Se alguém é um bem-aventurado, essa pessoa experimenta de verdadeira felicidade. Lembrando que uma bem-aventurança aponta para uma posição de coração e não apenas uma conduta superficial de “comportamento externo” sem um “compromisso interno”.
O círculo de influência dos ímpios
“…aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores!” – Sl 1:1
O versículo 1 relaciona o bem-aventurado àquele que não se identifica com qualquer influência ímpia. Existe felicidade e alegria disponíveis em não compactuar com o pecado, a impiedade e o escárnio.
Nos chama atenção também como é abordado os meios pelos quais interagimos com o exterior através dos ouvidos, olhos e boca. É preciso estar atento aos nossos:
- Ouvidos: “Seguir o conselho dos ímpios”; Dar ouvidos abrindo o coração para uma instrução com motivação ou conteúdo ímpio. (Pv 17:4)
- Olhos: “Imitar a conduta dos pecadores”; Reproduzir a maneira ímpia e insensata de lidar com as coisas, com as pessoas e com a vida. (Sl 101:3; Sl 119:37)
- Boca: “Se assentar na roda dos zombadores”; Acomodar-se no meio de pessoas que escarneiam, que usam a boca para menosprezar e difamar. Lembre-se, não é o que entra pela boca que nos torna impuros, mas o que sai por ela (Mt 15:11,17,18)
O padrão de felicidade na perspectiva de Deus se conecta com o princípio de não ser influenciado por aqueles que vivem distantes de Deus. É necessário um modo de vida diferente.
Odiando o pecado; amando o pecador
Muitas das vezes nos evangelhos encontramos Jesus em meio a essas pessoas descritas no versículo 1. Elas eram julgadas como pecadoras: publicanos, prostitutas, não judeus, etc. Em Lucas 5:30 vemos Jesus e seus discípulos sendo questionados por fariseus: “Por que vocês comem e bebem com publicanos e ‘pecadores’?” A resposta de Jesus é cheia da sabedoria que estende graça ao ímpio: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes.”
O ensino de Jesus demonstra um coração que deseja alcançar com justiça os que vivem em meio a iniquidade. Lembre-se: Ele ama a justiça e odeia iniquidade e por isso ele foi ungido com o óleo de alegria (Hb 1:9). Jesus sabe o que é ser um bem-aventurado. Ele diz: “Eu não estou em meio aos doentes para ser contaminado, eu estou no meio deles porque eu posso curá-los”. De maneira alguma ele estava se “misturando”. Ao contrário de ser influenciado pela iniquidade ele influenciava em justiça motivado por alcançar em graça os ímpios.
Ao mesmo tempo que somos chamados a não estar em conformidade com a impiedade também somos convocados a ser “sal e luz” (Mt 5:13-16). E a influenciar por meio da justiça este mundo. A verdade que carregamos nos dá autoridade para sermos uma voz (às vezes até mesmo sem palavras) em nossos círculos de pessoas de rotina. Se essa verdade em nós é fundamentada na Palavra de Deus, então contamos com autoridade eterna diante dos desafios deste século.
Prazer pelas escrituras
“Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.” – Sl 1:2
Voltar o coração para aprender das escrituras deveria trazer contentamento a alma. Sempre levo uma frase comigo: “A Bíblia não é chata, eu sou chato.” O prazer pelas escrituras começa quando conseguimos enxergar que ela é viva. Como se a medida que a lemos percebemos que ela também está nos lendo. A medida que temos coisas a dizer sobre ela conseguimos ouvir que ela tem coisas a dizer sobre nós. É uma interação viva. Isso é meditar nas escrituras. Meditar não é pensar exaustivamente sobre conceitos e idéias. Isso se parece mais com filosofar, mas o meditar está relacionado a ser aberto ao que aquelas palavras provocam em você.
A meditação nas Escrituras permitem que os ensinamentos de Deus alcancem a profundidade do nosso ser e isso traz deleite. O homem que “medita na lei do Senhor” encontra valor nas escrituras e estas lhe satisfazem além do conhecimento intelectual. Ele literalmente extrai dos ensinamentos escritos por Deus verdadeira vida.
O termo “medita de dia e de noite” é literalmente viver ruminando as escrituras independente do horário e da circunstância. Muitas das vezes, nos momentos de maiores pressões é que experimentamos o poder da palavra sendo liberado. É quando não conseguimos produzir nada por nossa força que então nos damos conta que ela simplesmente “é viva e eficaz”.
A árvore
“É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!” – Sl 1:3
Sobretudo, eu gosto de parafrasear esse verso da seguinte maneira: “É como alguém que permanece num lugar onde extrai abundantemente conhecimento que traz vida. Frutificando na estação devida, não definhando espiritualmente e se desenvolvendo em tudo.” Em suma, o homem que medita nas escrituras é comparado a uma árvore que escolheu um bom lugar para estender suas raízes. Ele deposita energia no sentido de inclinar o coração a voltar-se para as escrituras. De maneira que consegue absorver vida assim como árvore absorve nutrientes e frutifica.
Portanto, nós podemos fazer uma conexão do versículo 3 e suas verdades com os mandamentos de Jesus em João 15 sobre permanecer na videira verdadeira. Sem dúvida, meditar na Palavra é permanecer em Jesus; é permanecer na Palavra viva, naquele que é o Verbo em carne.